Adalgisa tem 18 anos, uma família parceira e um ídolo. Seis anos atrás conheceu pela internet a música de José Tiago Sabino Pereira, o Projota. Desde então, o foco, a força e a fé do rapper paulistano de 31 anos passaram a ser também os seus. Apesar das letras hoje mais românticas e das multiparcerias que nesse período divulgaram muito mais a carreira do cantor, é nas canções sobre a vontade de crescer na vida, evoluir e de mudar o mundo, o bem mais frágil e precioso quando se tem 18 anos, que reside grande parte da admiração da menina de cabelos e olhos negros pelo que hoje é um dos nomes mais famosos de uma brilhante geração do rap nacional.

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No ano passado a moradora do bairro Itoupava Central já havia visto uma performance do rapper em Balneário Camboriú. A foto contra-plongée dele empunhando o microfone no palco virou fundo de tela do celular que nunca sai da mão. Na noite de sábado, Adalgisa de Paula Matos de Almeida, a irmã e a mãe, de uma cumplicidade capaz de decorar as letras do ídolo alheio e encarar filas de camarim, encontrou Projota mais de perto.

Foi rápido, uma entre as poucas dúzias de fotos que o cantor de “Ela só quer paz” tirou antes do show com vencedores de uma promoção no Dasa Festival 2017, no Parque Vila Germânica, em Blumenau, que reuniu também as bandas Santo Graau, Oh Jah Jah, Raimundos e Dazaranha. Mas o suficiente para ela sair com olhos marejados de emoção, com o ar rarefeito impedindo a fala, as mãos esticadas em forma de castelo sobre a boca incrédula.

No embalo da batida e das letras românticas

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Adalgisa foi uma das milhares de pessoas que ocuparam o setor 3 do Parque Vila Germânica na noite do Dasa Festival. Às 23h, quando o rapper que no passado desceu a ladeira subiu as escadas do palco para ver o que tinha por lá, avistou um mar de fãs que não pararam de agitar os braços na batida dos graves e no ritmo do freestyle. A principal atração da noite chegou de óculos escuros e jaqueta de camuflagem militar. De fato, não parou de recrutar olhares fixos que vinham desde a pista até o setor vip open bar, o topo da pirâmide social do rolê. Exatamente como a música dele tem alcançado gente de todos os públicos.

As letras românticas entre bumbos e claps, que já fizeram o próprio Projota se definir como um híbrido de Djavan e Mano Brown, fazem especial sucesso com o público feminino, mas também atraem – e agradam – barbados de moletons e camisetas de estampas grandes que tracejam personalidade.

Na poética “Ela só quer paz”, a bela letra que talvez mais tenha rendido legendas de perfil e Instagram, todos cantaram em uma só voz. Assim foi também nos sucessos mais recentes “Ó Meu Deus” e “Elas Gostam Assim”. Com a reconfortante “Mulher”, música preferida de Adalgisa, a propósito, o público se despediu de Projota, que nessa noite fez não uma, mas uma legião de mulheres deixarem todos os problemas para amanhã.

Dasa Festival teve diversidade musical, lojinhas e manobras de skate

O show de Projota foi apenas um capítulo do Dasa Festival 2017. O evento teve a proposta de reunir tribos como a do reggae, do rap e do rock, gêneros que costumam encontrar guarida no Das Antiga Blumenau, casa que comemorou aniversário com a organização dos shows. E reuniu. Depois de uma abertura com DJs da região e com a Santo Graau, a prodígia e promissora Oh Jah Jah, de Blumenau, subiu ao palco para agitar seu expressivo e crescente público fiel da região com músicas autorais de qualidade como ¿Cola na Minha¿ e já na boca do público e covers bem selecionados de reggae. Tudo isso em meio a um baldinho, uma bebida no copo de acrílico, um flerte com o boy ou a cocota e um clima meio de balada, meio de festival.

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Depois do êxtase de Projota, Digão, Canisso e companhia subiram ao palco com o Raimundos, maior nome do rock brasileiro na segunda metade dos anos 1990. Os clássicos “das antigas” – com o perdão do gracejo – mantiveram o público a milhão. Gente como o casal de publicitários Fernando Rodrigues Damaceno, 27, e Ana Caroline Tomasi, 23, de Indaial. Com camisas de álbuns da banda brasiliense, os dois chegaram cedo para garantir bom lugar em um show que roda punk é praticamente obrigação.

– Já fomos a três shows deles e nós dois gostamos muito da banda, ouvimos sempre juntos. Quando soubemos que estariam em Blumenau não pensamos duas vezes – contou Fernando.

Da abertura com “Puteiro em João Pessoa” até as unânimes “Mulher de Fases” e “A Mais Pedida”, ninguém ficou indiferente à pegada das guitarras e letras irreverentes do Raimundos. O fim da noite foi reservado à leveza e à riqueza instrumental dos catarinenses do Dazaranha.

O clima era meio de balada rock, meio de festival porque, além da estrutura de palco e diversidade de bandas, havia espaço para food trucks e lojinhas que cairiam nas graças do público em um evento como uma feirinha da Servidão. No fundo do setor 3, em uma área mais iluminada, tinha espaço para slack line e um paredão de escalada em que Iran Lopes se arriscou relembrando os tempos que vencia a altura de torres de telefonia no trabalho.

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À esquerda da saída, perto do concorrido fumódromo, uma pista de skate uniu cerca de 10 skatistas convidados que aproveitaram o som de qualidade e a boa companhia para curtir algumas manobrinhas. George Gonçalves, 47 anos, 35 deles dedicados às voltas sobre o shape, responsável pela Uber, não o aplicativo de caronas pagas, mas a entidade União Blumenauense de Esportes Radicais, não deixou de aproveitar o rolê.

– Esse evento que une todas as tribos na Califórnia acontece todas as semanas e aqui está crescendo. Ajuda a difundir o skate, fazer com que o esporte cresça e é importante para integrar todos esses públicos – destacou George.

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