Garantir a dignidade é o principal objetivo de projetos sociais que visam combater a pobreza menstrual em Joinville. Através da arrecadação de absorventes, as ações buscam auxiliar meninas e mulheres cisgênero, homens trans e pessoas não binárias que deixam de seguir suas rotinas diárias mensalmente pelo simples e natural ato de menstruar.

Continua depois da publicidade

> Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp

Elis da Nhaia é empresária e coordena a iniciativa MenstruAção, que atende cerca de 290 pessoas na cidade. Ela, que estuda a causa há dois anos, conta que ficou assustada com o impacto que a falta desses itens pode causar na vida das pessoas.

Com base em uma pesquisa recente realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), Elis cita que, no país, uma em cada quatro mulheres já faltou à escola por não poder comprar absorventes. Além disso, 48% delas tentaram esconder que o motivo foi a falta do produto e acreditam que o fato que as impossibilita de ir às aulas impactou negativamente no rendimento escolar.

– A pobreza menstrual inibe as pessoas de olharem para si, de cuidarem do próprio corpo. E viver nessa situação que não se tem um absorvente pra passar esse período é viver sem dignidade. As meninas perdem até 26% das aulas em relação aos meninos – destaca a empresária.

Continua depois da publicidade

Situação em Joinville

Em Joinville não há um mapeamento específico que determine quantas pessoas vivem em situação de pobreza menstrual. No entanto, Elis menciona que, da população de 21 mil que vivem em extrema pobreza na cidade, 12,6 mil delas possuem útero. Com uma renda mensal de R$ 89, o absorvente acaba se tornando um produto de luxo quando as prioridades acabam sendo outras.

– Uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida e utiliza, em média, vinte absorventes por ciclo. Considerando estes números, estima-se que sejam usados dez mil absorventes durante toda a idade fértil. Se considerarmos um custo médio de R$ 0,60 por absorvente, chegamos ao valor alarmante de R$ 6 mil. Ou seja, menstruar custa caro e muitas mulheres não têm acesso ao absorvente adequado – argumenta a empresária.

Algumas dessas pessoas, inclusive, não sofrem apenas com a falta do absorvente, mas também de outros recursos considerados essenciais para a subsistência, como um teto sobre a cabeça e acesso à higiene.

– Moradoras de rua amarram bolsas na cintura. Elas não conseguem olhar pra si, não conseguem enxergar a menstruação como algo bom, que estão saudáveis. A menstruação vem para nos dizer isso, mês a mês. Mas essas pessoas acabam não tendo um banheiro pra trocar, não têm acesso a água. Por isso, existe a necessidade de se ter absorvente descartável. Existem opções ecológicas, mas elas são escolhas, o absorvente descartável é um direito – pontua.

Continua depois da publicidade

Menstruar como ato de transformação

Além da coleta dos absorventes em si, o projeto MenstruAção conta com apoio de sexólogos, ginecologistas, enfermeiras e fisioterapeutas pélvicas com intuito de não só auxiliar as pessoas nesta falta de acesso aos produtos de higiene, mas também para auxiliar no conhecimento do próprio corpo e demonstrar que menstruar é mais do que natural e pode ser transformador.

– A menstruação transforma a tua vida, ou num inferno ou em algo muito bom. Porque as pessoas se conhecem muito através da menstruação, já que envolve toda a questão da sexualidade humana. Então essas mulheres e meninas chegam cabisbaixas e saem te abraçando, agradecendo e entendendo o próprio corpo – conta.

Elis afirma que a grande importância desta ação também está em desconstruir a ideia de sociedade que ensinou as mulheres a terem nojo de seu ciclo menstrual e também abranger grupos por vezes esquecidos com relação ao assunto, como mulheres no período de menopausa e deficientes.

– Nesta semana, vamos na Associação de Deficientes de Joinville (ADEJ) porque também são pessoas que menstruam, que têm sexualidade. Então é pra isso que o projeto está aí, para que a gente consiga atingir mais e mais pessoas e trazer essa dignidade menstrual para todos – define.

Continua depois da publicidade

Resposta ao veto do presidente

No início de outubro, Jair Bolsonaro (sem partido) vetou a distribuição gratuita de absorventes a mulheres de baixa renda. Em resposta à atitude do presidente, o Movimento Feminista da Diversidade, em parceria com o Comitê Popular Solidário, criou a campanha “Alguém Precisa de Você”, que arrecada alimentos e produtos de higiene, incluindo absorventes.

Anelise Wisbeck, integrante do grupo, explica que a proposta é entregar esses kits a famílias vulneráveis e mostrar que a população está unida para auxiliar na resolução deste problema que, em suas palavras, seria de obrigação do governo federal.

– Chega a ser ridícula a posição destes ministérios e do presidente, como se o impacto econômico fosse tão grande que o país não pudesse suportar. A ação é uma maneira de despertar a indignação e cobrar do governo seu compromisso com a população brasileira, Foi para isso que ele foi eleito, pera olhar para todas e todos – destaca Anelise.

A União Nacional (UNA) LGBT de Joinville e região também iniciou uma campanha. De acordo com Jonas Marssaro, os pontos de coleta do grupo ainda estão sendo definidos, mas, em conformidade com Anelise, destaca que a ação vem de encontro com o veto de Bolsonaro.

Continua depois da publicidade

– Por isso temos o objetivo não apenas de entregar absorventes, mas também de dizer à sociedade que a pobreza menstrual atinge diversas pessoas e é compromisso da sociedade promover equidade e ter um compromisso de combate à pobreza e toda forma de discriminação – finaliza.

Além dessas ações solidárias, tramita na Câmara de Vereadores de Joinville o projeto da vereadora Ana Lúcia Martins (PT) de combate à pobreza menstrual, que prevê a garantia no município de absorventes para mulheres em vulnerabilidade social.

No perímetro estadual, o governador Carlos Moisés assinou um decreto que estabelece a distribuição de absorventes higiênicos a estudantes de baixa renda em Santa Catarina. A licitação deve prever a compra de 600 mil absorventes pelo Estado. 

Pontos de coleta

O projeto MenstruAção conta com oito pontos de arrecadação que já estão ativos em Joinville. São eles:

Continua depois da publicidade

Campanha Rotary “Hambúrguer sem Tabu”

Total das vendas de hambúrgueres será revertida para o projeto Menstruação e End Polio Now. Ao comprar o lanche, no sistema drive thru, os participantes também poderão doar absorventes.

Dia 06/11 (sábado), das 11h30 às 14h.

Local: Casa da Amizade – Rua XV de Novembro, 1529, América.

Don & Donna – Alexandre Simas

Rua Dr. Plácido Gomes, 308 – (47) 3433-2959

Dra Natacha Machado

Rua Marechal Deodoro, 84 Clínica Vitae – (47) 98807-6005

Dra Priscila S. Dornéles

Rua Eduardo Krisch, 34 – (47) 3029-4042

Fraldas Ecológicas Mamalê

Rua Triangulum, 291 – (47) 99671-8326

Inspire Sua Beleza e Bem Estar

Rua São Paulo, 1182 sala 28 – (47) 3207-7921

Mahara Essencial

Rua Frederico Hubner, 181 – (47) 3085-2368

Sussurra Boutique Sensual

Rua Otto Boehm, 1170 – (47) 3028-6769

Já para contribuir com a campanha “Alguém Precisa de Você” basta ir aos pontos de coleta: 

Loja Economia Solidária

 Shopping Cidade das Flores, rua Mário Lobo, 106 – Centro

Ateliê Menina Gaia

Rua Salete, 169 – bairro Petrópolis

Verde Capim – Feira Orgânica

Ginásio Ivan Rodrigues, rua Max Colin, 1640 – América

Todo sábado, das 8h às 12h

Leia também

Podcast ‘Naqueles Dias’ do NSC Total trata sobre pobreza menstrual

Opinião: Pobreza menstrual é um problema social, sim

Veto de Bolsonaro a distribuição de absorventes é criticado em SC: “Vai gastar com o SUS depois”