O papagaio-de-peito roxo sobrevoa o espaço de viveiro como um exercício para reaprender a voar. Também recebe estímulos para comer no alto de galhos e a se acostumar com mudanças. O treinamento envolve ainda o desapego aos humanos.

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É esta a rotina diária de 34 papagaios-de-peito-roxo que se preparam para viverem livres no Parque Nacional das Araucárias, entre os municípios de Passos Maia e Ponte Serrada, no Oeste de Santa Catarina, onde não eram vistos há cerca de 20 anos.

Veja a galeria de fotos do papagaio-de-peito-roxo

O Espaço Silvestre – Instituto Carijós trabalha desde 2010 na reintegração dos animais à natureza. A experiência, em parceria com a UFSC, foi pioneira no país na reintrodução da espécie em uma área de conservação e valeu como um projeto-piloto para a segunda tentativa.

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Em janeiro do ano passado, 13 papagaios foram soltos no parque. Destes, estima-se que 11 tenham se adaptado ao novo ambiente. Dos dois que não tiveram sucesso, um acabou apreendido e outro morreu atacado por um cachorro.

Agora, os candidatos a companheiros dos libertos passam por testes para verificar se têm condições de sobreviver na natureza. A soltura está prevista para a época de reprodução da espécie, entre setembro e fevereiro.

Confira o vídeo com imagens do treinamento para a soltura de papagaios

Cada ave passa por exames veterinários e de comportamento. Todo o processo serve para verificar se os papagaios estão saudáveis e não têm chance de contaminar o grupo. Mas também, por exemplo, para saber a quantidade de machos e fêmeas – medida importante para assegurar que o grupo reocupe o parque.

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Os 34 papagaios-de-peito-roxo estão em análise. Enquanto isso, passam pelo treinamento diário em um viveiro instalado na Escola Sarapiquá, no Bairro Itacorubi, em Florianópolis. Todos eles são resultado de apreensões do Ibama. Os animais, antes acostumados com pessoas, têm de aprender a temê-las. Da mesma forma que as pessoas precisam entender que é necessário mantê-los livres.

– O trabalho não termina quando os soltamos no parque. No projeto-piloto, fizemos um trabalho de educação ambiental com os moradores para conscientizá-los sobre a importância dos papagaios se adaptarem à natureza – explica Vanessa Tavares Kanaan, pós-doutoranda em Ecologia e coordenadora do Espaço Silvestre.

Rádio colares ajudam a identificar os animais depois de soltos

Todos os animais recebem anilhas metálicas do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave) e rádio colares que ajudam a identificá-los e o monitorá-los durante sete meses após a soltura. O acompanhamento é feito por pesquisadores da UFSC e do Espaço Silvestre.

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Caso não passem nos testes, os papagaios retornam ao Ibama. O projeto é financiado através de bazares e do apoio da Fundação Grupo Boticário. Além da coordenadora Vanessa, a mestranda em Agroecossistemas Joice Reche Pedroso e a estudante de Zootecnia Cristiane Martin, além de outros voluntários do Espaço Silvestre, recebem ajuda de profissionais na fase de treinamento das aves para a soltura.

O projeto coloca em prática ações previstas no Plano de Manejo do Parque Nacional das Araucárias, elaborado pela Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) e aprovado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e apoio do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA) Mata Atlântica. Este projeto tem apoio do Ibama, ICMBio-Cemave e Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina.

A espécie

O papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) está ameaçado de extinção de acordo com as listagens da International Union for Conservations of Nature (IUCN) e do Ministério do Meio Ambiente. É uma espécie que pode viver até 30 anos e vive em vasta área de Mata Atlântica – da Bahia ao Rio Grande do Sul, além do sudeste do Paraguai e do nordeste da Argentina.

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Seu habitat é caracterizado em altitudes de até dois mil metros e na floresta úmida tropical e subtropical e mata de pinhais às beiras dos campos, cerrado e pantanal. Os mais de 12,8 hectares do Parque Nacional das Araucárias formam um lar ideal para os papagaios.

Muito parecido com o papagaio verdadeiro – o tipo mais comum – , é diferenciado pela plumagem com penas arroxeadas no peito e de tons azuis no pescoço que formam uma gola. A extremidade da asa é verde-azulada e vermelha. O dorso e cauda são verde-amarelados. O bico é avermelhado com a ponta acinzentada, a íris é vermelha e os pés são cinza. Não é possível diferenciar macho e fêmea visualmente.