Já são dois anos de música livre ao ar livre: o projeto Sounds In Da City, do Dj Allen Rosa, completou dois anos de existência em novembro e contou com uma caprichada festa de comemoração na Lagoa da Conceição. O Diário Catarinense foi até o local para conversar com o cara por detrás do projeto que tem motivado dezenas de pessoas a sair de casa no domingo para desfrutar de boa música gratuitamente.
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A tarde de sol forte do último domingo não serviu apenas para levar as pessoas à praia: foi motivo de festa para uma parcela de Florianópolis, em especial para o DJ Allen Rosa. A festa Sounds In Da City comemorou dois anos de existência com mais de cinco horas ininterruptas de discotecagem no Caravana’s, na Avenida das Rendeiras.
Ironicamente na comemoração de dois anos de Sounds In Da City, projeto que sempre foi gratuito, foi cobrada uma taxa simbólica de entrada para custos relacionados ao local escolhido para a festa – o bar Caravana’s, na Avenida das Rendeiras. Mas isso não impediu que cerca de 150 pessoas passassem mais de cinco horas curtindo as mixagens de seis DJ’s diferentes. Público cativado, Allen conta que a Sounds In Da City começou como uma brincadeira:
– Em 2009 eu fiz uma viagem para Cingapura e decidi fazer uma festa de despedida gratuita no Trapiche da Beiramar. Muita gente acabou aparecendo e no final de 2010 retomei a ideia e comecei fazendo as festas regularmente aos domingos na Beiramar, mas já fizemos em diversos lugares diferentes como o Parque da Luz, o Parque de Coqueiros, a Pista de Skate da Trindade – conta Allen.
O equipamento _ que custa cerca de R$ 13 mil _ é todo levado por Allen que conta com a ajuda de amigos para manutenção e cuidado do equipamento usado nas festas.
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A edição comemorativa de domingo foi, para Allen, uma das provas de que a sua ideia fincou raízes definitivas na cena cultural florianopolitana:
– Muita gente que foi em várias edições gratuitas apareceu hoje e trouxe mais gente junto. Gosto do projeto porque faço em lugares públicos porque as pessoas tem esse medo de viver a rua e isso não é bom – explica o DJ.
A estudante Nicoli Saules, “cliente” do projeto, esteve na comemoração de domingo e diz que o Sounds já faz parte da agenda semanal:
– É o meu programa favorito de domingo. Ouvir música, reunir os amigos e tirar fotos. Sempre que posso levo uma turma diferente pra conhecer e todo mundo adora o clima da Sounds.
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Com dois anos muito bem comemorados, Allen faz planos para as próximas edições do Sounds In Da City (ver entrevista) e garante que, se depender dele, muita gente ainda há de descobrir os prazeres da música livre ao ar livre.
Quem é Allen Rosa
Allen Rosa é um cara tranquilo. Alto e de voz calma, o organizador da Sounds In Da City é natural de Florianópolis, mas se considera cidadão do mundo. O DJ de 27 anos não vê problema em ser enquadrado como uma pessoa “estranha” – quando este adjetivo significa ser algo longe do comum.
A vida musical de Allen teve início em 1998, quando começou a se interessar pela mixagem de faixas. Uma época, saudosa, segundo o próprio:
– Foi uma fase em que a música eletrônica era mais autêntica, os produtores sabiam um pouco melhor o que faziam. Hoje, qualquer brincadeira pode virar um trabalho.
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O DJ explica que ao longo dos mais de dez anos de experiência já viu a música eletrônica passar por uma reinvenção por si só. Para Allen a popularização tornou a música eletrônica uma referência, trazendo uma engenharia mais desenvolvida para estilos que não adotavam esse detalhe musical como um destaque. Rosa defende que a música eletrônica talvez não se reinvente mais, mas sim os frutos dela devem passar por uma outra transformação:
– No fim das contas, o que precisa ser reinventado são os DJ’s: os da velha escola se desprenderem um pouco do passado sem perder os seus valores, mas encarando a realidade da nova geração. Já os novos precisam um pouco mais de interesse em resgatar os valores da raiz da cultura do DJ, aprender mais, fazer mais do que um computador faz – explica.
Segundo o próprio DJ, sua reinvenção começou em 2008, quando passou a fundir o drum’n’bass, batida eletrônica com a qual trabalhou durante muito tempo, com outras vertentes da música, inclusive de fora do universo eletrônico. A resposta positiva do público foi o sinal que Allen precisava para seguir em frente com as novas apostas. Agora em 2012, com dois anos do projeto Sounds In Da City, o DJ florianopolitano tem outro motivo para comemorar além do sucesso profissional: o nascimento de sua primeira filha, Carolina. 2012 certamente foi um ano inesquecível para Allen Rosa.
Acesse aqui a página do projeto no Facebook
Sempre gostei da ideia de quebrar paradigmas
Confira a entrevista com Allen Rosa sobre o projeto Sounds In Da City
DC – O Sounds in da City, seu projeto de música eletrônica em áreas públicas, completou dois anos em novembro. O que mudou desde o início? Quais os próximos passos do projeto?
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Allen – O que mais mudou foi o público, que conta a cada semana com mais pessoas diferentes, de diferentes grupos sociais. Os próximos passos são: estabilizar a base e ampliar equipe, expandir o projeto nacionalmente, criar novos laços com fortes marcas vinculadas a música e a cultura no Brasil, e possivelmente levar o projeto para uma tour na Europa e Ásia.
DC – Mais pessoas estão aderindo ao Sounds in da City? Qual é o perfil que você observa quando faz os eventos?
Allen – Não sou de observar nenhum perfil específico, a diversidade e o numero de pessoas é tão grande que gosto de observar o todo sem julgar rótulos. Mas se fosse definir um perfil ao qual tenho mais afinidade, poderia dizer que é o perfil que gosta de sair de casa com o objetivo de apreciar a música, de libertar o corpo, de se inspirar com novas musicalidades, pessoas sem preconceito com desconhecido.
DC – Você fez um Sounds in Da City no Parque da Luz e o resultado foi bastante elogiado. Pretende realizar outros no mesmo lugar? Quais as áreas da cidade você acha que merecem a sua atenção?
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Allen – Pretendo sim, mas como este é um evento um pouco maior, necessita ser feito junto a parceiros e de ter certa verba para investir. Assim que tiver os recursos necessários o evento acontecerá novamente no Parque da Luz. Nas áreas que acho que precisam de atenção eu já fiz alguma coisa _ lugares como o trapiche da Beiramar, Parque de Coqueiros, esquina do Senadinho, Escadaria do Rosário, Fundação Badesc. Por mim repetirei tudo muitas vezes e ainda realizarei em novos e possíveis lugares como a Travessa Ratcliff.
DC – De onde surgiu a ideia de fazer o evento em áreas com pouca ocupação na cidade? A prefeitura ou algum outro órgão foi contra?
Allen – Nunca fui muito conformado com algumas situações no Brasil, em meio de minha inquietude algumas vezes veio o questionamento: “porque as ruas da cidade não podem ser um lugar mais divertido e prazeroso?”, “se ela é de todos nós porque não desfrutar mais de seus espaços públicos?”. Sempre gostei do desafio de quebras paradigmas. Até hoje nenhum órgão foi contra, mas nenhum foi a favor também.