— A gente não se dá conta que temos uma coisa que é totalmente de graça que são as ondas, a praia. Que tu não precisa pagar por esse ambiente, diferente de uma quadra de tênis ou futebol, então nada mais justo do que aproveitar — filosofa o professor Adriano Lemos, conhecido pela molecada como Barriga. Há 13 anos, ele começou um projeto de aulas de surfe gratuitas para a comunidade dos Ingleses, no Norte da Ilha.

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O esporte, que já tem dois brasileiros como os últimos campeões mundiais, ganhou mais um impulso no mês de agosto, quando foi aprovado como modalidade olímpica já para os próximos Jogos, em Tóquio, daqui quatro anos. Algo que meche com a imaginação dos pequenos atletas que treinam com Barriga.

— Agora que é um esporte olímpico, todo mundo tem chance de chegar lá. É mais um incentivo pra gente mostrar o surfe — comemora Raoni Meurer, de 12 anos, que surfa desde os 3.

O menino estuda na escola municipal Maria Tomázia Coelho, no Santino, e concilia os estudos com os diversos campeonatos amadores que disputa. É o 6° colocado do ranking do Catarinense na categoria iniciante e 2° da Copa Riograndense. Orgulho para o pai, Marcos Meurer. Ele conta que as portas se abriram quando o talento do filho chamou atenção da Associação de Surf Ingleses/Santinho (Asis). Ainda assim, o pai mantém os pés no chão.

— Mesmo que ele não dê certo, só o fato de estar em contato com a natureza e sendo uma criança saudável já é importante — destaca o representante comercial, que há mais de 12 anos trocou o Rio Grande do Sul pela vida mais simples no Santinho.

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Projeto social de escola de surf dos Ingleses cria jovens talentos

— Chegou a dar resultados, só que empacamos em questões burocráticas e políticas. Mas os pais estão vendo que é uma coisa que trás um benefício dentro de um meio social meio conturbado. Viver de caridade é complicado, então a gente procura ajudar quem tem interesse, de cinco anos até idosos — conta o ex-surfista profissional, com passagens por campeonatos no Peru, Uruguai, Sumatra e Bali, e que recentemente trocou os torneios pela iniciativa.

No momento está com cerca de 20 alunos. Entre eles, Ian Biagio Stringhini, de 14 anos. O garoto começou com 4 anos e diz que é o que eu quer para a vida. É o 2° colocado do ranking da Copa Riograndense na categoria mirim. Nos campeonatos locais, como o da Asis, compete numa categoria acima.

— Meu sonho é ser surfista profissional, chegar entre os melhores do mundo. E ainda mais agora com Olimpíadas, vai ser irado, vai instigar ainda mais a galera a ganhar medalha — deseja.

(Foto: Cristiano Estrela / Agencia RBS)

Tanto Ian como Raoni são assessorados pelo empresário Alexandro Costa. Ele grava vídeos com os moleques para depois analisar as imagens e corrigir esses erros.

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— A troca desse trabalho é eles estarem competindo nos campeonatos. E o resultado está vindo. Esse é o primeiro ano que eles estão focados totalmente e estão fazendo bastante pódio. Pra isso, o apoio de empresários do Norte da Ilha tem sido fundamental — celebra.

Alexandro explica que não cobra tanto como gostaria, já que eles recém estão deixando a infância. Mas conta que a novidade olímpica está fazendo esse papel.

— Eles estão empolgados com essa novidade, e o mais importante é que estão vivendo isso. E como são atletas e precisam de apoio para poder viajar, um esporte olímpico abre as portas pra isso — destaca o empresário.

Pequeno Kaike Mesquita, 8 anos, recebe orientações do Barriga e pega a onda
Pequeno Kaike Mesquita, 8 anos, recebe orientações do Barriga e pega a onda (Foto: Cristiano Estrela / Agencia RBS)

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