É difícil entrar na Igreja do Espírito Santo e não se impressionar. A começar pelo lustre de 24 lâmpadas todo feito em madeira e com uma riqueza de detalhes, que está perfeitamente colocado no centro da cúpula onde ocorrem os cultos. Os vitrais, que representam a vida e morte de Jesus, chamam a atenção pelas cores e pelo capricho nos desenhos. E quando o órgão de tubos toca, o som singular e aconchegante toma conta do ambiente neogótico, causando até um quê de perplexidade. Mas embora essa harmonia pareça perfeitamente intocável, a estrutura clama por ajuda para se manter com essa grandeza pelos anos que virão pela frente.

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O monumento, que pertence à Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e fica próximo ao Terminal da Fonte, foi tombado como patrimônio histórico em 2002. Inaugurada em 1877, a estrutura mantém as características do passado, mas precisa de um restauro para continuar aberta à comunidade. Na manhã de ontem, detalhes dessa obra foram apresentados e uma mobilização pela captação de recursos já envolve lideranças empresariais e políticas do Vale do Itajaí. O projeto do restauro foi aprovado pelo governo federal via Lei Rouanet, e será possível captar até R$ 5,2 milhões com incentivos fiscais para pessoas físicas e jurídicas.

Os detalhes do restauro são discutidos há mais de três anos, já que tudo precisa ser aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O projeto prevê o resgate da cobertura em telhas planas de corte reto; o restauro e proteção dos cinco vitrais que compõem a igreja; o restauro do lanternim, que caiu durante uma tempestade em 2009; a revisão do órgão de tubos; adaptação às normativas de segurança e acessibilidade; melhoria na drenagem perto da edificação; melhoria da iluminação interna e externa; e adaptação a tecnologias que melhorem condições de acolhimento e uso, sem perda das características históricas.

— O principal desafio é adaptar o edifício, deixá-lo saudável como estrutura, e adequá-lo às normativas atuais de conforto e acessibilidade. A intervenção mais grave é na torre, onde é preciso sanar um problema técnico, mas de resto é manutenção — explica a arquiteta Rosália Wall, coordenadora do projeto de restauro da Igreja do Espírito Santo.

Igreja sofre com desgastes
Igreja sofre com desgastes (Foto: Igreja Luterana do Espírito Santo, divulgação )

O que encarece o projeto é a necessidade em se respeitar técnicas e produtos que não comprometam as características da igreja. Na opinião da historiadora Sueli Petry, diretora do Patrimônio Histórico e Museológico de Blumenau, a edificação da Igreja do Espírito Santo não diz respeito apenas aos luteranos, mas a toda comunidade da região, já que está diretamente ligada à história do Vale do Itajaí.

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— (A igreja) tem valor inestimável. Não só a parte histórica, mas pela questão da estrutura. Foram os luteranos que começaram o processo de colonização de Blumenau, e preservar isso traz uma sensação de pertencimento. É um monumento que não está ligado somente à arquitetura, mas a todo o contexto de uma região e que respira história — defende a historiadora.

Hoje a Igreja do Espírito Santo não é usada apenas para cultos luteranos, mas também para concertos de piano, violino, e apresentações artísticas que trazem celebrações não apenas religiosas. Para o pastor Milton Jandrey, coordenador pastoral da paróquia, é essa ligação entre fé, cultura e história que motiva a mobilização pelo restauro da estrutura.

— O espaço só faz sentido se estiver vivo — resume.

Na avaliação do presidente da paróquia, Dietmar Piske, o local precisa ser respeitado pela singularidade que tem, mesmo em meio às transformações tecnológicas e artísticas que surgiram nos últimos 142 anos.

— Podemos nos encantar com o novo, com os majestosos prédios, mas ao mesmo tempo precisamos cuidar com carinho do que vem do passado. Esse monumento é genuíno, original. Temos que valorizá-lo — defende Piske.

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Stodieck coordena captação de verba

Ex- secretário de Turismo e ex-presidente do Parque Vila Germânica, Ricardo Stodieck encabeça a coordenação da captação de recursos para a obra. Doações podem ser feitas tanto via Imposto de Renda — 4% para empresas e 6% para pessoas físicas.

Para encaminhar essa fatia da verba do leão ao projeto, é preciso fazer o depósito do valor à conta aberta pelo governo federal (confira abaixo). Será emitido um recibo ao patrocinador, e esse documento servirá para que seja feita a renúncia fiscal na declaração do Imposto de Renda do ano seguinte.

Além do valor via Lei Rouanet, o projeto de restauro da Igreja do Espírito Santo também envolve a busca por verba diretamente com a iniciativa privada. Foram elaboradas cotas de patrocínio, com valores que vão de R$ 250 mil até R$ 1,5 milhão.

Para parte do dinheiro ser liberada e as obras começarem, há a necessidade de que sejam captados 20% dos R$ 5,2 milhões que foram aprovados, ou seja, pouco mais de R$ 1 milhão.

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Igreja sofre com desgastes
Igreja sofre com desgastes (Foto: Igreja Luterana do Espírito Santo, divulgação )

A igreja

A obra da Igreja do Espírito Santo começou em 1868, três anos após o imperador Dom Pedro II autorizar o fornecimento de recursos para a construção do monumento. A obra demorou nove anos para ficar pronta, e foi inaugurada em 23 de setembro de 1877. Recentemente, fotos inéditas da colônia tiradas por Bernardo Scheidemantel e encontradas na Alemanha, mostram como estava a igreja poucos meses antes de ser entregue à comunidade. No início ela não tinha uma torre (o que era restrito a templos da igreja católica), estrutura que só foi construída em 1930.

Conta aberta pelo governo federal para doações:

Banco do Brasil

Agência 3126-7

C/C 28258-8

Comunidade Evangélica em Blumenau – Paróquia Luterana Blumenau Centro (09.483.172/0001-38)