Pensar no problema da falta de água não é mais olhar para o futuro. É, sim, se preocupar com o presente. Seu Nery Gonçalves, 73 anos, sempre teve essa preocupação. Quando se aposentou e resolveu comprar um sítio, na localidade de Santa Luzia, em Camboriú, ele até começou a plantar palmeira real e criar gado. Mas com o tempo, ele viu que, além do tempo, ele não tinha condições de cuidar de tudo sozinho.

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Hoje, pelo menos 90% da propriedade de 28 hectares (ou 28 mil m²) são preservados e fazem parte do projeto Produtor de Água do Rio Camboriú. O objetivo é cuidar dos locais onde estão as nascentes que desembocam no rio que abastece as cidades de Camboriú e Balneário Camboriú.

No terreno de seu Nery, existem pelo menos três nascentes, mas só uma delas tem água constantemente. As outras duas foram prejudicadas pela degradação ambiental na região, especialmente por uma antiga empresa que extraía areia.

– Só tem água passando por ali porque choveu. O pessoal (do programa) acredita que recuperando a mata da região, as nascentes voltarão – diz.

E é isso que ele está fazendo. Na propriedade, ele plantou alguns pés de palmeira-real, que em breve serão substituídas por palmeira-juçara, que é nativa da região. Além disso, preserva outras áreas que refletem diretamente na produção de água.

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Por fazer parte do projeto, seu Nery tem até um complemento na renda de bancário aposentado. Cada produtor que integra o programa recebe um valor semestral como forma de incentivar a participação dele. Para seu Nery, ajuda no complemento da renda.

– Acho que todo mundo tem o dever de preservar o meio ambiente. Se for desse jeito então, ótimo – declara seu Nery.

O aposentado está entre os sete produtores que participam do programa e receberam o pagamento na cerimônia de lançamento oficial, realizada na quarta-feira. E ele já tem destino para estes recursos que vão ajudar na recuperação de parte do sítio, atingido pelas chuvas do fim de semana. Na propriedade, foi registrado um deslizamento de terra e o caminho que separava as duas lagoas foi destruído pela força das águas.

Projeto quer ganhar força

O Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú deve ter o segundo edital lançado nos próximos 15 dias. Ele foi lançado como piloto no ano passado, quando sete produtores aderiram.

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Segundo o assistente de conservação da The Nature Conservancy (TNC), um dos órgãos parceiros do projeto, André Cavassani, as áreas de preservação não precisam ficar, necessariamente, nas margens do Rio Camboriú. Qualquer agricultor da região pode participar.

– Nosso objetivo é que o maior número possível de produtores faça a adesão ao programa. Nossa meta é alcançar de 70% a 80% dos agricultores da região – conta.

A Emasa é quem coordena o projeto e segundo a coordenadora, Kelli Cristina Dacol, a empresa viu na preservação de nascentes e da mata ciliar uma maneira de se evitar a falta de água num futuro próximo.

– O produtor adere se quiser. Ele que define a área que será destinada ao projeto e recebe de acordo com isso – explica Kelli.

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A conta é feita de forma diferente, já que são dois os tipos de área. Há um valor específico para área de preservação e outro para de recuperação.

– Estas áreas receberão monitoramento constante, para a gente ir acompanhando a evolução. Acreditamos que pode haver a recuperação destes locais, assim como já aconteceu em outros pontos – comenta André.

O agricultor que tiver interesse em participar do projeto pode entrar em contato pelo e-mail produtordeagua@emasa.com.br ou no telefone 3261-0000. O projeto Produtor de Água é uma iniciativa da Emasa e da prefeitura de Balneário Camboriú, com parceria com a TNC, o Comité da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, a prefeitura de Camboriú, a Agência Nacional de Água (ANA), a Epagri/Ciram e a Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento Básico de Santa Catarina.