O pingente em forma de Clave de Sol que a professora Beatriz Passold carrega no pescoço não deixa mentir: a música anda sempre com ela. Foi em 2002, durante uma viagem à Alemanha, que a blumenauense teve a ideia de reproduzir na própria cidade um projeto para levar arte a quem não tivesse acesso. O sonho saiu do papel no dia 1º de junho de 2005.
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Nesta segunda-feira, exatos 10 anos depois, o Projeto Musicalização Infantil se consolida como um dos programas mais bem sucedidos da Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Blumenau, inserido tanto em bairros mais distantes quanto na região central da cidade.
De seis Centros de Educação Infantil (CEI) atendidos inicialmente, em uma década o projeto se instalou em 78 CEIs _ totalizando um grupo de 11 mil crianças que aprendem sobre música toda semana. Para Beatriz – ou “prô Bia”, como é carinhosamente chamada pelos alunos -, desenvolver nos pequeninos a percepção auditiva, imaginação, fantasias, sensações estéticas e afetividade através da música é essencial:
– Elas nem percebem, mas estão aprendendo a técnica musical, além das vivências lúdicas da música. Para se ter uma ideia, 90% da fanfarra da (escola) Duque de Caxias vem do projeto de musicalização – orgulha-se a professora.
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Crianças de 0 a 5 anos estão diretamente ligadas ao projeto pioneiro de musicalização. No total, 28 professores formados e pós-graduados em Música são responsáveis pelo aprendizado dos pequenos. Além de violão, flauta e outros instrumentos, as rodas de ciranda e canções folclóricas também fazem parte do repertório. Para aperfeiçoar o projeto cada vez mais, eles se reúnem uma vez por mês para trocar ideias e experiências musicais.
Conhecida principalmente por seu trabalho com bandas e fanfarras da cidade, Bia é acredita no poder da música:
– Elas chegam no projeto tímidas, mas logo se interessam e em um mês já estão à vontade. A criança modifica seu jeito de ser através da música, se torna mais extrovertida. Para mim, é a linguagem mais completa das artes.
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Professor da fanfarra Escola Básica Municipal Duque de Caxias, Robson Ricardo Brandt concorda:
– Em vez de estar na rua o aluno está na escola, envolvido com arte. Qualquer coisa que você ensina faz o olho da criança brilhar.
Na opinião da psicóloga infantil e especialista em neuropsicologia Camila Santhiago, o desenvolvimento social é um dos principais efeitos do envolvimento precoce com a arte:
– É importante interagir com outras crianças em um ambiente que não seja só o escolar. O aspecto neuropsicomotor também é trabalhado, e assim ela cria uma coordenação melhor, se concentra mais nos estudos e trabalha a criatividade – diz.
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Aprendizado perpetuado na adolescência
Os dedos ágeis de Rubens Eduardo Schlindwein Liesenberg, 12 anos, passeiam pelas teclas do trompete de um dourado desgastado. O sopro necessário para trazer o instrumento à vida só é interrompido quando a escala de Dó termina. Ele então sorri e respira fundo, orgulhoso.
Encostada na parede, na pequena sala de ensaio da fanfarra Escola Básica Municipal Duque de Caxias, Natalie Otto, 13, observa o colega atentamente. Assim que ele termina a música, a menina de cabelos longos toma o lugar do garoto e se prepara para fazer música com o sax que toca há pouco mais de um ano.
Tanto Rubens quanto Natalie são ex-alunos da professora Bia Passold. Quando frequentavam a Unidade Pré-Escolar Nazaré, bairro Itoupava Central, ambos eram muito pequenos. Mas foi lá, orientados por ela, que foram encorajados a dar os primeiros passos na música:
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– Sempre gostei de música, mas o incentivo começou lá no Nazaré, com a prô Bia, quando eu tinha cinco anos. Eu via as outras pessoas tocando e ficava fascinado – comenta o menino.
Rosângela Schlindwein Liesenberg, mãe de Rubens, diz que o filho se tornou uma criança muito mais concentrada e responsável depois da experiência:
– Ele também ficou mais organizado, educado, carinhoso. Sempre incentivamos essa procura e ele sempre gostou de todos os ritmos – conta.
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