Foi uma pesquisa teórica da universidade que levou Rafaela Catarina Kinas para dentro da aldeia Bugio, entre José Boiteaux e Doutor Pedrinho, no Alto Vale. A escola branca fez ela conhecer a cultura indígena, especificamente a do povo Laklaño Xokleng, em 2008. A vida seguiu.

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Índios de um lado, atriz de outro, até que os caminhos os uniram novamente. Há seis meses, Rafaela aceitou o desafio de trabalhar o teatro dentro da aldeia. Não antes de receber a visita de três indígenas interessados em saber se ela realmente era confiável para entrar em contato e para formar as crianças.

– Conhecer a vivência na aldeia me fez entender que o povo ainda está marcado por uma extrema desconfiança dos colonizadores, tanto que tenho certa dificuldade em compor a cena com eles. Existem coisas da história deles que ainda não estou apta a conhecer e nem eles querem mostrar para a comunidade não-indígena. O que é engraçado é que, com a minha persistência em ir para a aldeia, sinto aquela expectativa de, olha ela voltou, que incrível. Ela tá aqui de novo – compartilha Rafaela sobre a experiência desafiadora.

A Epopeia Indígena será apresentada ainda neste ano por um grupo que está vinculado ao Centro Cultural da comunidade Bugio. As aulas ocorrem todas as quintas-feiras com 16 alunos – adolescentes, infanto-juvenis e adultos – que estão montando o espetáculo, contando a trajetória do próprio povo da terra indígena Laklaño Xokleng.

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Para chegar até o Alto Vale, a atriz percorre 205 quilômetros de Blumenau até lá, mas afirma que o esforço vale a pena. Ela relembra que ao chegar à aldeia percebeu um grau de timidez elevadíssimo na tribo, mas que aos poucos tem se transformado em maturidade cênica.

– Nossa jornada é baseada nos jogos teatrais. A gente joga muito, a gente brinca e o povo Laklaño Xokleng tem uma facilidade incrível de se divertir e de rir. É claro que eles têm ainda muito que caminhar, pois o teatro foi inserido neste ano, mas estão em um bom caminho e acredito que, em breve, não precisarei mais ir e eles continuarão por conta própria. Essa é a minha intenção.

Com brilho nos olhos, Rafaela percebe que o teatro possibilita o encontro do povo indígena com a necessidade de se comunicar.

– Socialmente sinto que o teatro tem refletido na comunicação interpessoal deles, sinto que as meninas estão mais ativas e desenvoltas para expressar o que pensam. Além do teatro, eles têm descoberto outras potências, além de serem ouvidos – comemora.

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