Quarta-feira, 8h30min, o sol brilhava e o calor tomava conta. Os guarda-sóis dominavam a faixa de areia e debaixo deles mães atentas aos pequenos que se refrescavam no mar. Mais um dia típico de verão em uma das cidades mais movimentadas de Santa Catarina, Balneário Camboriú. Dessa vez o olhar de cuidado se mescla ao de gratidão. É que as crianças reunidas em frente ao posto quatro da Praia Central não estavam ali apenas por diversão. O objetivo era aprender sobre os cuidados na água e o respeito com o meio ambiente.

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Foi a primeira edição desse ano do Projeto Golfinho em Balneário Camboriú, ministrado na semana que passou pelo Corpo de Bombeiros. Ao todo, 42 meninos e meninas de várias regiões do país. Crianças como a pequena Ynkny Lisiê, nove anos, de Curitiba (PR), que veio passar as férias no litoral catarinense. Se ela estava ansiosa para ir brincar? Não. Acordou cedo na segunda-feira, dois dias antes, para ir à praia estudar.

Lá na faixa de areia, devidamente vestida com boné e camiseta dos bombeiros, começou e terminou o minicurso ministrado por guarda-vidas. Antes mesmo de a aula acabar já tinha na ponta da língua lições importantes.

– Se eu ver uma criança perdida eu devo levar ela no posto dos guarda-vidas.

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Antes de aprender quando e como entrar no mar sem perigo, as lições passadas pelos educadores são sobre medidas de segurança pessoal. Não sair de perto dos pais, não sair com estranhos, gravar os nomes, telefones e endereço dos familiares e dos bombeiros.

– Isso é para a vida deles, até porque nem sempre eles serão as vítimas. Às vezes, podem estar em casa e alguém passar mal. Com essas informações conseguem pedir ajuda – afirma a coordenadora do projeto no 13º Batalhão dos Bombeiros, capitã Fernanda Sebastiani Tibola.

Em seguida eles aprendem quase sem perceber o significado de cada bandeira firmada nas faixas de areia. Com exemplares verde, amarelo e vermelho nas mãos, o guarda-vidas Thales Cervati brinca com as crianças na beira do mar. Ele ergue uma bandeira e conforme a cor os pequenos devem saber o que fazer.

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– Vermelho é para ter muito cuidado; amarelo, mais ou menos, e verde pode ir, mas também tem que cuidar – orienta o paulista Pedro, de cinco anos.

Logo depois, como em um pega-pega, Laura, oito anos, representa a correnteza. Os colegas de turma precisam se manter longe e quando tocados por ela se tornam um perigo também. É assim, de brincadeira em brincadeira, que se tornam mais conscientes.

– É perceptível a mudança deles. Depois que saem daqui e avisam o grupo do lado, cobram os pais, sabem que devem ficar sempre perto do posto de guarda-vidas – diz o guarda-vidas Cervati.

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A iniciativa, que completou 20 anos em 2018, tenta reduzir estatísticas como as registradas pelo 13º Batalhão de Bombeiros Militar, que abrange Balneário Camboriú, Itapema e Bombinhas. Segundo o subcomandante Maico Francisco de Alcântara, de outubro do ano passado até o início de janeiro, 651 crianças se perderam nas praias, além de 283 pessoas afogadas. A proposta, entretanto, não se restringe às cidades litorâneas.

A coordenadora do Projeto Golfinho em Santa Catarina, sargento Glaucia Krueger da Silva, explica que municípios sem praia também oferecem a formação às crianças. Gaspar, por exemplo, formou uma turma no fim do ano passado com 330 alunos. Tudo para evitar ocorrências em rios, cachoeiras e piscinas.

Dados do Corpo de Bombeiros apontam que no Brasil cerca de sete mil pessoas são vítimas de afogamento por ano. Parte destes casos ocorre em ambiente residencial e envolve crianças pequenas.

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– Para 2019, há a expectativa de aumentar as cidades abrangidas, capacitar novos instrutores e formar cerca de seis mil crianças na temporada de verão. Até 2018, foram aproximadamente 35 mil crianças no projeto – comenta Glaucia.

As famílias dos pequenos golfinhos agradecem a preocupação. O olhar contemplativo de Eleucineia Alicio, mãe de Ynkny, é de quem sente a preocupação das autoridades com o bem-estar da filha, uma apaixonada pelo mar.

– Além de uma atividade de recreação, são ensinamentos importantes. Ela chega e já olha a bandeira e está sempre contando que água no umbigo é sinal de perigo – conta a mãe.

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O objetivo do projeto é formar cidadãos mais conscientes. Mas os bombeiros também estão preocupados em formar agentes multiplicadores. Com as crianças é assim: aprendem e cobram dos pais, que muitas vezes não tiveram acesso às informações. Porém, é preciso alcançar os jovens, que exigem atenção dos guarda-vidas pela coragem com que enfrentam o mar.

Vanessa Martins, que trouxe o sobrinho Pedro para o Projeto Golfinho, é uma entusiasta das iniciativas. Como já trabalhou no Corpo de Bombeiros em Balneário Camboriú, conhece o trabalho de perto. É ela, inclusive, que apresenta os jovens guarda-vidas. Garotos e garotas que aproveitam as férias para auxiliar a corporação.

Aos 13 anos, Diogenes da Silva chega à Praia Central às 8h15min. Dá suporte ao minicurso dos golfinhos e ao longo do dia acompanha os guarda-vidas nas atividades rotineiras. Sabe os graus de afogamentos, como fazer imobilização e assim por diante. Para ele, é mais do que um trabalho voluntário: é estar mais perto de realizar um sonho: ser um guarda-vidas:

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– É uma grande oportunidade. Assim eles vão poder cuidar da vida deles e de outras pessoas.

Agenda Projeto Golfinho

Balneário Camboriú – Praia Central

De 21 a 25 de janeiro

De 4 a 8 de fevereiro

Itapema – Meia Praia, posto três

De 14 a 18 de janeiro

De 28 de janeiro a 1º de fevereiro

Itapema – Praia Central

De 21 a 25 de janeiro

Bombinhas – Bombas, posto dois

De 21 a 25 de janeiro

Bombinhas – Mariscal, posto quatro

De 14 a 18 de janeiro

De 28 de janeiro a 1º de fevereiro

Itajaí – Praia Brava, posto oito

De 14 a 17 de janeiro

Itajaí – Cabeçudas

De 14 a 17 de janeiro

Itajaí – Atalaia

De 14 a 17 de janeiro

Balneário Piçarras, posto dois

De 21 a 25 de janeiro