Um projeto da Prefeitura de Jaraguá do Sul está criando espaços de transformação. Dos terrenos que abrigam as hortas comunitárias criadas com o incentivo municipal brotam mais que leguminosas e verduras. Os canteiros serviram de elo entre vizinhos que antes apenas se cumprimentavam à distância. Do trabalho com a terra nasceram as amizades, a roda de mate no fim da tarde, os churrascos dos fins de semana. Sem falar nas colheitas, que alimentam famílias e são compartilhadas entre moradores.

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O projeto municipal foi criado assim que a nova administração assumiu a Prefeitura, em 2013. Coordenador do Projeto Germinar, Ambrósio Lino Becker conta que, atualmente, existem 20 hortas consolidadas e outras seis em fase de conclusão. Até o fim deste mês, as 26 devem estar produzindo e beneficiando 443 famílias. No projeto inicial, a previsão era chegar a 40 hortas até o fim de 2016, quando se encerra o mandato do prefeito Dieter Janssen. Para atingir o número, porém, é necessária a demanda da comunidade – afinal, é ela a dona e a responsável por plantar, colher e manter o espaço.

– A do bairro Ilha da Figueira foi a primeira, e depois foi crescendo. Vemos os resultados desde a primeira que foi implantada: todos os aspectos dos objetivos iniciais vão sendo atingidos – diz o coordenador.

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A metodologia do projeto é simples: um terreno municipal é cedido para abrigar a horta comunitária. A Prefeitura fornece materiais para a infraestrutura inicial, como palanques e arame para cercar o terreno, torneiras e mangueiras que possibilitam a irrigação, madeiras e pregos para a construção de uma casinha, onde são guardadas ferramentas e insumos. Segundo Becker, o custo médio de implantação de uma horta é de R$ 820. Com a matéria-prima em mãos, começa o trabalho. Becker conta que um mutirão é marcado para que os moradores construam a casinha e façam a cerca – tudo com ajuda e instrução do coordenador.

Os canteiros são organizados e começa a produção. A Prefeitura fornece adubos e insumos (todos orgânicos), assim como as mudas. A média é de R$ 100 mensais para a manutenção de cada horta. Cada morador recebe um canteiro, no qual atua livremente, porém, um coordenador é eleito para reunir as informações necessárias e repassá-las a Becker – como quantas e quais espécies de mudas os moradores desejam. Quem quiser pode buscar insumos e mudas por conta própria. Se um canteiro é abandonado, outro morador ganha o direito de utilizá-lo. De forma geral, há fila de espera em cada horta.

Interação

Quando André Dalligna e sua esposa Carolina Bertoldi resolveram aderir ao projeto, não imaginavam que estavam prestes a criar um espaço de interação que mudaria suas rotinas. Não é apenas na alimentação que a horta comunitária influiu. O terreno, que abriga quase 30 canteiros, agora é ponto de encontro entre os vizinhos do bairro Três Rios do Sul. No fim da tarde, há roda de mate. Nos fins de semana, churrasco. Tudo nascido naturalmente do meio dos canteiros.

Na horta de Três Rios do Sul, os moradores investiram em infraestrutura. Agradeceram pelas mangueiras da Prefeitura e compraram canos para a água. A casinha de materiais recebeu puxadinhos extras para os lados, garantindo sombra e descanso para os dias de trabalho. Em um lado, foi construída uma mesa de madeira e foi instalado um tanque. Um painel indica os eventos que já estão marcados para o espaço. No outro lado, uma pilha de lenhas aguarda uso na churrasqueira, construída no chão. Tudo pronto para quem quiser ocupar o local não apenas para a produção de verduras, mas também para confraternizar.

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– Vemos isso aqui não apenas como um horta, mas como um espaço de lazer da família. Antes, não tínhamos contato com os vizinhos e agora nos reunimos com frequência. Quase todos os dias viemos aqui regar ou cuidar da horta e já tomamos um mate juntos – conta Dalligna.

Quando a ideia surgiu, houve receio de que poucos aderissem. O grupo começou com dez famílias, em agosto do ano passado. Hoje, já são 25 famílias e dois canteiros ainda estão à disposição. Pimentão, tempero verde, folhosas, repolho, tomate, berinjela, quiabo, rabanete e cenouras são parte da colheita que já saiu da horta. Na mesa, o diferencial já é sentido.

– Muda o sabor, pois aqui é tudo sem veneno. E tem coisas que nem precisamos comprar mais – completa André.

Ajuda mútua

Enriquecer a dieta com alimentos orgânicos, desenvolver o sistema cooperativo e criar interação entre vizinhos são parte dos objetivos do Projeto Germinar. Na horta comunitária do bairro Rau, o sistema funciona e as fartas colheitas são até divididas entre os moradores. O local que hoje é tomado por couves, quiabos, temperos e outras plantas já foi um campo de futebol, que acabou se tornando um inconveniente para os vizinhos, por causa do barulho e da sujeira deixada após festas informais. A horta foi criada e os resultados surgiram rapidamente. Hoje, são 32 canteiros, dois deles à disposição.

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– Sabemos o que estamos comendo e tudo tem mais sabor, pois somos nós mesmos que plantamos e colhemos e nada aqui tem veneno – conta Elvira Fernandes, que já colheu repolho, alface e abobrinha.

– A maior satisfação é plantar, ver crescer e depois colocar na mesa – acrescenta a coordenadora da horta, Iona Betania Stoll.

Iona conta que a maioria dos moradores já tinha conhecimentos para plantar e colher. Quando alguém é novo na experiência, porém, os próprios vizinhos ajudam e passam as instruções iniciais. É assim, também, que relações se formam. A própria Iona conhecia poucos vizinhos e hoje as amizades são mais próximas.

No Rau, também há espaço para reaproveitar. Heloisa Machado tem galinhas em sua casa. O estrume delas serve de adubo à sua horta, e as folhas velhas são usadas como alimento às aves, fechando o ciclo. Mais que produzir e reaproveitar, para ela a horta é um local de ensinamentos. É comum ver suas filhas lá, ajudando a adubar, plantar e colher.

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– As meninas gostam muito do computador, mas agora vêm para cá ajudar, pois gostam mesmo. A mais nova, a Isabeli, até leva algumas plantas para casa, coloca elas em vasinhos e cuida ali de pertinho – sorri a mãe.