Os primeiros meses do pequeno Vítor não foram tão confortáveis quanto os de outros recém-nascidos, mas se tornaram mais aconchegantes com a presença de um animal marinho de crochê. Prematuro, o bebê nascido em Joinville no início de abril precisou de sondas e tubos para ajudá-lo a sobreviver depois de sair cedo demais da barriga da mamãe — após apenas 26 semanas de gestação, quando o normal é de pelo menos 37 semanas —, mas, em meio a tantos objetos cilíndricos dentro da incubadora da UTI neonatal, ele encontrou proteção nos macios tentáculos artesanais de um polvo azul.

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Vítor foi o primeiro bebê de Joinville a experimentar a sensação de ter um destes bichinhos de crochê como companheiro, em um projeto que é famoso no mundo inteiro.A ideia de oferecer polvos a bebês nascidos prematuramente surgiu na Dinamarca, conquistou adeptos em outros países da Europa e chegou ao Brasil neste ano.

Em Joinville, as primeiras experiências estão acontecendo no Hospital Dona Helena, onde a equipe da unidade materno-infantil, após conhecer a iniciativa por meio das redes sociais, decidiu estudar os benefícios e verificar se era seguro implantá-la na UTI neonatal. Os primeiros polvos foram produzidos por voluntários de outras cidades e trazidos para a experiência em Joinville

— A imunidade deles é muito baixa, e qualquer meio é propício para infecção. Por isso, primeiramente, os polvos passaram pelos testes de higienização, com lavagem e esterilização, e pela autorização do controle de infecção hospitalar — conta a coordenadora da unidade materno-infantil do Hospital Dona Helena, Elisa Alves Ramos Zin.

Segundo ela, apesar do sucesso mundial dos polvos para recém-nascidos em todo o mundo, ainda não há nenhum artigo científico que comprove a eficácia dele, mas os exemplos vindos de outros hospitais foram um incentivo para que os testes acontecessem também com os bebês de Joinville. Vítor recebeu seu polvo azul em maio e, desde então, cerca de 15 crianças também já foram presenteadas com um amiguinho.

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Neste período, a equipe que atende à UTI neonatal pôde notar que as crianças ficaram mais relaxadas e tiveram diminuição na frequência dos batimentos cardíacos e na respiração.

— Eles pararam de puxar os equipamentos invasivos, como tubos orotraqueais e sondas, assim como o oxímetro (aparelho preso ao pé que mede a frequência cardíaca), que é algo que fazem instintivamente. Agora, eles se agarram aos tentáculos do polvo e se sentem seguros — afirma Elisa.

Os polvos, que nunca foram preferência em lugar nenhum do mundo como presente infantil, tornaram-se os mascotes do projeto por serem octópodes: acredita-se que os oito tentáculos, espiralados e produzidos com fibra interna siliconada, remetem ao cordão umbilical. Os bebês, ao buscarem um ponto de apoio, encontram oito possibilidades.

A mãe de Vítor, a técnica em enfermagem Alis Cristina Sbardelotto, 27 anos, está gostando tanto da evolução que percebeu no filho desde que o polvo virou um companheirinho, que está querendo levar a iniciativa à unidade de saúde onde trabalha, em Criciúma. Quando o projeto começou, o bichinho de crochê de pouco mais de 20 centímetros era maior que o bebê, que nasceu com apenas 730 gramas.

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— Foi em uma semana que ele estava muito agitado e, quando o polvo chegou, ficou bem mais calmo — recorda Alis.— Acho que tudo o que pudermos fazer para evitar o trauma deste período deve ser tentado — completa.

Humanizar sem correr riscos

Os polvos de crochê se tornam os primeiros brinquedos desses bebês. Todos são individuais e vão para casa com as crianças. Além disso, são lavados e esterilizados semanalmente, de acordo com o hospital. Para que possam chegar às crianças, eles também precisam corresponder a algumas especificações. Em Joinville, o Projeto Um Polvo de Amor é o responsável por administrar a produção e a distribuição dos polvos, feitos a partir do padrão criado na Dinamarca e testado pela equipe do Hospital Dona Helena.

— Cerca de 20 pessoas estão produzindo, e outras estão ajudando com doação de material — explica a coordenadora voluntária do projeto, Fernanda Engelmann.

Os polvos precisam ser confeccionados com fio 100% de algodão e com fibra interna siliconada e específica para artesanato. Além disso, devem ter oito tentáculos de 20 centímetros cada quando esticados, para que não se enrolem no bebê, e os pontos devem ser bem fechados, para que os dedinhos do bebê não fiquem presos.

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Em abril, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica informando que não recomenda a utilização dos polvos de crochê como instrumento terapêutico. Por isso, os outros hospitais joinvilenses com setor de internação de recém-nascidos decidiram não aderir ao projeto. O órgão federal não proíbe os polvos, mas os contraindica por falta de evidências científicas da efetividade.

A nota técnica ainda salienta a importância do Método Canguru, instituído no Brasil no ano 2000 e que garante que, mesmo bebês em UTI neonatal, devem ter momentos de contato pele a pele com os pais. O método é utilizado também no Hospital Dona Helena, que usa esta e outras formas de atendimento humanizado no setor.

Como ajudar:

Seja um voluntário

Artesãos podem entrar em contato para integrar o grupo de voluntários e participar da produção dos polvos em crochê, conforme as normas do padrão do projeto.

Ofereça doações

O projeto precisa de fios de crochê (Barroco 4, Anne duplo, Duna, ou Charme), agulhas e fibra siliconada.

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Contatos:

E-mail: umpolvodeamor.joinville@gmail.com

Telefone: (47) 99676-7330 Facebook: Projeto Um Polvo de Amor – Joinville