Era uma vez uma empregada doméstica, que, com muitas doses de amor e pitadas de bom humor, conquistou o mundo cozinhando de maneira saudável.

Continua depois da publicidade

A história poderia até ser um conto de fadas, mas é a realidade da paraibana Regina Tchelly, 33 anos, ex-doméstica, criadora do projeto Favela Orgânica. Viajando pelas favelas e comunidades Brasil afora, Regina ensina como fazer receitas deliciosas, aproveitando da folha à raiz dos alimentos.

Confira todas as oportunidades do Espaço do Trabalhador

Continua depois da publicidade

Acompanhe as notícias da Grande Florianópolis

Foi em 2011, na comunidade Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul Rio de Janeiro, que nasceu o projeto. Regina já tinha muitas ideias na cabeça, e resolveu se inscrever para receber verba de R$ 10 mil de uma instituição. Recebeu um “belo não”, como conta, mas não abaixou o cabeça.

No dia 11 de setembro de 2011, colocou a Favela Orgânica para funcionar dentro da própria casa, com R$ 140 que arrecadou entre vizinhas. Na primeira oficina, participaram seis domésticas amigas.

Na segunda semana, foram 10. Na terceira, já tinha mulheres de três favelas diferentes dentro da casa, até que na quarta vez recebeu 40 convidados, entre eles chefes de cozinha do Japão, Itália e França.

Continua depois da publicidade

Alimentação saudável e sustentável

A mulher simples, muito bem humorada, que ensinava como aproveitar todas as partes dos alimentos da natureza chamou atenção de especialistas envolvidos em movimentos que pregam a alimentação saudável e sustentável, resgatando relações com os agricultores, como o “Slow Food”.

Em 2012, surgiu o primeiro convite para uma viagem internacional, e lá foi Regina dividir seus conhecimentos na Itália. Recentemente a empreendedora esteve em Lyon e Paris, na França, palestrando no Cyhat, congresso internacional de gastronomia. Foi convidada para o painel de pessoas que estão inovando na gastronomia pensando no futuro.

– Quando comecei, eu já sonhei alto, porque sempre fui de correr atrás. Vou nesses lugares e dou palestra com a tradutora, mas todo mundo ri e entende o que eu tô falando, eu uso a linguagem do amor. Este ano ainda vou lançar um livro com as receitas, e vou ter um programa de televisão, mas ainda não posso contar detalhes – falou.

Continua depois da publicidade

Curta a página da Hora de Santa Catarina no Instagram

Aula de culinária e vida no Monte Cristo

Atualmente, os ensinamentos de Regina vão além do aproveitamento de talos e cascas. Utilizando sua história como exemplo, ela dá uma verdadeira lição de autoestima, valorização pessoal e força de vontade para os moradores das favelas por onde passa.

E foi assim no Monte Cristo, em Florianópolis, onde ela ministrou uma oficina na manhã desta terça-feira, no galpão de outro projeto sustentável inovador, a Revolução dos Baldinhos.

– Com a minha vida, eu aprendi que tinha que fazer diferente no lugar onde eu estou. Não é simplesmente cozinhar. Para trabalhar com os alimentos é preciso de uma energia boa. Alimento é para unir, quero fazer o resgate ao prazer de cozinhar e conversar. Eu que nunca estudei em uma universidade, hoje estou o tempo todo dentro das universidades dando cursos – contou.

Continua depois da publicidade

A moradora da comunidade Chico Mendes, Maria Edite de Oliveira, 73 anos, participou da oficina e aprovou a iniciativa:

– Muito bom. Eu cozinho sempre e muita coisa a gente acaba jogando fora porque não sabe que dá para aproveitar. Agora vou pegar as dicas. E quando chegar o livro também vou comprar – disse.

Curta a página da Hora de Santa Catarina no Facebook

Não gostava de brócolis

Quando se mudou para o Rio de Janeiro, com 19 anos, Regina foi trabalhar de doméstica na casa de uma família, onde ficou por 11 anos. Ela conta sempre ter sido muito bem tratada, e teve apoio da família:

Continua depois da publicidade

– Lá era muito bom, porque eles me respeitavam muito, eram muito humanos. Eu vim do Nordeste, era acostumada a comer macaxeira e carne do sol, não suportava um brócolis. Quando comecei a cozinhar, vi que tudo, se fosse benfeito, ficava bom. Agora já tenho meus fornecedores, vou nas feiras às cinco da manhã, já pego coisas que eles costumam jogar fora porque os clientes não gostam e aproveito.

No currículo de Regina estão banquetes para celebridades como Harisson Ford e Marcos Palmeira, além de prêmios nacionais de internacionais, como umas das 10 maiores mulheres empreendedoras do país.

– Fiz o curso da vida, e meu sonho é que o ciclo do alimento se torne uma disciplina nas escolas. Quero ajudar a levar a comida consciente para todos – finalizou sorrindo.

Continua depois da publicidade

Duas receitas deliciosas

Brigadeiro de Banana

Ingredientes

12 bananas maduras com casca

4 colheres de cacau

3 dedos de água gelada

Modo de fazer

Bater tudo no liquidificador e colocar em copinhos para servir. Se quiser enrolar, é preciso colocar no forno até que fique mais duro. Regina sugere passar amendoim em volta.

Caldeirada de Frutos da Terra

Ingredientes

Cebola

Cenoura

Pimentão

Abobrinha

Batata-doce

Berinjela

Modo de fazer

Picar todos os legumes em fatias finas com a casca, menos a cebola. Refogar a cebola e em seguida ir acrescentando os legumes, começando pelos mais duros. Temperar com coentro e manjericão. Com a casca da cebola, Regina sugere fazer um chá, que tem propriedade diuréticas e expectorantes.