A paranaense Mariana Leone, de 40 anos, mora há 10 anos em Balneário Camboriú e é prova de que é possível ser feliz, independente das circunstâncias. Diagnosticada com um tipo raro de câncer ósseo no ano passado, ela não dá chance para o desânimo. Pelo contrário, trabalha quase em tempo integral em nome de um projeto que passou a ser um lema para a vida: enfrentar o câncer com alegria e ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo. Um de seus maiores desafios, hoje, é arrecadar doações para um banco de “lenços e coisas da cabeça”, da unidade de oncologia (Unacon), do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. No local são feitas, em média, 1,5 mil consultas e 700 procedimentos de quimioterapia e hormonioterapia por mês. O setor atende pacientes de 11 municípios da região, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Continua depois da publicidade
O banco reúne aproximadamente 500 lenços, e outras coisas usadas na cabeça, como chapéus, boinas e bonés, além de perucas.
Mariana explica que tudo começou em dezembro de 2013, com a criação da página Câncer com Alegria no Facebook. Foi lá que iniciou a criação de um banco solidário com o objetivo de arrecadar os acessórios para pacientes que perderam os cabelos durante o tratamento do câncer. Pela rede social, a voluntária passou também a compartilhar parte de suas experiências, projetos e campanhas em prol da melhoria da autoestima e da qualidade de vida de homens e mulheres que, assim como ela, enfrentam a doença. Hoje, já reúne na fanpage quase 3 mil seguidores, de diversos cantos do país.
– Nosso banco já tem 30 perucas e todos os dias recebemos doações de cabelos para a confecção de mais. Porém, a profissional que faz esse serviço para nós é de Curitiba e já não está conseguindo dar continuidade ao trabalho devido a grande demanda. O ideal seria encontrarmos alguém daqui da região que pudesse fazer uma parceria conosco, até para que o custo com estas perucas diminuísse – pontua Mariana, que é farmacêutica bioquímica.
Continua depois da publicidade
Ao gosto do freguês
Segundo ela, todas as perucas disponíveis na unidade de oncologia são emprestadas e, em média, três lenços são doados às pacientes no sistema de troca-troca, criado para que o acessório possa ser substituído sempre que as mulheres enjoarem.
– Se Deus quiser, um dia eu vou conseguir que cada mulher não tenha apenas três lenços, mas milhares. Que elas possam passar lá e trocar todos os dias, e combinar um para cada look. Eu falo porque vivo isso. Não quero colocar uma camiseta colorida e um lenço com estampa de tigre, por exemplo – comenta.
Para quem quiser doar cabelos, Mariana explica que é importante procurar um bom profissional e pedir que as mechas, de no mínimo 10 centímetros, sejam separadas uma a uma, para que possam ser bem aproveitadas. Quem preferir pode ainda doar um vale-peruca. Com a doação, a paciente é levada a uma loja especializada e escolhe a peruca que mais combina com o seu perfil. O preço de uma peruca de cabelo natural pode variar em torno de R$ 1,2 mil.
Continua depois da publicidade
Beleza além dos cabelos
Casada há quase 25 anos, Mariana Leone decidiu fazer um ensaio fotográfico com o objetivo de mostrar a mulheres com câncer que é possível ficar bonita mesmo careca. Ela explica que foi apenas depois que perdeu os cabelos que passou a entender que a beleza vai muito além dos cabelos.
– Meu marido me chamou a atenção para isso, e foi aí que eu reparei na minha imagem careca e pude ver como eu tenho olhos lindos. Comecei a entender que cabelo não é tudo – pontuou.
Ela conta que, nas andanças na luta contra o câncer, encontrou muitas mulheres, ainda jovens, que estavam com o casamento marcado quando receberam o diagnóstico e que devido a perda dos cabelos chegaram a desmarcar a cerimônia.
Continua depois da publicidade
– Depois que a campanha alcançou repercussão na mídia, tenho tido um retorno surpreendente. Tenho ouvido histórias de mulheres que já retomaram os sonhos de se casar, mesmo carecas – observou.
A maquiagem, foto e o vestido usado na campanha foram doação de voluntários.
Foco na autoestima e na qualidade de vida
Ao lado de Mariana Leone e de outras três voluntárias, a enfermeira oncologista e coordenadora da unidade de oncologia do Hospital Marieta em Itajaí, Pâmela Cabral Finato encabeça o grupo “Apaixonados pela vida – na luta contra o câncer”. A iniciativa envolve os pacientes da Unacon em oficinas de artesanato, fotografia, palestras, encontros da alegria, dia da beleza e dia do câncer com alegria, com o objetivo de melhorar a autoestima e a qualidade de vida.
A artesã Maria Ingrid Antezana mora em Balneário Camboriú e desde abril de 2012, quando descobriu um câncer de mama, com metástase nos dois pulmões e nos ossos, se trata na unidade. O artesanato e os encontros que o departamento de oncologia do Hospital Marieta promove têm lhe ajudando a tirar o foco da doença.
Continua depois da publicidade
– A gente nem lembra que está doente. Só mesmo porque tem que ir ao médico e fazer as químios. No resto, eu levo uma vida normal – conta Ingrid, que comanda as aulas voluntárias de patchwork, nas oficinas de artesanato promovidas pela unidade.