Uma oportunidade em meio a um mundo desconhecido, mas que inspira para alcançar conhecimento e até mesmo uma vaga de emprego para quem convive com as dificuldades da deficiência e outro fator limitador: o preconceito no mercado de trabalho. Essa é a realidade para 36 alunos do curso de tecnologia inclusiva, uma parceria do Sesi com as empresas Sênior Sistemas e GovBR, mais o Sindicato das Empresas de Processamento de Dados, Software e Serviços Técnicos de Informática do Estado de Santa Catarina (Seprosc). Duas vezes por semana, o grupo participa de aulas que vão desenvolver competências e habilidades profissionais para ingressar no mercado da tecnologia, um dos principais eixos da economia de Blumenau.Magali Otto, 52 anos, que possui deficiência física, conhece as dificuldades para conseguir emprego e aposta no curso.

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– É uma oportunidade que surgiu e esta parceria com as empresas me deixou muito esperançosa de conseguir um emprego na área de tecnologia, que é um desafio – conta a aluna, que atualmente trabalha no setor de produção de uma empresa na cidade.

O projeto recebeu 77 inscrições e teve 36 alunos selecionados. Novas inscrições já estão na mira, pois outras empresas estão interessadas nesta captação de talentos, de acordo com a organização.

– Temos matriculados alunos com autismo, deficiência auditiva, física, visual e intelectual, que terão a oportunidade de aprender sobre tecnologia e aumentar suas possibilidades neste mercado. Toda a metodologia está sendo adaptada com recursos de acessibilidade para que os alunos possam acompanhar com tranquilidade. Os interessados em conseguir uma vaga nesses cursos de inclusão podem fazer inscrição prévia na página facebook.com/inclusaosesi – completa a consultora do programa, Thaís Tavares Pompeo.

Durante as aulas, um técnico especialista ministra o conteúdo, acompanhado por um intérprete da linguagem de sinais que auxilia a comunicação com os deficientes auditivos e um professor de apoio, dando subsídios principalmente para o uso dos recursos tecnológicos aplicados em sala. O projeto atende demandas no setor tecnológico e também a Lei 8.213, de 1991, que prevê que empresas com 100 ou mais colaboradores são obrigadas a preencher de 2% a 5% de seus cargos com pessoas com deficiência (PCD) ou reabilitados.

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A lei trouxe grandes conquistas para essa parcela da população. Segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, há cerca de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência – quase 24% da população. Entretanto, na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), feita em 2015 pelo Ministério do Trabalho, apenas 403,2 mil vínculos empregatícios são declarados como PCDs, o que representa 0,84% do total de empregos formais no Brasil.

O setor de TI em Blumenau, hoje tem cerca de 1,3 mil empresas na cidade e muitas têm dificuldade em recrutar PCDs. Com esta demanda reprimida, surgiu a parceria para capacitar e inserir as pessoas com deficiência na área de tecnologia, conforme explica o diretor executivo do Seprosc, Edílson Paterno.

– O Sesi apresentou um projeto e salientou que não é somente no setor de TI que há esta necessidade. Com isso, todos os envolvidos resolveram fazer este curso para poder formar estas pessoas para ter uma noção básica em TI, com isso facilitar a contratação deste trabalhador pelas empresas do ramo – conta Paterno.

Projeto em duas etapas

O diretor-executivo do Sindicato das Empresas de Processamento de Dados, Software e Serviços Técnicos de Informática do Estado de Santa Catarina (Seprosc), Edílson Paterno, explica que o projeto têm duas etapas: a primeira é a qualificação dos alunos e a segunda é a preparação das empresas. Durante três meses, em paralelo ao curso, o Sesi vai dar consultoria para quem precisa contratar, para que os setores saibam receber estes funcionários.

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Para Anderson Lutero Weber, que possui deficiência auditiva, esta é uma grande oportunidade de conseguir uma colocação no mercado de trabalho e mudar o paradigma que o deficiente é incapaz.

– Vou descobrir agora sobre o setor de tecnologia, nunca tive acesso a esse conhecimento. Na verdade isso vai servir para mostrar às empresas que somos capazes. Quero mostrar para eles que podemos aprender e desenvolver nosso potencial. Quanto mais as empresas se abrirem vão descobrir as qualidades dos deficientes. Não é só por causa de uma lei, é preciso diminuir a desigualdade, diminuir o preconceito – diz determinado o jovem de 29 anos, que hoje trabalha na indústria.

Herian, Anderson e Magali, assim como os demais alunos do curso esperam que o aprendizado seja um novo caminho profissional, que permita conquistas e a inclusão não signifique uma exceção no mercado de trabalho.