Fazer uma faculdade. Conquistar a casa própria. Ser mãe. Ter o próprio negócio. Sonhar, pelo dicionário, significa querer muito alguma coisa. Sonhos não têm gênero, classe, cor ou prazo de validade. E o mais importante, não existe idade limite para tê-los. Pensando nisso, a turma de alfabetização da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA), Núcleo Sul I, na Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, realizou a Campanha para Sonhar. A ideia surgiu como tentativa de estimular as pessoas a pensarem sobre suas expectativas de vida.

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Severinas

O primeiro passo foi assistir ao curta “Severinas”, um documentário com titulares do programa Bolsa Família, que conta como as mulheres sertanejas estão começando a transformar seus papéis na família e na sociedade do interior do Piauí, libertando-se da servidão ao homem e da miséria.

Os alunos realizaram um debate sobre questões relacionadas à pobreza, machismo, trabalho, expectativa de vida, falta de acesso a políticas de inclusão social e desigualdades sociais.

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Após isso, fizeram uma leitura do curta, concluindo que os sonhos têm importante papel na vida das pessoas, sendo muitas vezes o dispositivo que as faz seguir em frente.

Durante a discussão da atividade, alunos e alunas se identificaram com falas dos personagens que diziam coisas como: “Quero que meus filhos estudem e tenham outra vida, diferente da que eu tive”; “Não quero me casar cedo, quero estudar”; “Antigamente a vida era muito mais difícil”; “Meu pai também achava que mulher nasceu somente para casar e ter filhos”; “Tive que mudar de cidade para melhorar de vida”.

Na sequência, os alunos produziram cartazes expondo seus desejos de vida e os compartilharam em uma campanha na página do Facebook da unidade.

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Alguns dos sonhos

O estudante Gilson Rosa, de 21 anos, é natural de Foz do Iguaçu, no Paraná. Qual o sonho dele?

— Acho legal morar no sítio porque gosto de cavalos e de cuidar dos animais. Minha mãe tem um sítio em Medianeira e já morei lá. Agora que moro em Florianópolis não consegui. Se eu morasse em um sítio a vida seria diferente, a gente sonha na tentativa de realizar e espero um dia conseguir.

Cozinheiro e pizzaiolo, Luciano da Silva Barbosa tem 62 anos e é natural de Recife, em Pernambuco:

— Sou cozinheiro e ouço muitas orientações das nutricionistas que não acho corretas. As nutricionistas sabem a teoria e eu sei a prática, quero fazer faculdade de nutrição para saber se o que faço no meu trabalho está correto.

Luciano sempre aspirou ter acesso ao ensino superior, porém não foi possível porque sempre precisou trabalhar em jornada dupla.

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— Há tempo para tudo e eu vou morrer só depois de fazer tudo o que eu quero. Sonhar é muito bom porque é uma expectativa de realização.

Natural de Ilhéus, na Bahia, Lucas Ferreira Santos Costa tem 29 anos e é ajudante de caminhão, na carga e descarga de materiais de construção.

— Sonho em fazer uma faculdade porque é uma garantia de ter uma profissão. Não consegui quando era mais novo porque sempre tive que trabalhar dois turnos, o que não me permitia estudar. Vim para Florianópolis e voltei a estudar porque EJA é à noite e atende as minhas necessidades. Quero fazer engenharia para construir prédios.

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Lucas conta que mudou de vida depois que veio para a Capital:

— Parei de beber e de fazer coisas que não eram boas para mim.

Tatiane dos Santos, nascida na Capital, tem 34 anos e é dona de casa.

— Sonho em ser mãe porque gosto muito de crianças. Já tentei, mas não consegui engravidar então agora estou fazendo tratamento. Acho que conseguirei engravidar e serei uma boa mãe, quero criar meu filho com muito amor e carinho. Gosto de sonhar porque me faz bem.

Recomeços e mudanças

— Sabemos que a educação sozinha não é capaz de mudar a realidade social de nossos alunos, mas tem papel importante quanto ao acesso ao conhecimento formal que leva ao mercado de trabalho, quanto espaço de discussão da realidade e integração social e quanto caminho para promoção da cidadania —avalia Janete Elenice Joge, coordenadora do Núcleo EJA Sul I.

Confira os endereços e telefones dos núcleos EJA em Florianópolis.