Os mangues fazem parte das lembranças de Paula Sestari, 33 anos, desde a infância. O solo lodoso e o cheiro característico deste tipo de ecossistema ainda estão presentes no cotidiano da professora. Paula vive e trabalha no Aventureiro, bairro que, junto com o Espinheiros, reúne a maior concentração de manguezais da cidade. E foi inspirada no convívio diário com esta paisagem que ela levou para a sala de aula um aprendizado reconhecido nacionalmente.

Continua depois da publicidade

A proposta de Paula, de tão simples, foi considerada inovadora. Ela apenas fez com que as crianças do centro de educação infantil onde trabalhava valorizassem o que estava do outro lado do muro que dividia o parquinho do terreno ao lado. A área de manguezal, que por vezes era menosprezada pela aparência, virando até mesmo um estigma para o bairro, passou a ser vista pela riqueza e importância para a biodiversidade.

Com o projeto que levou às crianças do CEI Odorico Fortunato para passeios de escuna pela baía da Babitonga até a construção de um observatório, deu a ela o título de Professora Nota 10 de 2014. Por trás do reconhecimento estão anos de ligação com a cidade e o compromisso nato com o ensino.

Como muitas famílias paranaenses, a de Paula veio para Joinville motivada por uma vaga de emprego em uma grande indústria de fundição da cidade. Paula fez todo o ensino fundamental e médio na rede pública e, quando pôde escolher qual profissão seguiria, não teve dúvidas. Dos 14 aos 18 anos, Paula até trabalhou na indústria, mas o sonho de ser professora sobressaía às ofertas de qualificação em outras áreas.

– Passei no meu primeiro concurso com 18 anos para ser secretária de escola até me formar e poder prestar (concurso) novamente para professora.

Continua depois da publicidade

Ela já atua há dez anos na rede infantil, sempre no bairro onde a família se estabeleceu e a motivou a querer trabalhar para melhorá-lo.

– Havia questões sobre a região que eu mesmo desconhecia, que não aprendi na minha época de estudante.

A importância que as crianças aprenderam em aula acabou sendo difundida para a comunidade a partir do prêmio nacional. Mais do que o reconhecimento, Paula ganhou um propósito para ingressar no mestrado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e poder refletir teoricamente o que vivenciou na prática.

– Agora, estou tendo a oportunidade de levar o projeto para a comunidade científica.

Hoje ela dá aulas no CEI Castello Branco, mas seu projeto tem continuidade nas instituições pelas quais ela passou. Além disso, os mutirões de limpeza passaram a ser uma prática recorrente no bairro.

Continua depois da publicidade

Textos: Rafaela Mazzaro, especial