Tão popular quanto a lenda da serpente do Tanque, que todo lageano cresce ouvindo, é a história de que uma das maiores e mais antigas instituições de ensino da Serra Catarinense teria sido projetada por Oscar Niemeyer.
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Inaugurado em março de 1964, o Colégio Industrial sempre foi motivo de orgulho para a região pelo seu desenho supostamente assinado por um dos arquitetos mais importantes do mundo. Mas basta uma investigação um pouco mais aprofundada até a verdade: a antiga hipótese, pelo menos até agora, não passa de um mito.
Para acabar de vez com a dúvida, o Diário Catarinense consultou fontes com conhecimento de causa, e nenhuma delas atribui ao mestre da arquitetura brasileira o projeto do Industrial, que em março de 2000 teve o nome alterado para Escola de Educação Básica de Lages.
Após recente reportagem publicada no fim de outubro sobre problemas de estrutura do prédio da escola, a arquiteta Lilian Fabre, da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no estado do Paraná, entrou em contato com o DC para contestar a informação de que o projeto era de Niemeyer.
Lilian, que é lageana e desenvolveu uma pesquisa acadêmica sobre o Colégio Industrial, explicou que o erro ocorre pelo fato de o estilo arquitetônico do Industrial – modernismo carioca – ser o mesmo das obras de Niemeyer.
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Nesta quinta-feira, a Fundação Oscar Niemeyer, sediada no Rio de Janeiro, alegou não ter nenhum registro sobre o Industrial e garantiu que o projeto não está na relação de obras do arquiteto.
Quem também argumenta contra o mito é a própria direção da escola. As diretoras Teresinha Ortiz, Nereida de Andrade e Claudia Macedo lembram que, há dois anos, questionaram o escritório de Niemeyer no Rio de Janeiro sobre o Industrial, e a resposta recebida foi a de que o projeto não é de autoria dele e que, se existe alguma influência, é pela hipótese de algum ex-aluno de Niemeyer ter feito o projeto inspirado nas obras do professor.
As diretoras lembram ainda que uma professora da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), sediada em Lages, chegou a fazer um intenso trabalho de pesquisa, inclusive em Brasília, para saber a verdade sobre a arquitetura do Industrial, mas nenhum indício de Niemeyer foi encontrado e sequer a verdadeira autoria do projeto é conhecida até hoje.
Em maio deste ano, pais, alunos e professores da escola protocolaram um pedido à Assembleia Legislativa para manter a palavra Industrial no nome da escola e ajudar, por meio de pesquisas histórias, a descobrir quem foi o autor do imponente prédio de 47 anos.
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– O projeto pode até ter sido desenvolvido por alunos do Niemeyer e assinado por ele, mas nunca ninguém conseguiu provar -, diz a professora Audelina das Graças Olivo que, como ex-aluna e atual funcionária, está há 37 anos na escola e sempre ouviu a mesma história.
Como professora de Artes, Audelina pesquisou o suposto projeto de Niemeyer em 1985, mas nunca encontrou nenhum indício.
Já no Museu Thiago de Castro, um dos maiores acervos particulares do Estado, localizado em Lages e que guarda documentos datados desde 1770, a historiadora Carla Souza diz não haver nenhuma referência histórica sobre o suposto trabalho de Niemeyer no Industrial.
– Não há nada que comprove, e se realmente fosse dele, certamente teríamos documentos.
Localizado na Avenida Dom Pedro II, no Bairro Vila Nova, o Colégio Industrial conta com 1,6 mil alunos e 100 funcionários. Com vários problemas de estrutura, o prédio, que conta em sua fachada com três mosaicos feitos por Martinho de Haro, um dos principais artistas catarinenses, deve passar por uma reforma completa em 2013 com investimentos de R$ 5 milhões do governo do Estado.
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