Desde 2009 se arrasta o processo de licitação do transporte coletivo de Florianópolis, que deve definir quais empresas poderão explorar o sistema. A concessão do transporte é da prefeitura da Capital.
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O último passo dado na elaboração do projeto de licitação é a entrega do levantamento nas cinco empresas de transportes que operam na Capital para verificar qual é a situação financeira do sistema. A auditoria deve ser lançada na próxima semana, de acordo com o secretário de Transportes, Mobilidade e Terminais, João Batista Nunes. O auditor-fiscal tinha 70 dias para entregar o relatório, mas o trabalho se estendeu por um ano.
Segundo o secretário, os três anos de demora na elaboração da licitação são decorrentes da complexidade da concessão. João Batista afirma que na próxima semana serão reveladas as exigências que constarão no documento que abrirá concorrência às empresas de transporte como, por exemplo, veículos com ar condicionado. A concessão valerá pelos próximos 20 anos.
João Batista afirma que o processo seguirá modelo de outras cidades, como Curitiba e Chapecó, que têm uma só uma empresa operando no transporte coletivo ou várias que funcionam em sistema de consórcio. A mudança principal será na integração do transporte que reduzirá custos, segundo o secretário.
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– Vamos acabar com a regionalização do sistema de transporte. Para evitar erros, o processo passa por várias etapas. Mas o processo de licitação nunca esteve parado – declara.
Em razão da demora, o secretário de Transportes não consegue mais falar de prazos para o lançamento do edital, prometido desde 2009, período que venceu a concessão para as empresas continuar a prestação dos serviços. Diante do impasse na época, o prefeito Dário Berger prorrogou a concessão em caráter emergencial até a conclusão da nova licitação.
Depois de concluída a auditoria, todo o material seguirá para análise no Tribunal de Contas do Estado e se não houver modificações, aí sim, o edital será lançado e empresas de todo o país poderão participar da concorrência. O processo de escolha para novas empresas explorarem o serviço é apontado pela prefeitura como a única saída para melhorar o sistema de transporte. De acordo com a procuradoria geral do município, depois da licitação as linhas passariam a ser definidas em lotes.
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Os novos permissionários devem dar manutenção aos abrigos de passageiros, e disponibilizar de mapas com informações de itinerários e horários das linhas de ônibus.
Enquanto aguardam a tão prometida melhoria na oferta dos serviços de transporte urbano, os passageiros da Grande Florianópolis voltaram ontem às paradas de ônibus, depois de três dias de greve dos motoristas.
O transporte por especialistas
Os empresários alegam prejuízos. Os motoristas reclamam das condições de trabalho. Os usuários reclamam do serviço. Para saber por que o transporte público de Florianópolis não funciona, ouvimos especialistas.
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Por que o transporte público na Capital não funciona?
Lenise Grando Goldner – doutora do departamento de engenharia de transportes da UFSC
– O transporte coletivo da Capital tem muitas dificuldades, no ordenamento das linhas, não são bem distribuídas, excesso de transbordo nos terminais. Pega um ônibus para tomar o próximo. São os transbordos, entre uma linha e outra, dependendo do trajeto, tem mais transbordo que deveria, poderia ser uma viagem mais direta.
Alina Gonçalves Santiago – professora do departamento de Arquitetura da UFSC
– Os ônibus coletivos da Capital não garantem a frequência, não garantem os trajetos, são confusos, são longos, são terminais que prolongam o tempo de viagem enormemente e não atingem a todos os usuários. Não têm qualidade.
Werner Kraus Junior – coordenador da Câmara de Mobilidade do Fórum da Cidade
– Porque as empresas são privadas, defendem seus interesses. Sendo assim, para formar o preço, as linhas e o estado dos ônibus se leva em conta o que a empresa quer e não o que o usuário precisa. Além disso, os ônibus jamais deveriam dividir o mesmo espaço com os veículos. Somente pelo fato de trafegar em uma canaleta exclusiva – pista somente para ônibus – quem usa o transporte coletivo chegaria mais rápido, não ficaria parado no congestionamento.
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Isso motivaria muitas pessoas a deixar o carro em casa. Outro aspecto é a pontualidade. Ônibus precisa ser fiel ao usuário. Deve sair todos os dias do mesmo horário em todas as paradas. Mais uma motivação para mudar o pensamento das pessoas. Hoje, como as vontades privadas valem mais, se oferece tarifa alta, veículos desconfortáveis, que trafegam devagar, que se atrasam. Assim está longe de ser eficiente.
Qual a solução a curto prazo?
Lenise Grando Goldner
– Seria uma questão de reestudar o planejamento do transporte coletivo. Atualizar as linhas, os transbordos, a função dos terminais de integração. O transporte poderia melhorar com o reestudo. A médio prazo a implantação do projeto de transporte rápido, o BRT, poderia melhorar a capacidade do sistema.
Alina Gonçalves Santiago
– A curto prazo, reestruturação da frota, da frequência, das linhas de ônibus para que pudessem atingir um público maior e garantir o atendimento do serviço. A médio e longo prazo, há outros tipos de transporte, só o ônibus, inoperante, não vai resolver o problema de circulação pública.
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Tem que ter outros meios de transporte. Com a essa configuração urbana, precisaria ter a parceria em vários meios de transporte. O hidroviário é importante, mas sozinho não resolve, tem que ter acoplado transporte sobre trilho, corredores de transporte rápido e ser pensado mais de maneira global, integrada e não isolada.
Werner Kraus Junior
– Ouvir o cidadão, enfraquecer a influência das empresas, deixar o serviço nas mãos de estatais, ser realmente público. Com subsídios voltados para a melhorar o transporte e não voltado para o lucro das empresas. Se fosse público não geraria lucro e os interesses estariam focados nas necessidades do usuário.