Diagnosticada com câncer de endométrio em janeiro de 2024, Eliana Cecília Vieira, moradora de São José, na Grande Florianópolis, resolveu raspar todo o cabelo antes de começar o tratamento de quimioterapia. Aos 60 anos e sem conseguir se identificar com a imagem que via no espelho, a auxiliar de laboratório aposentada do Hospital de Florianópolis encontrou na Associação de Voluntários do Cepon (Avoc) uma forma de resgatar a autoestima através do projeto de empréstimos de perucas. 

Continua depois da publicidade

Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp

A ação, promovida pela Avoc, funciona desde 2014 no Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), em Florianópolis, e é voltada a pacientes em tratamento de câncer. Entre janeiro e outubro de 2024, o projeto beneficiou 170 mulheres diagnosticadas com a doença. Segundo Claúdia Amendola, diretora de comunicação da associação, os cabelos para a produção das perucas chegam de forma espontânea, através de doações de pessoas interessadas em ajudar outros pacientes.

Para fazer a doação, é necessário que o cabelo tenha no mínimo 20 centímetros, esteja amarrado e higienizado. De acordo com a associação, os pacientes costumam encontrar o projeto, geralmente, através do encaminhamento médico.

Renda é fator determinante no tratamento de câncer em SC

Continua depois da publicidade

— Quando o paciente chega com o cabelo grande, antes de cair, por exemplo, eu proponho que ela corte e faça a peruca com próprio cabelo dela — explica.

Contudo, caso o paciente chegue à Avoc com o cabelo raspado, ela pode escolher entre levar uma das perucas que estão expostas na vitrine do local ou alguma que está dentro das quatro caixas cheias. Cláudia explica que as perucas são produzidas por duas profissionais parceiras de Joinville e Florianópolis.

— A gente recebe o cabelo, ele é embalado de acordo com o tamanho, independente de cor, e trocamos um quilo de cabelo por peruca. Uma peruca gasta, mais ou menos, 300 gramas de cabelo. Os 700 gramas que sobrariam seria o lucro delas [das parceiras] — diz.

O projeto funciona na base do empréstimo, ou seja, o paciente preenche um formulário ao pegar o cabelo e devolve a peruca ao terminar o tratamento. Mesmo assim, a Avoc não delimita um prazo para que a devolução seja feita.

Continua depois da publicidade

— Tem pessoas que morrem e são enterradas com as perucas porque o paciente ou o parente não quer que seja enterrado sem. A gente fala em empréstimo porque é importante para que outras pessoas também possam usar — pontua.

Veja as fotos do projeto

“Como se eu tivesse renascido” 

Eliana descobriu o projeto em outubro de 2024, 12 meses após o diagnóstico do câncer, através de uma reportagem sobre o Outubro Rosa. Em busca de uma peruca com cabelo de verdade, ela viu na Avoc uma oportunidade de realizar o desejo e conseguir a autoestima de volta. 

— Quem deu essa peruca, deu com muito amor, porque para dar uma quantidade de cabelo, com certeza foi com amor — diz.

Continua depois da publicidade

Apesar de ter os cabelos naturais da cor preta, a aposentada escolheu na Avoc uma peruca loira por se identificar com a coloração. A sensação de colocar os cabelos novos foi, segundo ela, de renascimento:

— Eu me vi pela segunda vez como se eu tivesse renascido porque eu já não me identificava mais careca. […] É uma fase. Eu vou ficar melhor e vou deixar meu cabelo crescer de novo. 

Assim como Eliana, o projeto resgata a autoestima de outras mulheres diagnosticadas com câncer em Santa Catarina. Para Cláudia Amendola, da Avoc, além do resgate ao amor próprio, as perucas ajudam também no processo do tratamento da doença.

— Ela poder vir aqui, achar uma peruca que está de acordo com o cabelo dela, ou então fazer uma peruca com o próprio cabelo. Isso eu já diria que é meio caminho do tratamento andado. É o fato dela já se sentir mulher novamente, de se olhar e de ter o cabelo — fala a diretora de comunicação do projeto.

Continua depois da publicidade

Veja as fotos

Como doar cabelo?

As doações podem ser entregues diretamente na sede da Avoc, que fica no CEPON (Rod. Admar Gonzaga, 655 – Itacorubi, Florianópolis). O cabelo doado deve ter, no mínimo, 20 centímetros e pode ser natural ou com química. É essencial que as mechas estejam limpas, secas e amarradas.

Leia mais

Câncer de colo de útero também é parte da campanha Outubro Rosa

SC deve registrar 3.860 novos casos de câncer de mama em 2024