A Revolução dos Baldinhos, projeto de coleta de lixo na comunidade Chico Mendes, em Florianópolis, aguarda a desapropriação de área de 5 mil metros quadrados pela prefeitura para concretizar um processo de ampliação iniciado em 2012. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc) já liberou, em novembro de 2012, R$ 203,4 mil para o trabalho de desenvolvimento técnico-científico e melhoria de infraestrutura.
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Parte da verba já foi aplicada para pesquisa e trabalhos acadêmicos. Mas a etapa que contempla uma nova área de compostagem, com construção de cercas, drenagem de terreno e compra de uma máquina carregadeira, ainda depende de liberação, por parte da prefeitura, de uma área que hoje pertence à multinacional Walmart. O poder municipal já publicou o decreto de desapropriação do terreno, mas até agora, a decisão não saiu do papel.
A verba disponibilizada pela Fapesc tem prazo para a aplicação, que já foi postergado duas vezes para tentar atender o projeto. Se não houver mobilização para liberação do terreno até o fim de outubro, parte dos recursos da instituição, avaliados em R$ 150 mil, terão de ser devolvidos pelo projeto à Fapesc.
A Fapesc afirma que avaliou positivamente a proposta da Revolução dos Baldinhos, reconhecendo o importante mérito social e ambiental, investindo na pesquisa técnico-científico, para o aprimoramento do modelo de gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana e as ações que envolvem o pátio de compostagem descentralizado. Foram incluídos como intervenientes no projeto o Departamento da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) e a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), além da UFSC como instituição de vínculo do pesquisador responsável, e incorporadas metas de caráter tecnológico. Desta forma, o projeto foi contratado, com a liberação do valor total, R$ 203.400,00 em 29 de novembro de 2012.
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Empresa tem interesse em formar parceria
Segundo o gerente de relações institucionais da multinacional Walmart, Eduardo Cidade, o projeto será analisado pela área de sustentabilidade e segurança alimentar da empresa e o decreto de desapropriação passará pelo setor jurídico. Como mesmo depois das aprovações internas passará ainda pelo comitê da área internacional, não é possível prever uma data.
– Evidente que sendo aprovado, seremos um dos parceiros do projeto – garante Cidade.
O secretário municipal de Habitação e Saneamento Ambiental, Domingos Savil Zancanaro apoia a iniciativa e afirma que traz ganhos para a cidade com a geração de renda, incentivo do tratamento do lixo e o crescimento social.
– Dependemos de uma lei e estamos estudando uma melhor forma para ajudar a todos. Os proprietários se mostraram interessados e isso não pode ser considerado como primeiro, mas sim como um grande passo para que o processo seja rápido. Entendemos o projeto como fundamental não apenas para a comunidade envolvida, mas para toda a cidade – avalia Zancanaro.
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Trabalho é feito com ajuda de voluntários na comunidade
Com ou sem a ajuda do caminhão do Departamento de Coleta da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), aproximadamente 12 toneladas de lixo por mês são levadas para a Escola Estadual Básica América Dutra Machado, onde hoje funciona o processo de compostagem do projeto.
Sem o apoio do caminhão, o trabalho é feito entre três bolsistas, duas mulheres e um homem. Trocam as bombonas cheias de resíduos por outras vazias enquanto uma nova equipe prepara a compostagem na escola. Enquanto é feita a reciclagem do material com a chegada de mais lixo orgânico, a voluntária Ana Karolina da Conceição, 33 anos, começa a lavar os recipientes e preparar tudo para a próxima.
Iniciativa local foi reconhecida no país
Grávida de oito meses, pretende trabalhar até o dia em que o seu segundo filho nascer. Sua família foi uma das cinco primeiras adotadas no começo do projeto.
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– Nunca imaginava que o lixo de minha casa poderia se transformar em adubo de boa qualidade. A compostagem é o foco para tirarmos o lixo das ruas – afirma.
Três pessoas com carteira assinada mais um agrônomo são pagos por meio de um prêmio socioambiental da Oi Futuro. Duas voluntárias recebem de acordo com as vendas de composto ensacado e sabão produzido com o recolhimento de óleo da vizinhança.
A tecnologia social foi criada na própria comunidade onde todos participaram com a construção de uma gestão comunitária. Cerca de 120 famílias e nove instituições locais atuam no projeto.
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Em 2011, a Revolução dos Baldinhos foi certificada como Tecnologia Social. Em 2013 ficou em segundo lugar no Prêmio Tecnologia Social da Fundação do Banco do Brasil. Com esse prêmio foram convidados a fazer parte da Política Nacional de Moradia, e o Programa Nacional de Habitação Urbana, que agora, através da fundação, poderá reaplicar o projeto da comunidade Chico Mendes.
Florianópolis gasta anualmente a média de R$ 24 milhões para transportar e tratar o lixo em um aterro com licença ambiental em Palhoça a um custo de R$ 136 por tonelada. O valor poderia ser reduzido e revertido para a comunidade transformar o lixo orgânico em compostagem e impulsionar um modelo de gestão comunitária.
A Revolução dos Baldinhos usa o método antigo dos camponeses indianos no manejo simples e fertilização do solo. Prática artesanal usa sobras, palha e serragem que permitem a oxigenação e não deixam que ocorra a produção de gases como o enxofre.
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