No Universo existem cerca de 10 sextilhões de estrelas. São tantas que muitas vezes não são visíveis aos nossos olhos. Mas existem alguns grupos que estão com olhos atentos para o céu à procura da primeira variação que aparece na imensidão. 

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Em Santa Catarina existe um grupo de garotas com olhos ávidos para todas as estrelas na esperança de encontrar e identificar um asteroide para chamar de seu e assinar seu nome na história da ciência. 

Participantes do programa Meninas nas Ciências, garotas de diferentes idades fazem parte do programa Caça Asteroides, uma iniciativa da Nasa que visa incentivar pessoas de qualquer idade ao redor de todo o mundo a fazerem parte do processo de prática científica. 

Caçadores de Asteroides 

No Observatório em Mauna Kea, no Oceano Pacífico, na ilha do Havaí, está localizado o NASA Infrared Telescope Facility (NASA IRTF), o telescópio responsável por captar imagens do espaço para análise. Essas imagens são enviadas à Nasa, que as disponibiliza para estudantes e cientistas ao redor de todo o mundo. 

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No Brasil, o Caça Asteroide faz parte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com o IASC/NASA Partner, e tem como objetivo permitir a análise de imagens e detectar possíveis asteroides. As análises são feitas pelo software Astrometrica, também disponibilizado pela própria Nasa. 

A primeira edição no Brasil, foi iniciada em 2020 no auge da pandemia onde famílias, amigos, vizinhos em seus lares participaram da análise de dados astronômicos na busca por asteroides. E em 2021, formando 700 equipes, foram feitas 1.223 detecções fracas de preliminares e mais de 100 detecções fracas de asteroides provisórios. 

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A detecção de asteroides se dá a partir da observação de um objeto em movimento com um padrão de um asteroide, então são gerados relatórios e enviados à Universidade de Harvard para a confirmação da descoberta. 

Quando uma atividade assim é observada dá até para imaginar aquelas cenas de filmes hollywoodianos, cheios de cientistas. Mas o mundo real não é bem assim. E algumas vezes muito mais emocionantes do que Hollywood faz a gente acreditar.

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Quem são as Meninas na Ciência? 

Há cinco anos, Gabriela Kaiana Ferreira, chegou como professora do Departamento de Física na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o sonho de trabalhar com meninas e mulheres na ciência. 

O sonho dela começou quando ainda era professora da Universidade Federal do Paraná e participava do Centro de Estudos do Mar (CEM), um projeto que busca a valorização de professoras dentro das pesquisas científicas. E foi na UFPR que o projeto Meninas na Ciência iniciou, após uma porta ser fechada naquele ano. 

— Nossa equipe tinha 15 professoras e técnicas, e nos inscrevemos em um edital para bolsas em 2017 de meninas e mulheres na ciência. Nosso projeto não foi contemplado, mesmo com uma nota alta, e foi ali o meu pontapé para a criação do Meninas na Ciência —  conta Gabriela. 

Com a ideia do projeto apresentado na aplicação do concurso para a UFSC, ela criou e orienta até hoje o projeto de extensão Meninas na Ciência. Inicialmente o projeto tinha como objetivo trazer mulheres para projetos na ciência e na pesquisa. Mas atualmente, Gabriela vê com diferentes olhos o impacto do projeto na importância da representação de mulheres na vida dessas alunas.  

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— Não consigo nem ter dimensão de quantas meninas foram afetadas ou se beneficiaram com o projeto, que fez com que elas pensassem em conquistar algo que elas achavam que não eram capazes — afirma Gabriela.

A professora Gabriela vê no projeto Meninas na Ciência a sua filha de cinco anos, ao ver elas dando seus primeiros passos e criando sua própria opinião agora que vê suas alunas tomando as rédeas da situação.

Projeto permite o reconhecimento na ciência

As Caças Asteroides: grupo de garotas que desbravam o universo

O projeto Meninas na Ciência permitiu que uma das bolsistas da professora Gabriela pudesse apresentar a criação de uma equipe para as caçadores de asteroides aqui em Florianópolis. E em menos de um ano o grupo já reúne 140 meninas.

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Saber que existem meninas que estão interessadas em atuar na ciência e que possuem sonhos iguais foi uma das razões pelas quais Anna Carolina Monn, de 23 anos, estudante de Física na UFSC, entrou no projeto e hoje em dia é uma das líderes de equipes nas Caça Asteroides.

— Quando a gente está em um curso de ciências exatas, como física, matemática e engenharia, estamos acostumadas a ter poucas meninas. Então quando você encontra um projeto que você se identifica, você participa e consegue contribuir é muito gratificante. Ainda mais que consigo colher esses frutos para minha formação profissional, por conseguir promover tipos de atividades com contato direto com a ciência — afirma Anna.

Gabriela Gauche, de 27 anos, é professora de física na Escola Social Marista da comunidade do Monte Serrat, em Florianópolis e lidera uma equipe de caçadoras de asteroides na escola, após convite da orientadora Gabriela Kaiana.

— Fiquei muito empolgada pois desde minha graduação eu já trabalhava com as questões de gênero e o incentivo às ciências. Meu próprio TCC foi sobre o tema, foi ali que entendi a importância de nós, mulheres, estarmos naquele ambiente e também que aquela sensação de estar no lugar errado não tinha relação com minha capacidade — conta ela.

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O projeto das caças asteroides permite que meninas de diferentes idades possam conhecer o poder de suas opiniões. Betina Ariane Machado Rott, é uma bailarina de 15 anos curiosa com o universo se tornou uma caçadora após um trabalho na feira de cursos sobre buracos negros ser seu ponto de partida para ser uma cientista mirim.

Ela vê no projeto hoje uma forma de conhecer sobre a área que tem tanto interesse, mas também uma forma de criar suas próprias opiniões.

— Encontrei no projeto uma forma de ter minha própria opinião, pois consegui criar confiança o suficiente para isso a partir do projeto — disse a jovem cientista.

Betina conta que sua participação no projeto é motivada pela curiosidade de seus colegas sobre suas descobertas.

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— Eu já cheguei a apresentar o funcionamento dos caçadores de asteroides para meu professor de física, mas é muito legal que as vezes muitas pessoas chegam para gente e perguntam como funciona o projeto e como faz para entrar, inclusive os meninos — ela relembra.

Gabriela Kaiana, orientadora de todas as alunas, afirma que sente orgulho ao ver suas alunas se tornando referência na pesquisa para outras alunas e sente cada vez mais quando vê o olhar de admiração sendo direcionado para suas orientandas.

— É como se eu tivesse uma filha de 5 anos que está indo pra escola sozinha, e criando a própria opinião. Minhas alunas estão aprendendo para além do círculo científico — conta Gabriela.

Projeto incentiva a independência das alunas

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Apoio entre gerações

O projeto permite que meninas mais novas possam reconhecer um trabalho futuro na ciência ao ver as funções de meninas mais velhas, mas também permite reconhecer que todas ali possuem o mesmo objetivo.

— Mesmo eu sendo uma das mais novas, quando estamos reunidas é como se a gente tivesse a mesma idade, pois ali a gente conversa sobre algo que todas gostamos, além de todo mundo ter o mesmo objetivo — conta Betina.

Mas a experiência é recompensadora também para aquelas que podem exercer o trabalho como professora, como é o caso de Caroline Conti Floriani, de 23 anos, estudante do último ano de física na UFSC.

— Da mesma forma que tive professores essenciais para mim durante minha formação, quero ser essa referência para elas também. Nem todo mundo tem a oportunidade de ter contato com essa área, então estamos todo mundo na mesma, juntas, conseguindo se entender, conversar e rir. Se torna uma experiência muito bacana — conta Caroline.

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Fontes de referência

Quando o projeto foi criado Gabriela Kaiana nunca imaginou chegar no patamar em que se encontra atualmente. Principalmente ao ver que hoje em dia é principal fonte de referência para suas alunas e orientandas.

— Me sinto muito honrada de poder fazer parte da trajetória dessas meninas e saber que posso ser um ponto de apoio — conta, emocionada.

Mas Betina Rott que tem como inspiração sua professora, afirma que se sente recompensada em saber que ela aos 15 anos também já é referência para muitas outras alunas.

— A gente sempre vai ser referência para alguém, mas saber que tem alguém que olha para a gente e fala: “Quero ser igual ela”, é muito gratificante — afirma.

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Gabriela Gauche afirma que vê o papel delas na ciência como algo encorajador e faz a diferença na vida dos jovens, especialmente das alunas. E destaca o quanto é importante que elas encontrem referências e um ambiente acolhedor dentro das ciências.

— Ensinar para mim vai além dos conteúdos de sala de aula, é mostrar a todas as meninas e mulheres que a ciência também é o lugar delas, que elas são capazes e têm muito a contribuir.

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