O túnel subaquático bilionário a ser construído em Santa Catarina, entre Itajaí e Navegantes, no Litoral Norte, usará tecnologia internacional. Isto porque não há nada semelhante em todo o Brasil, o que exige buscar no exterior a expertise para a construção. Item importante no Projeto de Mobilidade Integrada da Foz do Rio Itajaí, a ligação entre as cidades promete mudar o trânsito na região.

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A notícia sobre o túnel submerso no Rio Itajaí-Açu ganhou destaque nos últimos dias depois da Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex), órgão do Ministério da Economia que avalia empréstimos internacionais, autorizar o financiamento bilionário para a obra. A informação foi trazida em primeira mão pela NSC, na coluna de Dagmara Spautz.

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Serão US$ 90 milhões vindos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) para parte do custeio de três eixos do projeto: o transporte público intermunicipal com veículos elétricos, a reurbanização da orla da Praia Central em Balneário Camboriú e o túnel subaquático. No total, são estimados US$ 340 milhões entre financiamento e investimentos público e privado, cifra bilionária em moeda brasileira.

A proposta nasceu na Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí (AMFRI) depois de mais de cinco anos de estudos, conta João Luiz Demantova, diretor executivo do Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da entidade.

À época, as cidades da região de Itajaí avaliaram diversas formas de melhorar a mobilidade. Uma ponte e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) chegaram a ser cogitados, mas pelos valores e impacto social a melhor alternativa encontrada foi o túnel subaquático e o BRT, o coletivo intrametropolitano com ônibus elétricos.

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Transporte público intermunicipal será em sistema BRT
Transporte público intermunicipal será em sistema BRT (Foto: Reprodução, AMFRI)

Como será o túnel subaquático de SC

O túnel deve ser o último a ser entregue no pacote. Dos US$ 360 milhões estimados, US$ 180 milhões serão para a construção da passagem subaquática. Em uma curva do rio, entre as ruas Antônio José da Veiga, em Itajaí, e Manuel Leopoldo Rocha, em Navegantes, serão 300 metros de estrutura submersa. Para chegar até ela, as duas vias terão declives.

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Equipes avaliaram duas alternativas de túneis, mas optaram pelo de menor extensão, em uma curva
Equipes avaliaram duas alternativas de túneis, mas optaram pelo de menor extensão, em uma curva (Foto: AMFRI, Divulgação)

O túnel terá espaço para pedestres e ciclistas e três pistas em cada sentido, uma delas exclusiva para o BRT. Demantova revela que há a possibilidade de o edital prever esteira para facilitar a caminhada dos que estiverem a pé, como existe em aeroportos.

As faixas de cada sentido ficarão em células diferentes. Em ambas, a ideia é ter música ambiente e uma pintura atrativa. Toda a experiência terá um custo, como já adiantou a colunista Dagmara Spautz: o pedágio prevê tarifas entre R$ 4,50 e R$ 10, dependendo do tipo de veículo. A cobrança será de maneira automática, por câmeras que farão a leitura das placas, como ocorre em Bombinhas.

Atualmente, a travessia pelo ferry boat custa a partir de R$ 9,05 para carros de passeio, e R$ 2,30 para motocicletas. Ainda não se sabe se depois da construção do túnel o ferryboat continuará funcionando, já que é um serviço mantido pelo Estado, que não tem relação com o projeto de mobilidade.

O túnel ficará a cerca de 23 metros de profundidade e passará por baixo do canal de acesso aos portos, por onde transitam os navios cargueiros. O custo para tirá-lo do papel deve ser compartilhado entre a concessionária que administrará a estrutura, com cobrança de pedágio, e as prefeituras de Itajaí e Navegantes.

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Na hora de torná-la realidade, a estrutura será construída a seco, em módulos. Depois de prontos, os módulos são submersos um a um no leito do rio e vedados. O túnel ficará na região da Barra do Rio, a poucos quilômetros da principal travessia por ferry boat atualmente.

Linhas do transporte coletivo intermunicipal a ser implementado
Linhas do transporte coletivo intermunicipal a ser implementado (Foto: Reprodução, Amfri)

Inspiração brasileira

Apesar de a tecnologia que será utilizada para a construção do túnel ser internacional, já que não existe nenhuma estrutura idêntica no país, a inspiração do modelo veio de perto, lembra o diretor.

De São Paulo, o projeto de ligação subaquática entre Santos a Guarujá serviu como base para Santa Catarina. A diferença principal está na forma de viabilizar o dinheiro, já que o túnel paulista entrou no Programa de Parcerias e Investimentos do governo federal.

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Na previsão de custos, Santos-Guarujá precisará de mais verba. A obra tem estimativa de orçamento de R$ 4 bilhões, considerando os 800 metros de túnel submerso, mais as alças de acesso, o que soma 1,5 quilômetro de infraestrutura total.

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O que falta para o túnel ser construído?

Há um longo caminho pela frente até a inauguração da novidade no Litoral Norte. O primeiro importante passo foi dado com a autorização do Cofiex para o financiamento. Isso significa que o crédito internacional tem autorização da União. É como se o governo federal dissesse ao banco que é possível emprestar o montante, que os solicitantes têm condições de honrar a dívida. 

Agora, o consórcio precisa estruturar o financiamento, o que normalmente leva oito meses para acontecer. Demantova diz que a equipe trabalha para terminar antes disso, em seis meses.

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Em paralelo, as prefeituras precisarão de aval das Câmaras de Vereadores e do Senado para finalizarem o processo. Esta é a primeira vez que um financiamento internacional para um pacote de projetos de mobilidade no Brasil é feito via consórcio de municípios.

Com o “sim” das Câmaras, do Senado e a assinatura do financiamento ainda em 2022, se tudo sair conforme o planejado, vem a fase dos projetos executivos, que levarão cerca de um ano. Nesse período há a estruturação da modelagem jurídica de concessão, além dos Estudos de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental, que precedem as concessões e que trarão os números finais dos investimentos. É nesta etapa que os valores das tarifas são definidos.

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Nova orla prevista para Balneário Camboriú
Nova orla prevista para Balneário Camboriú (Foto: Reprodução, AMFRI)

Depois, os editais são lançados para que as empresas vencedoras sejam conhecidas. Os trabalhos de implantação começarão em 2024, ainda conforme a expectativa da AMFRI.

O BRT circularia já em 2024, entre os municípios da associação. As obras na orla seriam concluídas até o final do mesmo ano. Quase meia década depois, no final de 2028, o túnel seria entregue, fechando o último item do pacote.

Os três projetos

— O Projeto de Mobilidade Integrada é muito mais amplo que apenas o túnel. Os benefícios propostos são muito maiores. O objetivo é priorizar o transporte coletivo em relação ao transporte individual. Essas três obras juntas são capazes de “elevar a régua” da nossa região para algo mundial — projeta o diretor.

Ainda não há projetos finalizados, mas já é possível ter uma ideia do que serão os três eixos do projeto. O primeiro, o STCR/AMFRI, será o transporte coletivo intrametropolitano em sistema BRT com 100% da frota com ônibus elétricos. Na prática, permitirá aos usuários se deslocarem entre os municípios da Região da Foz do Rio Itajaí em um modelo mais confortável, com tarifa integrada (que promete ser mais barata que a atual) e bilhetagem eletrônica.

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Projeto de reurbanização em Balneário Camboriú
Projeto de reurbanização em Balneário Camboriú (Foto: Reprodução, AMFRI)

O túnel sob o rio modernizará a travessia entre Itajaí e Navegantes. E a revitalização da orla central da praia de Balneário Camboriú pretende expandir os espaços verdes à beira-mar e compartilhar ruas entre motoristas e pedestres.

Os custos

Túnel: US$ 160 milhões vindos do setor privado e US$ 20 milhões do setor público = US$ 180 milhões. 

STCR: US$ 80 milhões do setor privado e US$ 42 milhões do setor público = US$ 122 milhões.

Orla: US$ 58 milhões do setor público.

Total estimado: US$ 360 milhões (US$ 240 milhões privado e US$ 120 milhões do público).

Reunião entre prefeitos da região discutiu projeto na segunda-feira (20)
Reunião entre prefeitos da região discutiu projeto na segunda-feira (20) – (Foto: Luiz Carlos Amorim Júnior/AMFRI)
Projeto de reurbanização em Balneário Camboriú
Projeto de reurbanização em Balneário Camboriú – (Foto: Reprodução, AMFRI)
Nova orla em Balneário Camboriú
Nova orla em Balneário Camboriú – (Foto: Reprodução, AMFRI)
Projeto de Mobilidade inclui três eixos
Projeto de Mobilidade inclui três eixos – (Foto: Reprodução, AMFRI)
Túnel ficará em curva do rio, prevê projeto
Túnel ficará em curva do rio, prevê projeto – (Foto: Reprodução, AMFRI)
Transporte coletivo entre os municípios será no sistema BRT
Transporte coletivo entre os municípios será no sistema BRT – (Foto: Reprodução, AMFRI)
Projeto de São Paulo inspirou catarinenses
Projeto de São Paulo inspirou catarinenses – (Foto: Reprodução, Prefeitura de Santos)

Os túneis fantásticos de SC

Vez ou outra os túneis “fantásticos” entram em pauta no Estado. Moradores pediram neste ano um ligando Porto Belo a Bombinhas. Em Florianópolis, a prefeitura apresentou o plano de unir a Rua João Pachêco da Costa, na entrada do Canto dos Araçás, na Lagoa da Conceição, à Rua Salvatina Feliciana do Santos, no Itacorubi, próximo à Unisul. A rota terá um comprimento de cerca de 2 km. Atualmente, o mesmo trajeto é feito pelo Morro da Lagoa e tem extensão de mais de 3 km.

História antiga, Blumenau já cogitou construir um túnel para ligar a Velha ao Garcia, dando fim à precária rua que atualmente une os dois pontos. Em um passado não muito distante, em 2009, a prefeitura de Florianópolis trouxe a ideia de um túnel subaquático para a Ilha, que nunca ganhou forma.

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Os túneis subaquáticos

Eles existem em alguns pontos do mundo, como na Europa, principalmente na Holanda, e no continente asiático. Na América do Sul, a Argentina é pioneira, com um túnel subaquático de quase 3 quilômetros, que liga Paraná, capital da província de Entre Ríos, a Santa Fé desde 1969. Antes de passar por ele, motoristas param em um pedágio para pagar a tarifa.

Túnel subaquático na Argentina tem mais de 40 anos
Túnel subaquático na Argentina tem mais de 40 anos (Foto: Valéria, TripAdvisior)

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