Quando jovem, queria estudar piano, mas a mãe reprovou a ideia por considerar que a atividade era exclusiva para mulheres, um pensamento da época. Provavelmente, a música perdeu um talento na expressão artística, mas a literatura ganhou um dos seus grandes representantes da poesia, Carlos Ronald Schmidt. Nas artes, ainda dedicou-se à pintura e à escultura, que não costumava exibir.

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Em um vídeo para a inédita exposição destas criações e o lançamento do livro “Bichos procuram buracos em paredes brancas”, no Museu de Arte de Santa Catarina, em 2012, C.Ronald ria ao relatar sobre essa vontade de estudar piano, ser compositor e a objeção da mãe. Mas na época a reação foi outra. Contou que quebrou o violino, presente da família que considerava mais apropriado para os homens. Assim, desistiu de vez da música e voltou-se para a pintura e à poesia. Como tinha facilidade com as tintas e telas, desafiou-se na literatura.

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Lançou 20 livros, recebeu prêmios e entrou para a antologia “Poesia Brasileira Contemporânea”, da coleção “Escritores dos Países de Língua Portuguesa”, editada pela Imprensa Oficial – Casa da Moeda, de Lisboa (Portugal). Outra publicação, “Detalhes da ausência” (1975), foi traduzida para o italiano. Colaborou por cerca de oito anos em um dos maiores jornais do país, “O Estado de S.Paulo”, que publicou os textos na última página do tradicional caderno Cultura, nos anos 1980. Também escreveu para outros periódicos. Foi crítico de artes visuais. Em 2013, entrou para a Academia Catarinense de Letras.

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C.Ronald, como assina nos trabalhos, nasceu em 1935, em Florianópolis. Aos 20 anos, foi para Curitiba (PR) prestar serviço militar. Quando retornou, colaborou no jornal “O Estado” e integrou o Grupo Litoral, que reunia escritores e artistas plásticos. A proposta era praticar a arte pela arte, o que o distanciou do grupo Sul, liderado por Salim Miguel, que esteve à frente do Modernismo em Santa Catarina.

Logo após ingressar na faculdade de Direito, publicou os primeiros livros “Poemas” (1959) e “Cantos de Ariel” (1960), avaliados como fracos pelo próprio autor. Ao concluir a graduação, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. A nomeação como juiz da Comarca de Concórdia o trouxe de volta a Santa Catarina, em 1966. No ano anterior, havia se casado com Neide Maria Campos, natural de Biguaçu, onde moraram juntos por quase 50 anos, depois de passar por outras comarcas do Estado.

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Quando transferiu-se para esse município da Grande Florianópolis, em 1973, já havia lançado o terceiro livro, “As origens” (1971), que recebeu o Prêmio Nacional de Poesia da Fundação Cultural de Brasília. A partir desta publicação, deixou para trás o desconforto com a estreia na literatura e publicou outras 17 obras nos 49 anos que se seguiram.

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Passava horas lendo e escrevendo na biblioteca de casa. Marcou O estilo próprio com uma escrita nada trivial, que exige entregar-se à leitura. Na coletânea “Bichos procuram buraco em paredes brancas” (2011), além de sonetos e traduções de poesias, o autor incluiu ensaios, contos e teatros, uma oportunidade para conhecê-lo em outros gêneros. A última obra, “Final de Uso”, foi lançada no ano que faleceu, aos 85 anos, em 2020.

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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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