Um novo impasse poderá retardar ainda mais a abertura da nova e única unidade para adolescentes infratores na Grande Florianópolis, que está em construção em São José.

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A pedido do Ministério Público, a Justiça suspendeu a contratação dos 220 servidores temporários, os chamados ACTs (admitidos em caráter temporário) e está exigindo que eles sejam contratados por concurso público.

O Estado afirma que a contratação por concurso levaria no mínimo seis meses, o que atrasaria a inauguração do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) – o espaço substituirá o antigo São Lucas, demolido há dois anos e sete meses.

A decisão liminar dada pela juíza Ana Cristina Borba Alves, da Vara da Infância e Juventude, determina que a Secretaria da Justiça e Cidadania se abstenha de realizar qualquer ato no processo seletivo simplificado de ACTs para o Case que não seja mediante concurso público.

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A magistrada estabelece 30 dias para o Estado concluir estudos de impacto financeiro e mais 15 dias para encaminhar projeto de lei à Assembleia com a criação dos 220 cargos efetivos via concurso público. A juíza fixa no máximo quatro meses para a criação dos cargos após a lei ser sancionada.

Na ação civil pública, o promotor Gilberto Polli lembra que houve convênio com o governo federal para os recursos da obra em 2010 e passados mais de três anos o Estado não providenciou o concurso com corpo técnico pedagógico. Por isso, ele acusa o Estado de negligência e omissão.

O secretário adjunto da Justiça e Cidadania, Sady Beck Júnior, diz que o Estado estuda duas opções diante da decisão da juíza: recorrer no Tribunal de Justiça ou colocar para trabalhar na unidade os ex-funcionários do antigo São Lucas, decisão esta que não entende ser ideal em razão do passado de problemas no lugar e a nova metodologia de trabalho proposta.

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Sady acredita que o concurso levaria no mínimo seis meses para estar com os servidores aptos, o que atrasaria a abertura do novo centro, previsto para ficar pronto na metade de março.

O ano eleitoral também preocupa o secretário, pois a nomeação só pode acontecer em concursos homologados até 4 de julho.

Ele disse ainda que está em estudo pelo governo o projeto de lei que criará as 220 vagas por concurso.

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O Case terá 98 vagas para adolescentes infratores, sendo 70 para internação, 20 em internação provisória e 8 para ameaçados. Estão sendo investidos mais de R$ 12 milhões.

O “cadeião dos menores”

Ao proibir a contratação dos temporários, a juíza Ana Cristina Borba Alves julgou que a unidade teria um “novo/velho funcionamento” com funcionários temporários inexperientes e que em pouco tempo a unidade se transformaria em um novo cadeião de menores sem a prática socioeducativa.

A juíza se refere a um cenário de tortura e mortes que havia no antigo São Lucas. Foram quase 40 anos no chamado cadeião dos menores delinquentes de mais alta periculosidade de Santa Catarina.

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Época em que havia mortes (aparentemente) suicidas por enforcamento numa média de duas ao ano, a última ocorrida em janeiro de 2007. Havia rebeliões, fugas, apreensões de armas, drogas, celulares e espetos.

Para a juíza, um período de barbárie estigmatizado pela imprensa, que tinha ali uma inesgotável fonte de notícias, sensacionalismos e especulações.

Com a demolição, a juíza destaca a possibilidade de mudança, “um sonho de transformação que não pode morrer depois de tantas lutas”.

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O novo centro promete ter salas de aula, oficinas profissionalizantes, teatro, ginásio de esporte, centro ecumênico, sala multiuso, quadra, ambulatório, área administrativa, alojamentos, lavanderia e almoxarifado.