Dentro da piscina, a densidade da água faz com que o corpo flutue e não se sintam dores nas articulações, nem as limitações do corpo. Para pessoas com deficiência, essa atividade é extremamente relaxante e ajuda a melhorar a coordenação, autonomia e, sobretudo, a autoestima. E a experiência é uma troca entre quem aprende e quem tem a oportunidade de ensinar.

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O Programa Movimentação, uma iniciativa da Univille para atender à comunidade, oferece há 12 anos aulas de natação para pessoas com deficiências físicas e intelectuais, desde bebês até idosos. Atualmente, 42 alunos aproveitam os exercícios básicos desse esporte – como respiração ritmada, submersão, movimentos de pernas e braços – como um complemento na reabilitação física e social.

Antes de cair na água, Kauan Freitas, de dez anos, caminha em volta da piscina, sorridente, e cumprimenta as pessoas. Matriculado desde o início do ano, na piscina ele encontrou um jeito divertido de diminuir os problemas de coordenação motora causados pela paralisia cerebral. Conforme a mãe, Cassilda Radun, após passar por duas cirurgias, uma para liberar os tendões e outra na coluna, Kauan entrou na natação para ajudar na diminuição da rigidez do corpo.

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– Já aprendi a respirar, mergulhar, bater as pernas e os braços e a nadar de costas. Mas o que eu mais gosto é de mergulhar – diz o menino.

Além do desenvolvimento motor, a socialização é um fator determinante na experiência de pessoas com deficiência física ou intelectual. Cristofer Alves da Silva, de quatro anos, faz aulas de natação há mais de um ano, dentro do programa. Segundo o pai, Junior Alves da Silva, que acompanha as aulas, o menino teve complicações na gestação e isso afetou a cognição e a coordenação motora. As atividades na piscina já trouxeram resultados.

– Bastante coisa melhorou: o convívio com outras pessoas, porque ele fica numa semana com um professor e com outro na outra semana, e pela interatividade com as outras crianças. A coordenação dele melhorou bastante; antes, ele caía muito, era muito espoleta. E agora ele é mais concentrado, estamos incentivando a ter foco – conta.

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As aulas são ministradas por seis estagiários do curso de educação física da Univille, sob supervisão dos professores Sonia Ribeiro e Luiz Henrique Rodrigues. Além do desenvolvimento dos alunos do programa, essa é uma oportunidade de crescimento para futuros profissionais de educação física da cidade. Aluno do terceiro ano de graduação, Carlos Eduardo Pecher é bolsista do programa desde que ingressou na faculdade.

– Eu fazia natação quando era criança, sempre gostei, então, quando surgiu a oportunidade de trabalhar, aceitei. Trabalhar com pessoas com deficiência é uma diferença muito grande, porque se percebe na expressão dessas crianças o quanto elas são felizes, talvez pela superação. Elas estão sempre sorrindo, é incrível – afirma.

Segundo Carlos, é feito um estudo de caso de cada aluno para planejar os exercícios que devem ser feitos, de acordo com a faixa etária e o grau de limitação física. No caso das crianças, muitas atividades são feitas em grupo, para estimular o convívio entre as diferenças.

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Espaço de inclusão

O Programa Movimentação ancora dois projetos, chamados Mãe D?Água e Proesa. O primeiro atende a pessoas com deficiência visual e intelectual, e o segundo, deficiência física. Segundo a coordenadora Sonia Ribeiro, a iniciativa teve como objetivo suprir demanda que havia em Joinville: a prática de atividade física gratuita para esse público.

Primeiramente, como um meio para melhorar a qualidade de vida, saúde, educação e contribuir para o processo de reabilitação, como um complemento à fisioterapia. E, se for o caso, os que se destacam são encaminhados para o Programa de Iniciação Desportiva (PID), da Fundação de Esportes, Lazer e Eventos (Felej), como foi o caso do nadador Talisson Glock, que neste ano participa das Paralimpíadas.

Sônia aponta que um dos resultados mais importantes dessa atividade é a possibilidade de socialização. Em muitos casos, essas pessoas se limitavam a ir de casa para a clínica de fisioterapia. Com a convivência na piscina, elas podem se reconhecer em outras pessoas com características semelhantes e trocar ideias sobre dificuldades e facilidades.

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Outro fator é a promoção da cidadania, pois as aulas são gratuitas, com atendimento individualizado e incentivam a autonomia. Para a coordenadora, é uma maneira de eles se sentirem fortalecidos e capazes de superar desafios – e é um momento em que podem se interessar pela prática esportiva.

– Esses alunos e estagiários são importantes porque suprem uma lacuna que é grande na sociedade. Tanto o oferecimento de serviços para pessoas com deficiência quanto profissionais treinados. As pessoas acham que não existem muitas pessoas com deficiência porque não as veem circulando. Talvez porque elas não tenham acesso a esses espaços e acabam se afastando dos bens comuns, que é de direito de todo cidadão – afirma Sonia Ribeiro.