Inovação em agronegócio não é só coisa de grande produtor de soja. A agricultura familiar também demanda investimentos e deve ser contemplada. A dificuldade está em fazer com que as inovações cheguem a esses pequenos produtores. Por isso, o Banco Mundial (Bird) e o governo do Estado trabalham em conjunto em um projeto para aproximar empresas desenvolvedoras de tecnologias da agricultura familiar.
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— As técnicas desenvolvidas para o campo são quase todas voltadas para o agricultor de grande porte. É preciso adaptar o que existe à realidade do pequeno produtor — diz Diego Arias, economista do Banco Mundial que está à frente do projeto.
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Santa Catarina tornou-se destino pioneiro do projeto no mundo. De acordo com o Bird, a escolha se deu porque o Estado é um local que obteve sucesso em várias experiências nesse setor. O Banco Mundial financia e dá assistência técnica, além de apoiar o governo catarinense na coordenação e na implementação do projeto.

Para esta primeira fase, chamada exploratória, o orçamento é de US$ 300 mil. A etapa, que começou neste ano e segue até 2017, compreende conversas com os produtores e estruturação do programa. Países da União Europeia, além de Reino Unido e Austrália, são os financiadores. Se tudo correr conforme o planejado, a expectativa é que o projeto esteja pronto em julho de 2017.
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O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaesc), Adriano da Cunha, concorda que falta acesso dos pequenos a novas tecnologias. Ele, que também é pequeno produtor, defende, no entanto, que os agricultores têm consciência da necessidade e da importância em investir em inovação.
— Na minha visão, o produtor sabe que a tecnologia é importante. O que falta é o Estado fazer o papel de facilitador. Não há caminhos para o pequeno. Se eu quiser usar energia solar na pequena propriedade, vou ter que parcelar R$ 80 mil em 10 anos. Agora, se for para construir uma grande usina solar, o BNDES dá dinheiro na hora — diz Cunha.
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O pesquisador Elsio Figueiredo, da Embrapa Suínos e Aves, relata um exemplo de como o pequeno produtor tem dificuldade para acessar inovações. Um suinocultor que queira, ele mesmo, processar a carne de porco e produzir embutidos não tem como abater o animal dentro das exigências sanitárias exigidas pela legislação. Para este problema, a própria Embrapa desenvolveu uma solução: um abatedouro modular, específico para o pequeno empreendedor rural.
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No caso do projeto do Banco Mundial, contudo, o objetivo é também estimular o setor privado a produzir essas inovações. E não pode ser de qualquer tipo: o pressuposto do Bird é que os agricultores familiares usem tecnologias verdes, que geram menos impacto ambiental negativo e aumentam a eficiência da produção e a renda do agricultor. Essas tecnologias vão das placas solares ao uso de drones.
— Para saber o que funciona, nos próximos meses vamos começar a fazer encontros entre desenvolvedores de tecnologia e agricultores em cidades do interior de Santa Catarina. Muitas empresas têm, por exemplo, um engenheiro aeronáutico, mas não um agrônomo. Os agricultores serão ouvidos para entendermos suas necessidades — afirma Arias, do Bird.
Ação faz parte do SC rural
A parceria entre Banco Mundial e governo catarinense deve funcionar como um braço da segunda fase do SC Rural, que ainda depende de aprovações, inclusive do governo federal, para ser implementada a partir de 2017. A primeira edição do programa começou em 2010 e se encerra neste ano. Trata-se de um projeto multidisciplinar para impulsionar a agricultura familiar catarinense, financiado também em parte pelo Banco Mundial.
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Para o secretário-executivo do SC Rural, Júlio Bodanese, o objetivo é viabilizar tecnologias que sejam economicamente acessíveis aos pequenos agricultores catarinenses:
— É preciso que seja viável inclusive nesse sentido, algo que ele seja capaz de adquirir com seus próprios meios.