Até 6 de novembro seguem abertas as inscrições para o Rumos Itaú, atualmente o mais importante programa de fomento à pesquisa, arte e cultura brasileiras. Na edição passada, realizada em 2013/14, foram contemplados 101 projetos entre 15 mil inscritos em todo o Brasil, com o valor total de R$ 13 milhões – a de 2015/16 contará com R$ 15 milhões. Seis catarinenses estão entre os selecionados, número significativo comparando-se o tamanho da produção de Santa Catarina nas áreas em relação a outros de Estados brasileiros. O programa é um modelo bem-sucedido de como investir em cultura é benéfico para a formação da identidade do país e – do ponto de vista estratégico – para empresas ou instituições, que além do financeiro têm um retorno de imagem incomensurável.

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O Rumos foi criado pelo Itaú Cultural, instituição sem fins lucrativos fundada em 1987 com a finalidade de gerar base de dados sobre cultura no Brasil. O programa foi inovador na época por não estar ligado ao marketing do banco e por ter total autonomia. O custo é coberto 75% pelo patrocinador (Itaú) e 25% vem de lei de incentivo. Marcos Cuzziol, gerente de inovação do Itaú Cultural, esteve em Florianópolis em setembro com o objetivo de incentivar artistas e pesquisadores a participarem.

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– Nós queremos uma população mais engajada culturalmente. E isso exige continuidade e investimento. Nos primeiros anos não se vai ter resultado, mas o pensamento estratégico faz diferença, muito mais do que apenas tático – disse em entrevista ao Anexo durante sua passagem por Santa Catarina.

A edição 2015/16 marca os 18 anos do programa com edital ainda mais inovador: artistas e pesquisadores de qualquer área de expressão podem inscrever projetos seguindo os próprios critérios, sem ter de adaptar ideias a moldes preestabelecidos. O artista é o protagonista.

– O formato edital padroniza projetos. Já formata o que é possível propor. No Rumos, muitos trabalhos de pesquisa entram, não só artísticos. Foram meses de discussões para se chegar a esse modelo e desde 2013 ele passou a ser um programa de apoio sem formatação – explica Cuzziol.

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Mas afinal por que investir tanto, durante tanto tempo, em cultura? O recado vai para o poder público e o setor privado:

– Cria uma imagem que transmite legitimidade por causa da seriedade do projeto. Claro que sempre traz mídia. O retorno é muito grande, não só financeiro. Um dos pontos principais da missão do Itaú Cultural é atuar com as pessoas.

SANTA CATARINA NO RUMOS

Na edição passada, Santa Catarina teve 525 projetos inscritos, dos quais seis foram selecionados (confira ao lado). Um deles foi Protocolo Elefante, do Cena 11, companhia de dança contemporânea de Florianópolis. No primeiro semestre de 2015 estreará a obra realizada ao longo dos dois últimos anos. Foi um tempo de pesquisa em que a companhia imergiu na desconstrução identitária, separação e isolamento para, no reencontro, reinventar sua identidade como grupo.

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– O Rumos é para o país inteiro. Quanto mais programas como esse, melhor. Não só porque dá dinheiro, mas pelo perfil de apostar em projetos de pesquisa. Aqui em Santa Catarina a Lei Estadual de Incentivo não funciona. Existe o edital Elisabete Anderle, mas os editais são apenas uma ponta. O que faz falta é uma política pública voltada para a cultura – opina Karin Serafin, bailarina do Cena 11.

A companhia catarinense tem 22 anos de trajetória, é uma das mais respeitadas no Brasil e tem sua história atravessada pelo Rumos. O bailarino, pesquisador e diretor Alejandro Ahmed já participou inclusive da comissão de seleção do programa.

– É um modelo que coloca a sociedade em acesso à produção de conhecimento, não só ao produto artístico final, em que as pessoas vão lá, assistem e voltam para casa. Elas são parte do processo. Não acontece e depois morre. Amplia a qualidade de absorver conhecimento e a capacidade crítica. Dá a elas a autonomia para consumir arte – defende.

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Para Ahmed, porém, é preciso ir além do mero consumo:

– Há muitos eventos que são gigantes, mas que não deixam legado. É só transitório. Não permite transversalidade com o público. Estamos bem longe disso aqui em Santa Catarina e em Florianópolis. Na área da cultura as coisas podem acontecer ainda abaixo da linha técnica, infelizmente – conclui.

Outros projetos do Estado

ALMOFADA DE PENAS, de Joseph Spencker Nys (Florianópolis)

Curta-metragem de animação stop motion para adultos. O roteiro adapta conto do uruguaio Horacio Quiroga, e o foco da linguagem é gerar um suspense sobrenatural. O filme faz uso de bonecos com sistemas especiais para garantir a expressividade.

SEMINÁRIO BRASILEIRO DE IMPROVISAÇÃO MUSICAL, da Base Cultural Produções (Florianópolis)

Realização do seminário em Florianópolis com a participação de músicos, críticos musicais e doutores em música. Reuniu, no mês de abril, instrumentistas, com programação que incluiu apresentações, palestras e workshops de improvisação.

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JARDIM DE PASSAGEM, de Teresa Marua Siewerdt (Rio do Sul)

Está atualmente em exibição na Mostra Rumos, em São Paulo. É o resultado da performance realizada no metrô da capital paulista: em cada uma das estações, no horário combinado, performers embarcaram no mesmo vagão com um vaso de planta, formando um jardim dentro do trem.

– TUBO DE ENSAIO. COMPOSIÇÃO [INTERSEÇÕES + INTERVENÇÕES], de Jussara Janning Xavier (Florianópolis)

Propõe a realização de interseções entre as artes e áreas de conhecimentos e intervenções artísticas ao longo de 2015, em que artistas e pesquisadores parceiros compartilham procedimentos de composição, resultando em um livro.

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– NA TELA RÚTILA DAS PÁLPEBRAS, de Josely Maeria Biscaia Vianna (Florianópolis)

Publicação digital em português e inglês de textos autorais, além da criação de uma série de desenhos. Para a execução foi feita uma expedição aos Campos Gerais do Paraná, local que abriga lendários caminhos históricos.

Inscrições pelo site

Podem ser inscritos no Rumos Itaú Cultural projetos de todas as áreas de expressão e iniciativas híbridas, sem limitação dos campos de investigação, com liberdade para artistas, produtores e pesquisadores definirem as regras de produção e apresentação de seus trabalhos. As propostas estão organizadas em três grandes campos: criação e desenvolvimento (concepção e/ou desenvolvimento de projetos artístico-culturais), documentação (organização e preservação de acervos relacionados à arte e à cultura brasileiras) e pesquisa (desenvolvimento de pesquisas em arte e cultura brasileiras), definidos para facilitar o processo de inscrição.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até 6 de novembro, no site rumositaucultural.org.br. Os contemplados serão divulgados em maio de 2016.

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