Um programa implantado desde o início de 2014 em Blumenau tem ajudado a Polícia Militar a elevar os números de prisões em casos de roubos a casas e estabelecimentos comerciais. De acordo com o segundo-tenente Felipe Oppenheimer, somente no primeiro quadrimestre deste ano 22 pessoas foram detidas com a atuação direta do Pós-Crime, um aumento de 66,6% em comparação com o mesmo período de 2013.

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Entenda o programa:

>>Inversão de atribuição entre as polícias gera dúvidas

Apesar dos resultados, o projeto é polêmico e coloca policiais militares e civis em lados cada vez mais opostos. O major do Estado-Maior da Polícia Militar de Santa Catarina, Jorge Eduardo Tasca, explica que o projeto funciona em 10 cidades catarinenses e tem como objetivo criar estratégias de prevenção a crimes e identificar infratores reincidentes. Oppenheimer garante que não se trata de investigação – prerrogativa da Polícia Civil -, mas admite que há casos em que a equipe colhe informações das vítimas no dia seguinte ao delito, quando já expirou o prazo para se registrar um flagrante:

– Se o roubo ocorre à noite, de madrugada ou no fim de semana, no primeiro dia útil pela manhã, período relativamente mais tranquilo, a equipe faz esse levantamento, tentando obter imagens de circuito interno ou outras características dos criminosos.

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>>Brusque: a cidade onde a parceria entre civis e militares funciona

Com essas informações, a PM trabalha em busca dos suspeitos, monta um catálogo de possíveis reincidentes e cria estratégias de prevenção. Oppenheimer afirma que os dados coletados são compartilhados com a Polícia Civil.

– Nosso relacionamento em relação a isso (o Pós-Crime) está legal, nós conseguimos passar informações e eles também passam para nós – diz.

No entanto, o coordenador da Divisão de Investigações Criminais (DIC) e da Central de Plantão Policial de Blumenau, delegado Bruno Effori, diz que a relação não é exatamente assim. Ele não conhece o programa, afirma que nunca houve contato oficial entre as duas instituições para troca de informações – apenas casos pontuais entre agentes e soldados que têm um relacionamento mais próximo – e que, na maioria das vezes, esta atuação da Polícia Militar atrapalha as investigações da Polícia Civil:

– Rotineiramente a Polícia Militar atende os locais antes porque a população a entende como a primeira instituição de segurança a ser acionada, mas a investigação é realizada pela Polícia Civil, que tem a atribuição constitucional para isso. A PM faz o trabalho preventivo.

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Além de considerar o trabalho do Pós-Crime uma investigação, o delegado diz que a ação prejudica as atividades da Polícia Civil:

– A testemunha que fala com um policial militar acha que já contribuiu para a investigação, quando na verdade não o fez, porque isso não chega à Civil. Fora os casos em que a PM recolhe elementos das cenas de crime. Pode não ser de propósito, mas por que fazem se não é atribuição deles? Tentam pegar o maior número de informações para prender em flagrante, na maioria das vezes não conseguem e aí, pronto, a atribuição deles terminou. A guarnição vai trocar, a próxima não vai receber os dados e tudo se perdeu – explica Effori, ressaltando que a reclamação sobre a postura da PM parte também dos agentes e de outros delegados que atuam na Central de Plantão Policial.