Saber desenhar é necessário? Tem muita matemática? Se arrependeu da escolha? Mesmo quando se está certo da profissão desejada, muitas dúvidas podem surgir. Este é o caso da estudante de terceirão Gabriele Theisges 18 anos. Aluna no Colégio Aplicação da UFSC, ela está decidida a fazer Arquitetura e Urbanismo – o segundo mais concorrido no último vestibular da Federal, com 27 candidatos disputando uma vaga – mas ela ainda tinha alguns questionamentos. Por isso, aceitou o desafio do Vestibular, que iniciou na semana passada a série sobre profissões, e foi até um escritório de arquitetura conversar sobre a rotina de trabalho.

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Ela foi recebida pela arquiteta Luana Zandavalli Lima, que se formou pela UFSC em 2006 e já caiu no mercado de trabalho. Passou para um concurso público da prefeitura de Chapecó, mas hoje é sócia do Studio Methafora, em Florianópolis, onde se diz feliz e realizada. Luana recebeu Gabriele e de maneira atenciosa relatou aspectos relevantes da profissão. Se ater a detalhes, estar sempre atualizado e antenado para tendências são requisitos importantes em quem está disposto a encarar um dos cursos mais concorridos para ser arquiteto.

As dúvidas tiradas por Gabriele

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Gabriele Theisges- É preciso ter traços bem firmes e desenhar muito bem?

Luana – Quando eu entrei na faculdade também tinham uns colegas que sofriam porque não sabiam desenhar, outros já desenhavam superbem. Mas hoje está cada vez mais claro que o desenho é uma ferramenta pra expressar na hora aquilo que você pensou, mas o desenho em si é técnico, existe técnicas para aprender a fazer isso. Tem matérias na faculdade, principalmente no começo, que têm mais a ver com desenho. Então durante a faculdade tu vai treinando o traço. Tem exercícios que a gente vai fazendo ao longo do curso. É treino também. Não pensa que tem que saber desenhar lindamente. Tenho vários colegas que não desenhavam tão bem e são ótimos arquitetos. Nas primeiras fases tu até tem que fazer projetos à mão, mas depois com as cadeiras específicas, você começa a desenhar no Auto CAd (um software). A nossa ferramenta de trabalho é 95% no computador. A gente desenvolve tudo no Auto Cad e tem também o Sketch Up.

Gabriele – Você sempre quis fazer o curso de Arquitetura?

Luana – Desde criancinha eu desenhava planta baixa das coisas, mas isso é de cada um. Tem gente que chega com muita dúvida até o final. Acho que eu escolheria a mesma coisa hoje, até porque eu tinha muita certeza. Sempre quis fazer, sou muito feliz com a profissão que escolhi. Eu escolhi trabalhar como sócia de um escritório e a gente não tem muito horário. Não tem horário pra sair, às vezes tem que cumprir as tarefas e fica até tarde. Vai para casa e não desliga nunca. É arquiteto 24 horas por dia. Às vezes está vendo um programa e acha uma ideia legal para aplicar em um projeto.

Gabriele – E você nunca pensou em desistir do curso?

Luana – Já pensei sim. Dizem que a quinta fase é uma fase meio crítica. A gente pensa será que é isso que eu quero mesmo? É mais uma crise existencial que todo mundo tem mais cedo ou mais tarde. Pensei também em fazer Direito. A gente nunca gosta de uma coisa só. Quando eu trabalhei na prefeitura de Chapecó, eu trabalhei com parcelamento de solo, que é a questão de loteamento, bem burocrática. E eu fiz uma pós em Direito Imobiliário, que era uma coisa que eu também gostava. Tu também pode direcionar para alguma coisa que tu goste. Fora isso, tem a parte acadêmica para lecionar. Tive vários colegas que foram estudar fora e isso é algo que tu já pode pensar logo no começo da faculdade.

Gabriele – A matemática é essencial?

Luana – Tem várias cadeiras. Antigamente a grade era a mesma de Engenharia, com cálculo 1, 2… Hoje tem outros nomes e vai direcionando para cálculos que vamos realmente precisar. Não é assim determinante.

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Gabriele – Quando saiu da faculdade já conseguiu arrumar um emprego?

Luana – Eu fiquei no escritório onde eu já estagiava. Então desde a terceira fase eu já comecei a procurar um estágio. E quem fazia estágio desde o começo já conseguiu se inserir mais rapidamente no mercado de trabalho. A faculdade não é o suficiente para se inserir no mercado. Tem coisas que não se aprende na faculdade, como conhecer fornecedor, diferentes tipos de piso e revestimento por exemplo. Isso aprende com o know how de estar todo dia no escritório.

Gabriele – Sempre gostei de interiores, mas na faculdade podem surgir outras coisas, né?

Luana – Talvez teu chamariz inicial possa ser isso, mas depois tu vai descobrindo outras coisas. Muitas pessoas acham que interiores é decoração, mas não é bem assim. Claro que ela é uma parte de arquitetura de interiores, uma parte final, que coroa e valoriza todo o trabalho. Mas antes disso tem uma série de definições que a gente faz, e não tem nada a ver com decoração. Por exemplo, se pega um projeto pronto para dar sequência com um projeto de interiores de uma área comum. Onde vai ser a entrada, definir a questão dos banheiros, é um quebra-cabeça. Qual o tamanho e o dimensão da sala? Vai ter uma mesa de sinuca? Tem que ser bem detalhista e envolve uma série de outras coisas. Como vai ser a forração em cima. Se vai ser gesso, PVC, madeira. Tem ainda a iluminação.

Por dentro da profissão

DISCIPLINAS

Projeto arquitetônico, projeto de urbanismo, tecnologia da construção. Tem ainda a parte de arquitetura de interior, de conservação e restauração do patrimônio cultural.

MERCADO DE TRABALHO

Uma das determinantes é a economia, quando a economia vai bem o mercado de Arquitetura e Engenharia fica com maior demanda. Mas é o bom profissional e de qualidade que determina muito isso.

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OPÇÕES DE ATUAÇÃO

O mercado maior é o de edificação. Há ainda a parte de escritórios, construtoras, planejamento urbano dentro de órgãos públicos municipais, como nas secretarias de Urbanismo e nos federais como Ministério das Cidades, da Cultura, no Poder Judiciário. Na área de reformas e remodelação.

DO QUE PRECISA GOSTAR

Normalmente, os jovens que não gostam muito de ciências exatas, em vez de ir para Engenharia vão para Arquitetura, achando que não têm cálculo. Não tem a carga de uma Engenharia, que é exclusivamente tecnológica. A Arquitetura é tecnológica mas também está nas ciências humanas aplicadas. Por isso, muitos estudantes acreditam que o curso é mais arte. Mas tem cálculo também. Outro equívoco é achar que precisam saber desenhar. Não é necessário ter aptidão artística para desenho. Isso se aprende dentro do curso. Tanto técnico como o desenho de plantas, quanto a expressão gráfica em si.

RENDIMENTO INICIAL

Pela legislação, o profissional que trabalha seis horas recebe seis salários mínimos e o que trabalha oito horas, recebe oito salários mínimos. Isso para quem tem carteira assinada. Mas o leque de atuação é bem grande. Pode atuar como autônomo, o que é muito comum. O mercado vai muito da competência e do serviço prestado pelo profissional.

Fonte: professor Mauricio Andriani, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unisul em Florianópolis

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