Cinco meses após a chegada do primeiro grupo de médicos estrangeiros a Joinville, a Secretaria de Saúde se diz satisfeita com o desempenho dos 15 clínicos-gerais que vieram para o município por meio do Programa Mais Médicos, do governo federal, para reforçar o atendimento na atenção básica.
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– Posso dizer que o trabalho deles está atingindo a expectativa que nós tínhamos e que a vontade deles de querer se aperfeiçoar se reflete na receptividade da comunidade – afirma a coordenadora de gestão no trabalho e educação da Secretaria de Saúde, Patrícia Teochi.
O assessor técnico de Saúde da Família, Evaristo Iglesias Alemán, que também é supervisor do Ministério da Saúde de cinco médicos do programa em Joinville, explica que toda semana faz um relatório sobre o desempenho dos profissionais para a Secretaria de Saúde.
Evaristo conta que no começo nem a própria equipe da Saúde sabia o que esperar dos médicos estrangeiros. Agora, todos já estão adaptados.
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– O que me deixa mais contente é que eles se sentem bem, porque sabem que podem confiar – disse.
O assessor técnico explica que antes de chegar a Joinville, os médicos do programa fizeram um curso intensivo sobre a história do País, do Sistema Único de Saúde (SUS) e de português, em Brasília, durante 21 dias.
Já em Joinville, nas primeiras duas semanas, eles conheceram todas as unidades que compõem o sistema da atenção básica, como os postos de Saúde da Família e Vigilância Sanitária.
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Além disso, os clínicos-gerais continuam assistindo a aulas de português e informática a cada 15 dias. Eles também fazem uma especialização, proposta pelo programa. Os médicos foram contratados para trabalhar 40 horas semanais, sendo 32 de trabalho e oito de estudo.
Quase duas décadas no Brasil
Evaristo, que é cubano, vive no Brasil há 17 anos. Ele veio para Santa Catarina em 1997 para prestar consultoria ao Estado, quando o governo implantava a rede de atenção básica.
– Conheci a minha mulher, que é enfermeira, e fiquei – conta.
Ele deixou em Cuba um filho de dez anos, que só voltou a ver com 18 anos, já que foi proibido de entrar no país. Segundo Evaristo, os brasileiros são acolhedores.
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Equipe unida no bairro Boa Vista
No Posto de Saúde Bakita, no bairro Boa Vista, zona Leste, o médico espanhol José Carlos Pérez Bezerra, 58 anos, atende rapidamente a uma paciente que não estava agendada, mas passou no local em busca de uma receita para um medicamento.
Simpático, ele preenche o receituário e entrega para enfermeira levar até a mulher.
Em Joinville desde novembro do ano passado, José chegou ainda com o primeiro grupo de médicos estrangeiros e diz estar adorando a cidade, a qual compara com Sevilha, onde nasceu.
– É tranquila, não tem muita violência, há bastante gente jovem, um ambiente estudantil. Pode-se viver e trabalhar à vontade – avalia.
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Ele conta que gosta de trabalhar com medicina preventiva no núcleo familiar, área na qual tem especialização.
– A essência é a mesma, porque a atenção primária é uma cópia do modelo da Alemanha e de Cuba. Os protocolos são os mesmos: combate à obesidade, acompanhamento das grávidas, entre outros – explica.
O médico relata que contou com a ajuda de um colega nos primeiros dias de trabalho e que a equipe do PSF, formada por cinco médicos, é muito unida.
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– Todos trabalharam junto comigo e me ajudaram na adaptação. A equipe aqui é como uma família – afirma.
Ambientado, José observa que o Boa Vista tem uma taxa de natalidade baixa e que a maioria dos pacientes apresenta falta de vitamina D, em decorrência de pouca exposição ao Sol, e hipotireoidismo – falta do hormônio tireoidiano.
O médico espanhol conta que aceitou vir ao País porque tinha amigos brasileiros que trabalhavam com ele na Espanha e o incentivaram a participar do Programa Mais Médicos.
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– Vim para ter um ano sabático. É um prazer estar aqui – disse.
Acompanhado da mulher, que é portuguesa, José mora em um apartamento no Centro. Para atuar em Joinville, ele recebe R$ 10 mil por mês e R$ 500 de vale-alimentação. Já os filhos dele ficaram na Espanha.
Antes de vir ao Brasil, José ainda trabalhou em Cuba, Nicarágua e Portugal.
Medicina de Cuba é mais preventiva, avalia médica
Em Joinville desde dezembro do ano passado e há três meses trabalhando, a médica cubana Betsy Donatien González, 43, já se considera adaptada à rotina no posto de saúde do bairro Jardim Paraíso, na zona Norte.
– No começo, eles (pacientes) ficavam surpresos quando eu pedia para deitarem na maca para examiná-los – relata, com certa estranheza. Em Cuba, as consultas costumam ser mais demoradas devido a uma avaliação detalhada.
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Para driblar as dificuldades com a língua, Betsy conta que explica aos pacientes no início da consulta que é cubana e pede para eles falarem devagar.
– Entendo quando escuto, mas para escrever é mais difícil – afirma a médica.
Apesar do pouco tempo de trabalho, Betsy já identificou diferenças importantes entre a rede de atendimento brasileira e a cubana. Ela explica que em Cuba os médicos de saúde da família fazem um acompanhamento mais efetivo dos pacientes, não apenas na atenção básica, mas também quando são internados.
Segundo ela, é importante para o médico conhecer os problemas psíquicos, sociais e biológicos do paciente.
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– Em Cuba, a medicina é mais preventiva e aqui é mais curativa – observa.
A médica também identificou a gravidez na adolescência como um dos principais problemas na saúde pública do Jardim Paraíso. Betsy diz que pretende, assim que a equipe dela estiver completa, criar um grupo para jovens falarem e se informarem sobre sexo e métodos contraceptivos, semelhante ao que ela tinha em Cuba.
A receptividade da médica é tamanha no Jardim Paraíso, que após a Secretaria de Saúde cogitar deslocá-la para um posto no Jardim Sofia, também na zona Norte, a comunidade pediu que ela ficasse, conta a coordenadora da área de gestão no trabalho e educação, Patrícia Teochi.
Em Joinville, Betsy continua assistindo a aulas de português a cada 15 dias e, para aperfeiçoar ainda mais o idioma, costuma ler bastante, ouvir músicas e treinar o novo idioma com os pacientes e a equipe do PSF.
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Esta não é a primeira experiência da cubana no exterior. Entre 2003 e 2006, ela esteve na Venezuela, e entre 2009 e 2011, na Nicarágua. Em Joinville, ela pretende ficar por três anos. Nascida na cidade de Guantánamo, em Cuba, deixou o marido e os dois filhos, um de 17 e outro de 11 anos, com os quais fala diariamente por telefone.
Participantes do programa Mais Médicos em Joinville: 15 clínicos-gerais
1º grupo: nove médicos chegaram em novembro.
2º grupo: cinco médicos chegaram em dezembro.
3º grupo: uma médica (brasileira) chegou em fevereiro.