O cenário mostrando a falta de profissionais de nível técnico em Joinville se repete no País. Este tipo de profissional é o mais difícil de encontrar, segundo a pesquisa Carência de Profissionais no Brasil 2013, divulgada pela Fundação Dom Cabral em janeiro deste ano.
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A segunda edição da pesquisa avalia os principais desafios das empresas na contratação de profissionais especializados. Foram ouvidas 167 companhias de 21 setores da economia. Juntas, elas representam 23% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e empregam mais de 1 milhão de funcionários.
O estudo revela que a dificuldade de contratação por parte das empresas persiste e manteve-se elevada nos últimos anos. Nas duas edições, em 2010 e em 2013, o problema foi citado por mais de 90% dos entrevistados. Só que agora os pesquisadores identificam que está mais difícil contratar uma gama maior de profissionais, enquanto na primeira pesquisa a carência se restringia a algumas profissões.
O desafio é maior entre os profisionais com formação de nível técnico e para vagas na área fabril. Como reflexo, as empresas diminuíram as exigências, chegando ao ponto de 60% delas abrirem mão de experiência e de habilidade ao contratá-los.
As empresas apontam a escassez de profissionais capacitados e a deficiência na formação básica como os principais dificultadores, sendo que a falta de formação ganhou mais evidência na pesquisa de 2013 (58%) do que na consulta de 2010 (42%).
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Mais capacitação interna
A última pesquisa revela que as funções técnicas e operacional são as posições de qualificação mais precária, 45% e 50,6%, respectivamente. Para suprir a deficiência, a oferta de capacitação interna é citada por mais de 90% das empresas pesquisadas, especialmente cursos de processos e técnico-operacional.
O estudo da Dom Cabral também aborda as características que as organizações mais valorizam nos profissionais. No nível técnico, ganha destaque a proatividade, em primeiro lugar, seguida da capacidade de trabalhar em equipe. Para nível superior, a orientação para resultados vem na frente, e trabalhar em equipe novamente fica como a segunda característica mais valorizada.
Mão de obra especializada
Para especialistas, a escassez de profissionais capacitados e a deficiência de formação refletem o fato de que o mercado está exigindo mais do que as escolas conseguem oferecer, tanto em número de profissionais quanto em atualização tecnológica.
– Tem aumentado o numero de matrículas no ensino técnico, contudo, isto não está sendo suficiente. O País está crescendo e nossa estrutura não está acompanhando – afirma o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Renato de Souza.
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O Senai nacional traçou um mapa do trabalho para antecipar as demandas que vão surgir nas diversas ocupações técnicas, justamente para orientar a capacitação. Em Santa Catarina, o estudo identificou a necessidade de formar ou reciclar o conhecimento de 552 mil profissionais nos anos de 2014 e 2015.
De acordo com o diretor regional do Senai-SC, Sérgio Arruda, o Estado vive situação de pleno emprego. As empresas precisam melhorar o nível de produção e introduzir processos mais automatizados. À medida que automatizam os processos, afirma Arruda, reduzem o número de trabalhadores ou buscam os mais qualificados.
O vice-presidente da ABRH-SC, Pedro Luiz Pereira, observa que os requisitos para contratação de profissionais de nível técnico mudaram ao longo dos anos. Se antes só contava a parte técnica, agora as empresas analisam o aspecto comportamental, como o nível de engajamento.
Para Paulo Renato de Souza, as empresas atualmente buscam profissionais mais dinâmicos com perfil tanto de administrador, empreendedor quanto técnico. Segundo ele, falta aproximação das instituições de ensino com as empresas para formar e entregar o profissional que o mercado precisa.
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Para Pereira, da ABRH, quando o assunto é a manufatura, outros fatores também devem ser levados em consideração. Segundo ele, a dificuldade de contratação também tem relação com o nível salarial porque, no início de carreira, o ganho líquido fica em torno R$ 850 e um operador de máquina recebe próximo de R$ 1,7 mil e as pessoas procuram outras opções mais rentáveis no cenário de pleno emprego.
Tendência de maior procura
A vinda de grandes empresas para região Norte do Estado tende a aumentar a demanda por profissionais especializados de nível técnico, estima o diretor geral do Centro de Educação Profissional Dario Geraldo Salles (Cedup), Oscar Antônio de Amaral Maia.
Isto significa mais empresas disputando os já concorridos profissionais, mas tanto o Cedup quanto outras instituições de ensino tem procurado se informar quais são as necessidades do mercado, embora reconheçam que o ritmo de implantação das novidades é mais lento do que a evolução do lado de fora.
Um passo importante para ampliar o acesso ao ensino técnico foi o surgimento do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
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Lançado em 2011 pelo governo federal, tem recebido elogios de especialistas por se propor a cobrir a lacuna que se formou na educação, na qual aqueles que podem pagar os estudos saem do ensino médio direto para o ensino superior, influenciados por uma cultura que valoriza o bacharelado em detrimento do ensino técnico. E aqueles que não têm poder aquisitivo para seguir esse caminho interrompem os estudos.
O Pronatec oferece condições a diversas entidades de formação profissional de aumentar o número de alunos, pois estes podem estudar de graça e com incentivo para alimentação e transporte.
O Senai é um dos principais parceiros. O diretor regional Sérgio Arruda lembra que o ensino médio sozinho não oferece empregabilidade, mas quando articulado com o ensino profissional ocorre uma alavancagem.
No Senai-SC, mais de 90% dos alunos conseguem uma colocação no mercado de trabalho no período de até um ano após concluírem o curso, e muitos ainda durante as aulas. Na Escola Técnica Tupy, a última pesquisa com ex-alunos apontou índice de empregabilidade de 95%.
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