Uma portaria do Ministério da Saúde criou o programa “O Brasil Conta Comigo – Profissionais da Saúde”. Publicado no dia 2 de abril, o documento determina o cadastro e a capacitação de todos os profissionais da área de saúde nos protocolos oficiais de combate ao coronavírus. Ao todo, são chamados profissionais de 14 áreas. Em Santa Catarina, enfermeiros, dentistas e veterinários já se colocaram à disposição para ajudar no combate à pandemia.
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Dez mil profissionais da enfermagem de Santa Catarina já se cadastraram
Com 36 anos de atuação – 25 deles na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital do Servidor Governador Celso Ramos – em Florianópolis, a enfermeira aposentada Helga Bresciani não teve dúvidas: fez o cadastramento e já se colocou como voluntária.
– Acredito que só chamarão em casos extremos, em regiões onde os profissionais locais não consigam dar conta da pandemia. Mas e se fosse aqui em Santa Catarina, a gente não gostaria que viessem para ajudar os nossos pacientes? – pergunta.
Helga lembra que os profissionais têm a prerrogativa de aceitar ou não, mas acredita que colocar experiência como a que ela acumulou em tanto anos de profissão faz parte da história de quem lida com a saúde:
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– Há pessoas que têm receio de se contaminar e levar o vírus para outra pessoa. Também tenho, mas quando entrei para a profissão sabia dos riscos. Aliás, esses não são exclusivos do coronavírus, mas de tantos outros que a gente convive junto aos pacientes – observa.
A enfermeira diz que tem notado um retorno muito positivo por parte dos profissionais, incluindo técnicos de enfermagem e auxiliares, ao chamamento do Ministério da Saúde. Ela disse que tem conversado com conselheiros de outros estados e que a realidade é a mesma, havendo muitos que mesmo aposentados se colocam à disposição. Até a última quarta-feira, dia 8, já eram em torno de 10 mil cadastrados.
– Nós aqui no Coren estamos estimulando todos a fazerem o cadastro e o curso de capacitação. Entendemos que, indiferente da escolha ou de um eventual chamado para trabalhar, a pessoa recebe mais informações de como se proteger a agir diante da doença. Portanto, isso já muito bom em se tratando de uma pandemia – diz Helga.
Dentistas e o topo do ranking de risco
Sandra Silvestre é presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO), entidade que representa cerca de 17 mil profissionais em Santa Catarina. No começo, a portaria do Ministério da Saúde assustou: muitos acharam que se tratava de uma convocação e que não poderiam negar. Parte do desconforto, diz a presidente, deu-se por problemas de comunicação e também pela forma de como a doença é apresentada, em forma de pandemia.
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Há um motivo a mais para isso: dentistas estão no topo do ranking de risco da Covid-19. Isso decorre da proximidade com o paciente (a menos de um metro de distância) e pelo uso de aparelhos como aerossóis, os quais espalham gotículas de salivas e também sangue.
Apesar disso, a presidente do CRO acredita que aos poucos a situação é esclarecida e acredita em uma boa adesão:
– Trabalhamos com alto nível de biossegurança nas clínicas e consultórios usando máscaras cirúrgicas, luvas, avental estéril, óculos de proteção. Isso nos tranquiliza a respeito de contágio e possibilidade de transmitir o vírus aos nossos familiares.
Ela deu o exemplo. Fez o cadastro e se colocou como voluntária. Na prática, ela já vive a experiência de voluntariado através de um projeto com outros profissionais e que cuidam dos dentes de crianças de famílias em situação de vulnerabilidade social.
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Casada com um também dentista e mãe de duas crianças, Sandra acredita que tomados todos os cuidados a respeito da segurança profissional esta é uma oportunidade de exercer cidadania.
Veterinários aptos a atuar em frentes distintas
Marcus Vinicius de Oliveira Neves, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina, diz que tem havido bastante interesse por parte dos cerca de 7 mil associados e 9,5 mil inscritos a respeito da portaria. Há, no entanto, muitas dúvidas sobre como será a atuação, local, dispensa por parte das empresas, remuneração. Sobre ganhos a portaria diz apenas será “justa”.
Neves lembra que o coronavírus é uma zoonose – capaz de ser facilmente transmitida entre os humanos – e que os profissionais da área têm larga atuação neste campo, por se tratar de um tema próximo quando se trata de saúde de rebanhos.
– Pela própria formação o profissional de saúde está sempre pronto para trabalhar, e não apenas no front. Mas em inúmeras outras atividades que a formação permite como pesquisa, análise, diagnóstico, planejamento de saúde – diz Neves.
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