Em 2000, a população acima dos 50 anos em Joinville correspondia a 13% do total de habitantes do município. Hoje, essa participação chega a 19%, como aponta o “Cidade em Dados de 2017”. Mas se por um lado a população está envelhecendo, por outro, são eles, os “50” que estão ventilando novas perspectivas profissionais à “cidade do trabalho”.
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Lançando mão dos padrões formais do emprego em busca de manterem-se competitivos ou para retomar a geração de renda, essa parcela importante de joinvilenses parte para caminhos diversos: alguns voltam para as salas de aula, outros buscam investir em negócios próprios. Há ainda quem descubra novos talentos em profissões que até pouco tempo nem existiam e encontram nas inovações tecnológicas a possibilidade de fazer carreira.
Isso traduz a capacidade de reinvenção dos profissionais desta faixa etária frente aos resultados do emprego nos últimos anos na cidade. No ano passado, por exemplo, a população acima dos 50 anos deteve o maior número de perdas de vagas de trabalho em Joinville, dada a diferença proporcional entre o total de admissões e demissões de sete faixas etárias.
Só no acumulado de 2016 e 2017, foram fechados 3,9 mil postos de trabalho para o público com idade de 50 a 64 anos, e outros 482 desligamentos envolvendo pessoas com mais de 65 anos. Destes, 1,6 mil somente no último ano. Já os jovens de 18 a 24 anos apresentaram resultado positivo no mesmo período: 6,2 mil vagas abertas, sendo 4,6 mil delas criadas em 2017.
As perdas também já eram maiores para os “50+” no momento anterior à crise econômica, como evidenciam os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2013, pré-crise, apesar de negativo, o saldo estava ligeiramente menor: 492 funções fechadas entre os profissionais maduros no município. À época, as contratações entre o público jovem já era favorável, com 3,4 mil vagas abertas.
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Dentre as explicações para a atual situação do emprego entre os mais velhos há vários influenciadores distintos como a conquista da aposentadoria, o aumento da informalidade, o quadro econômico instável, a busca por autonomia e a substituição por mão de obra mais barata. Somados, esses e outros fatores tendem a exercer papel determinante para a manutenção, seleção ou fechamento das vagas. Em contrapartida, servem também como propulsores para os cidadãos que, com essa idade, precisam reaprender a buscar oportunidades de trabalho ou a investir em novos modelos de negócio.
- SALDO DE EMPREGO POR IDADE, EM JOINVILLE, EM 2017:
- (FONTE: MTb/Caged)
- Até 17 anos: 1.542 vagas.
- 18 a 24: 4.596.
- 25 a 29: 588.
- 30 a 39: 560.
- 40 a 49: -30.
- 50 a 64: -1.444.
- 65 ou mais: -224.
- Total: 5.588
ALTERNATIVAS PARA ENCARAR O MERCADO DE TRABALHO ATUAL
O sonho de abrir o próprio negócio é uma das alternativas encaradas por parte daqueles que deixam o emprego formal em Joinville. O reflexo vem em números. De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Joinville, dos 23,3 mil microempreendedores individuais (MEIs) cadastrados no Sistema de Recolhimento em Valores Fixos Mensais de Tributos do Simples Nacional (Simei), no município, 4,5 mil têm 51 anos ou mais – 19,4% do total.
Para Edson Gonçalves Gomes, de 60 anos, a alternativa encontrada foi aplicar esforços na implantação de um aplicativo (app) para ajudar os motoristas a economizarem na hora de abastecer o carro. Ele começou a investir na ideia no ano passado junto com uma empresa desenvolvedora de softwares. No futuro, os usuários terão acesso a informações como localização via satélite dos postos de combustíveis mais próximos, além do custo-benefício por meio da distância até o estabelecimento, bandeira e o preço do produto.
A intenção é bem diferente da profissão exercida pelo economista até 2014, quando foi dispensado da construtora onde trabalhava como gerente comercial. Conforme ele, o desligamento não teve relação com sua idade, mas desde então não conseguiu recolocação no mercado de trabalho e optou pela alternativa de criar o programa.
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— O projeto está em fase de criação e ainda esbarra na diversidade de programas que os postos possuem para atualizar os preços nas bombas, o que dificultaria a inclusão automática desses valores no app. Mas esse é um software que, quando lançado, vai gerar economia para os usuários. Um estudo da Agência Nacional de Petróleo mostra que, em algumas cidades, a diferença por litro de combustível chega a 70 centavos. Então, se um motorista enche o tanque de 60 litros, pode economizar R$ 42 com o auxílio do aplicativo — prevê o empreendedor.
Descoberta de novas oportunidades
Um segundo rumo que vem ganhando força são as atividades relacionadas à tecnologia. Foi essa a escolha do motorista Rony Eldo Dantas Nunes, que, aos 51 anos, ingressou em um novo momento de vida. Decisão que fez com que conseguisse garantir conquistas importantes no último ano após partir para uma nova carreira.
A reviravolta aconteceu há cerca de quatro anos, quando ele precisou encarar algo impensável, a realidade de deixar para trás a profissão de motorista de caminhão, a qual exerceu por 20 anos. Isso porque precisou fazer cirurgia na coluna e não conseguiu mais espaço nas transportadoras e empresas de transporte coletivo.
Desempregado, tentou várias alternativas, mas a resposta era sempre a mesma: o problema de coluna era visto como um empecilho para o seu retorno à atividade. No período, sua mulher precisou trabalhar dobrado para manter as contas de casa – situação que permaneceu até julho do ano passado, quando ele conseguiu trabalho por meio de um aplicativo de transporte. Uma escolha que, segundo Rony, acompanha a maioria dos seus companheiros de serviço.
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— Essa é uma oportunidade que foi abraçada por muitas pessoas da minha idade. Para mim, que estava afastado do mercado de trabalho, fez a diferença porque em sete meses na função consegui voltar a ter renda e a trocar o carro por um novo, algo que já não imaginava. A saúde também melhorou, pois deixei de fumar para não deixar cheiro no veículo e até na relação familiar foi positivo. Agora, tenho condições de contribuir em casa — conta Rony.
O mesmo passo foi seguido por Francisco Antonio Saleme, de 62 anos, que optou por mudar o foco na busca por uma recolocação. Ele trabalhou por mais de três décadas como produtor de eventos e teve o último trabalho com carteira assinada encerrado em 2012. Segundo ele, depois que completou 50 anos, as oportunidades no mercado formal cessaram e precisou contar com ajuda da família para manter o padrão de vida, além de fazer “bicos” para sustentar a casa.
Após as negativas, ele parou de procurar por emprego como produtor e há um ano e três meses também usa a tecnologia como ferramenta de trabalho. Ele acredita ser o mais antigo dos motoristas em atividade pela empresa Uber, especializada no serviço, em Joinville.
— Todas as agências de emprego da cidade ainda devem ter meu cadastro, mas não procurei mais empregos na minha área. Não costumam contratar depois dos 50, então encontrei uma nova chance nessa área, onde fui aceito e pretendo continuar na função — avalia Francisco.
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Escolha pela capacitação
Um terceiro viés para retomar a presença no mercado de trabalho é a opção pela atualização, seja por meio de cursos de capacitação, seja encarando a universidade. Esse foi o insight que Francisco Alexandre dos Santos Filho, de 53 anos, teve há quatro anos, quando perdeu o emprego na indústria metalmecânica. Ele acredita que o fato de estar nesta faixa etária, somado à instabilidade no setor, foi decisivo para o fim do seu contrato de trabalho. Desde então, caiu na informalidade, diz ele, por consequência da falta de oportunidades para pessoas acima dos 50 anos.
No entanto, ao invés de se abater, sua opção foi outra: aproveitou o tempo e os recursos para estudar. Ele cursa há três anos a faculdade de engenharia mecânica na Universidade da Região de Joinville (Univille) com o objetivo de se especializar na área e retornar ao mercado de trabalho de igual para igual com os colegas mais jovens.
— Não sei até que ponto isso vai me beneficiar no futuro porque é incerto como o mercado de trabalho vai se comportar, então estou fazendo o curso por aptidão. Hoje, estou em uma turma em que tenho colegas de 16 anos, o que é importantíssimo porque é a partir das intenções desses jovens que posso formar as minhas expectativas para o que consigo conquistar nessa profissão — aponta o estudante.
Outra troca considerada fundamental é a possibilidade de ajustar a agilidade na resolução de problemas inerentes à função de acordo com a demanda atual das indústrias, cada vez mais veloz e conectada às novas tecnologias. Em outras áreas, a convergência profissional entre jovens e adultos também está em crescimento.
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— Esse é o desafio de estar na universidade atualmente, porque você entra num mundo que é deles, dos jovens. Tenho vários colegas que acabaram de completar 18 anos, com objetivos diferentes, mas é uma convivência que acaba sendo tranquila e serve para exercitar a tolerância e o aprendizado para ambos — constata Marli Maria Pelisser Nicolao, de 57 anos, estudante da 3ª fase de Direito na Univille.
No caso dela, foram 35 anos dedicados a atividades bancárias e há pouco mais de um ano houve a troca da carreira por uma vaga na universidade, em busca de autonomia e mais qualidade de vida. A mudança ocorreu em meados de 2016, quando ela decidiu aceitar as condições do programa de demissão voluntária do banco. O afastamento do mercado profissional, no entanto, não durou muito tempo.
— Trabalhava desde criança e isso sempre me fez bem, foi útil e me deixava com a autoestima elevada. Quando você deixa de trabalhar, essa autoestima baixa e você afasta os objetivos de carreira. Então fiz essa escolha de retornar, mas como no setor bancário a mão de obra está diminuindo em função da automatização, decidi investir em uma área autônoma — justifica, rumo ao novo desafio profissional.
EMPRESAS RETOMAM O OLHAR PARA OS PROFISSIONAIS MAIS MADUROS
Motivados por necessidades financeiras, interação social ou visando ao estímulo intelectual, o número de pessoas maduras, até mesmo já aposentadas, que decidem retornar ao mercado de trabalho está em ascensão no mundo. É o que conclui um estudo do ManpowerGroup, especialista global em carreiras. Essa nova realidade já é sentida pelos empregadores e, na avaliação de Wilma Dal Col, diretora de gestão de talento da Right Management, do mesmo grupo, a tendência é de retomada na contratação de profissionais com mais tempo de carreira.
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— Há um conjunto de ações acontecendo, desde uma mudança no próprio sistema de aposentadoria, porque hoje existem mais pessoas nesta faixa etária buscando uma colocação, sendo que alguns anos atrás elas estavam em busca da aposentadoria, era um outro modelo de vida. Outro fator é que algumas empresas podem ter entendido que, ao fazer uma renovação no quadro de funcionários, trazem oxigenação positiva, só que talvez parte delas tenha exagerado um pouco na mão e vem retomando a busca por profissionais mais maduros — releva.
Embora ainda lenta, essa mudança vem ocorrendo, segundo ela, devido à influência de fatores como a percepção da falta de talentos, o próprio modelo de aposentadoria e a maior longevidade da população. Ela também destaca que o mercado tradicional está abarcando novamente este público porque, entre os jovens, a inserção profissional ocorre em especial nas startups, que têm relação mais forte com os anseios dessa geração. Outros pontos fortes são a experiência, a maturidade e o equilíbrio emocional desses profissionais.
Nas empresas, a especialista destaca que também reduziu-se a preocupação com o etarismo e muitas já utilizam o sistema de “currículo cego”, no qual os candidatos são avaliados por competências e realizações. Nesse modelo, os candidatos não têm identificados, no currículo, informações como idade, universidade ou ano de formação. A máxima é de que, independentemente da idade, o profissional esteja ligado às transformações e deixe de lado os modelos-padrão de trabalho.
— O que é esperado é uma prontidão e adaptação para uma aprendizagem rápida. A resolução dos desafios deve vir com velocidade, ele deve estar conectado às diferentes realidades e gerações, e essa é uma exigência que independe de faixa etária. Quando o profissional mais maduro traz ou busca desenvolver isso, em um processo seletivo ele se torna um candidato altamente qualificado — sentença.
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Para se destacar, outra dica é que os profissionais “50+” se desconectem de que estão nesta faixa etária e passem a ter mais foco para si. Ou seja, entenda qual é a força de contribuição que ele ainda pode oferecer para o mercado.