Ao contrário do que aquele seu colega vestibulando preguiçoso fala, ler os livros que vão cair na prova não é o máximo do esforço necessário – pelo contrário, é apenas o começo. Faltando pouco mais de um mês para o vestibular da Udesc, qualquer ajuda pode fazer diferença na hora de repassar o conhecimento para o papel.
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As orientações da Udesc aos candidatos são claras: é fundamental ler os livros do começo ao fim, mas também é importante conhecer o contexto sociocultural de cada um deles e interpretar os textos dentro dos gêneros literários. Mais ainda do que em outras matérias, quem se prepara para as questões de Literatura precisa ter em mente que as obras serão cobradas de várias maneiras, da época e lugar em que o autor viveu às interpretações mais subjetivas de cada livro.
Na prova da instituição, as questões de Português são aplicadas pela manhã e representam aproximadamente 16% do total de 100 pontos (além da redação, que vale mais 30 pontos). Não é especificado quantas das 14 perguntas da disciplina são voltadas à Literatura, mas as obras permeiam a maioria delas.
No último vestibular da Udesc, em novembro, praticamente todas as questões usavam trechos dos livros listados para falar de Gramática à interpretação de texto ou gêneros literários.
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Por isso, dar uma de malandro e achar que ler resumos é o bastante acaba sendo um tiro no pé. Devorar um livro como quem lê um gibi e ignorar todo o cenário por trás da obra, também.
Se você nem começou a se preparar, chegou a hora de desligar o computador, se esticar no sofá e botar as mãos à obra: são cinco livros para um mês e meio. E lembre-se, resumos sempre entram como um apoio – mas nunca como a ferramenta de estudos mais adequada.
Helena
Autor: Machado de Assis
Escola literária: Romantismo
Ano de publicação: 1876
Gênero: Romance urbano
Divisão da obra: 28 capítulos
Local: RJ, chácara em Andaraí
Narração: 3ª pessoa – narrador onisciente
Comentários:
Lenita Zambra – Professora no Curso e Colégio Tendência
A Udesc costuma relacionar a obra com o movimento literário (personagens, trama e ambiente). Machado de Assis utiliza um tema muito explorado pelos autores românticos da época: a obsessão pelo amor impossível e o consequente sacrilégio devido à obediência às leis morais e sociais. Cuidado para não associar a obra ao Realismo, pois Machado de Assis também teve uma fase romântica com obras como Ressurreição, A mão e a Luva e Iaiá Garcia.
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A trama se inicia com a morte do Conselheiro do Vale que, no testamento, perfilha (“adota”) a protagonista Helena. Os primeiros capítulos têm como objetivo mostrar a personagem principal em ação: ela é bonita, dócil, afável e inteligente, era pianista, sabia desenho, falava francês, entendia de costuras e bordados, lia admiravelmente e conversava com graça. Estácio tinha 27, era formado em Matemática e suposto irmão desta. Os dois se apaixonam e a protagonista não sabe o que fazer, já que enganou Estácio e D. Úrsula por interesse financeiro.
Machado de Assis usa a ironia em Helena, quando Salvador e Camargo desempenham uma mesma função social. Ambos tentam colocar suas filhas em situação de bem-estar econômico. A verdade vem à tona, mas os valores da época não permitem um final feliz. Helena morre.
Últimos Sonetos
Autor: Cruz e Sousa
Escola literária: Simbolismo
Ano de publicação: 1905
Gênero: Poesia
Comentários:
Cláudia Regina – Professora do IFSC
Nesta obra, Cruz e Sousa vive a redenção de uma vida sofrida, do preconceito que teve de encarar, das dificuldades econômicas, da falta de estímulos para escrever. A temática da obra está voltada à vida interior, à alma, ao sentimento e ao destino além-matéria. Importante lembrar que Cruz e Sousa pertenceu ao movimento do Simbolismo, uma escola que dá uma nova dimensão ao sentimento, à subjetividade, à imaginação e à espiritualidade; ele busca desvendar o subconsciente e o inconsciente nas relações misteriosas e transcendentes do sujeito humano consigo próprio e com o mundo.
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No vestibular, a poesia aparece, quase sempre, para ser interpretada. Por isso, ao analisá-las, não se esqueça das principais características de Últimos Sonetos, que são: adjetivos marcantes; descrição; musicalidade; utilização de recursos literários como a aliteração (repetição de um fonema consonantal) e a assonância (repetição de fonemas vocálicos); linguagem repleta de elementos sensoriais (som, luz, cor, formas); emprego de palavras raras; vocabulário litúrgico, obscuro, vago; temática em torno de temas místicos, imaginários e quase sempre ligados à morte; pessimismo.
Clarissa
Autor: Erico Verissimo
Escola literária: Modernismo – 2ª geração
Ano de publicação: 1933
Gênero: Romance
Divisão da obra: 31 capítulos
Local: Porto Alegre
Narração: 3ª pessoa
Comentários:
Edir Alonso – Professor no Curso Pré-vestibular Gaia
A geração de 1930, segunda fase modernista, enfatizou as questões sociais de um Brasil em processo de urbanização. Nesse sentido, a obra de Erico Veríssimo filia-se ao chamado Romance de 30 (neorrealista), abordando, ao mesmo tempo, a psicologia da personagem Clarissa e a explosão urbana de Porto Alegre representada no ambiente da pensão de D. Eufrasina. As pessoas vivem suas rotinas escondendo segredos que podem ser entrevistos, ora pelo olhar sombrio de Amaro, ora pela percepção ingênua – e, por isso mesmo, poética – da adolescente Clarissa.
A ênfase não está na ação, mas em um mergulho na subjetividade das personagens (narrador onisciente). Cabe, porém, destacar algumas situações marcantes: a pobreza, a doença e a morte do menino Tonico; o adultério praticado por Ondina (mulher do caixeiro Barata) e Nestor.
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Ao final do ano de estudos, Clarissa completa 14 anos e ganha de Amaro um peixinho de aquário. Ela, vencendo a timidez, agradece e, finalmente, se aproxima de seu discreto admirador (observe o amor platônico de Amaro por Clarissa). O instante com a menina faz do músico sombrio um ser iluminado, como o peixinho querendo apanhar um raio de sol.
A Hora da Estrela
Autora: Clarice Lispector
Escola literária: Modernismo – 3ª geração
Ano de publicação: 1977
Gênero: Romance psicológico
Local: Rio de Janeiro
Narração: 1ª pessoa – narrador onisciente
Comentários:
Joãozinho Ribas – Professor no colégio e pré-vestibular Energia
A respeito do livro de Clarice Lispector (aquela autora que não escreveu a maioria das frases que lhe atribuem nas redes sociais, hehe), é massa lembrar que a autora pertence à terceira fase modernista, chamada de geração de 45. O romance, último da escritora Clarice, apresenta temas como a incomunicabilidade: Macabéa tem dificuldades de se comunicar e verbalizar o pensamento. Outra coisa importante, e não muito comum na obra de Clarice, é a temática de pendores sociais – a atenção dada a uma retirante nordestina feia e ignorante.
Fique esperto também com o lance da metalinguagem: o narrador Rodrigo S. M. comenta o tempo todo não só a história da nordestina, mas também o próprio processo de narrá-la. Ah, e tem também o humor, sim, humor! Pense na cena final, a previsão da cartomante se cumprindo de maneira tragicamente irônica.
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O Detetive de Florianópolis
Autor: Jair Francisco Hamms
Escola literária: Literatura catarinense contemporânea
Ano de publicação: 1983
Gênero: Crônica
Divisão da obra: 32 histórias
Local: Florianópolis
Comentários:
Regina Brasil – Professora no colégio e pré-vestibular COC
A obra do inigualável Jair Francisco Hamms tem 10 crônicas com a personagem título e mais 22 gerais, trazendo no bojo a versatilidade do amigo que sabia analisar sua cidade e seu povo através de brincadeiras com as palavras, de ambiguidades e trocadilhos dignos de quem manuseava a língua com a destreza de um etimólogo.
O retrato da esperteza e, ao mesmo tempo, da ingenuidade do mané é observado sob a ótica do humor e da ironia. Domingos Tertuliano Tive, o D.T.Tive, “desempregado e aporrinhado”, inicia uma trajetória vitoriosa de grandes investigações em uma Florianópolis perdida entre os anos 70 e 80 do século passado. Da fina ironia ao escracho, do engraçado ao caricatural, transitamos nesse universo fantástico de duplos sentidos, de irreverência e de brincadeira magistral com o idioma pátrio.
Lembremo-nos que tudo o que foi citado acima é um elenco de características do autor e da obra, que podem e devem ser cobrados nas provas, além da identificação do enredo de cada uma dos contos/crônicas. A Udesc, às vezes, também elenca personagens e pede sua devida identificação.
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