Professores do Instituto Federal Catarinense (IFC) de Araquari sofreram ataques racistas durante um evento online realizado na última terça-feira (10). O evento foi promovido em parceria com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) e fazia parte da programação do Mês da Consciência Negra.
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De acordo com o instituto, durante o evento, algumas pessoas se infiltraram entre os participantes da sala virtual e iniciaram uma sequência de ataques com textos, falas, sons e imagens obscenos, ofensivos e racistas. Alessandra Bernadino, assistente técnico pedagógica, era uma das participantes do evento. Ela conta que os invasores chamaram os participantes de “macaco”.
– Eles entraram, deram um boa noite, repetiram o boa noite, fizeram xingamentos, vários xingamentos e, principalmente, a palavra de praxe que é macaco, em alto e bom tom, várias vezes. Isso é inadmissível, esperamos que a justiça seja feita e todas as providências, com certeza, estão sendo tomadas. A justiça catarinense tem que dar conta desses casos. Não podemos mais continuar, como educadores, sofrendo tal ato criminoso – destaca.
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Em nota, a gestão do campus informou que encaminhou um ofício para a Polícia Federal investigar. A reportagem tentou entrar em contato com a polícia para saber se a investigação será instaurada, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. A direção do instituto disse ainda que não serão divulgadas imagens do seminário por orientações internas institucionais. Confira a nota na íntegra:
“Na noite de 10/11/2020, durante evento da programação do Mês da Consciência Negra promovida pelo NEABI do Campus Araquari do Instituto Federal Catarinense, pessoas que se infiltraram entre os participantes da sala virtual iniciaram uma sequência de ataques com textos, falas, sons e imagens obscenos, ofensivos e racistas.
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A gestão do Campus Araquari repudia veementemente qualquer manifestação de cunho discriminatório e reitera o compromisso institucional com a justiça social, a equidade, a cidadania, o respeito e a ética.
No momento estamos reunindo informações e documentos para solicitarmos aos órgãos competentes a apuração e responsabilização dos envolvidos.
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Reforçamos nosso apoio ao trabalho dos núcleos inclusivos da instituição e prestamos especial solidariedade ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – NEABI, alvo destes ataques, e a todas as pessoas que, infelizmente, presenciam ou sofrem ataques desse tipo na nossa sociedade.
Desejamos muita força e coragem aos que mobilizam as lutas por igualdade de direitos e nos posicionamos ao lado do NEABI-Araquari e contrários a qualquer tipo de desrespeito e discriminação.”
Compir também repudiou o ato
O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) também emitiu nota de repúdio com relação ao ocorrido. Em nota, mencionou outra situação semelhante registrada em agosto com um professor de Joinville e destacou que é inadmissível que esses discursos e atos de ódio continuem ocorrendo.
Sobre o episódio registrado em agosto em Joinville, a Polícia Civil informou que o inquérito ainda está em aberto e nenhuma informação será divulgada para não atrapalhar as diligências.
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Confira a nota do Compir na íntegra:
“O Compir – Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, vem a público repudiar veementemente o ato racista e homofóbico sofrido pelos professores e alunos do Neabi no dia 10 de novembro de 2020, em aplicativo de reunião não presencial via internet.
O Neabi foi covardemente atacado por indivíduos que, após entrarem na plataforma onde ocorria a videoconferência de modo aberto, começaram a ofender o núcleo de forma racista e homofobica, sendo o ataque cibernético feito através de palavras de cunho pejorativo, textos e vídeos pornográficos e de cunho Neo-Nazistas.
Desde o início da pandemia, situações como esta vem se repetindo em videoconferências e outras formas de encontro virtual como o ocorrido ao Professor Jonathan Prateat em evento em agosto último.
É inadmissível que esses discursos e atos de ódio continuem ocorrendo e, desta forma, o Compir através de seus conselheiros, se solidariza com o Neabi e o IFC – Campus Araquari e presta total apoio para que medidas cabíveis sejam tomadas.”
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Programação é referência ao Dia da Consciência Negra
As atividades no IFC começaram no dia 10 de novembro e estão previstas até o dia 28. O evento faz alusão ao Dia da Consciência Negra, oficialmente celebrado em todo território brasileiro em 20 de novembro.
A data faz referência à morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes do Quilombo dos Palmares, maior quilombo que já existiu na América Latina. Palmares era refúgio de negros e indígenas fugidos da escravidão e também abrigava brancos pobres. O Quilombo dos Palmares estava localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, onde hoje é o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.