As relações entre política, esporte, história e ditadura nunca estiveram tão presentes nas discussões e nos cadernos de lições de estudantes e professores de história em Joinville. Os 50 anos do golpe militar de 1964 fazem parte de uma série de eventos que vão marcar o dia a dia dos alunos e serão levados para a sala de aula, como a Copa do Mundo no Brasil, e as eleições para escolher presidente, governador, senadores e deputados estaduais e federais.
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– A ideia é unir alguns assuntos e levar o aluno a pensar criticamente sobre o período todo, entender que o golpe não nasceu do nada, que já vinha sendo articulado – diz a professora Alexandra Reali Tomas, que terá a oportunidade de trabalhar os 50 anos do golpe militar com pelo menos três turmas da Escola Municipal Ruben Roberto Schmidlin, no bairro Morro do Meio, na zona Oeste de Joinville.
Embora tenha ocorrido do dia 31 de março para o dia 1º de abril de 1964 – os estudantes devem ouvir o assunto e debater as lições no fim do ano, entre setembro e outubro. É que, pelo plano nacional de educação, há uma série de eventos da história mundial e do Brasil que fazem parte do conteúdo neste primeiro semestre do ano – como o centenário da 1ª Guerra Mundial e as primeiras décadas do século na política nacional.
– Temos muitas relações a fazer: como o uso das músicas da Copa do Mundo na década de 1970, os slogans da ditadura envolvendo o futebol e até o fato de, no meio de um período eleitoral, lembrar que a atual presidente também esteve presa no período – diz Alexandra, que se adiantou e já tem uma série de textos, vídeos e canções para levar para a sala de aula.
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Uma das preocupações dos professores é fazer com que os estudantes procurem saber com seus próprios pais e avós como era a vida durante a ditadura.
O professor Maikon Jean Duarte, que ajudou na produção e na historiografia do documentário Ditadura Reservada, é um defensor da ideia de os professores levarem não apenas as informações nacionais para dentro da sala de aula, mas, principalmente, o que estava ocorrendo em Joinville e em SC. Ele próprio deve participar de uma série de apresentações e debates em escolas da cidade.
A polêmica revolução x golpe
Desde a década passada, o termo usado para explicar o que ocorreu em 1964 deixou de ser revolução e passou a ser golpe de Estado. Segundo o professor de história e pesquisador Wilson de Oliveira Neto, da Univille, esta discussão já está bem resolvida.
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– Existe um entendimento de que houve um golpe de Estado nos moldes clássicos, com todos os pressupostos de um golpe – diz. Wilson é autor do livro O Exército e a Cidade, que conta a história do 62º Batalhão de Infantaria (62º BI), instalado em Joinville no começo do século passado e participante ativo de praticamente todos os episódios bélicos nacionais e internacionais que envolveram o Brasil.
O termo “revolução” aparece para os alunos apenas para explicar que é como o movimento chegou a ser chamado durante a ditatura até ser revisado completamente nos livros didáticos.