Vestibulandos que se preparam para entrar em uma universidade catarinense sabem que para se dar bem nas provas precisam se dedicar à leitura de pelo menos oito livros obrigatórios, cobrados pela UFSC, Udesc e Sistema Acafe. Entre as obras obrigatórias, há textos de 500 anos, poemas, contos, relatos de importantes momentos históricos nacionais e da cultura popular.
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Para dar conta do conteúdo, resumos, filmes e peças teatrais prometem ajudar, mas os especialistas são unânimes: a leitura integral das obras é indispensável. O professor de Literatura do colégio Energia de Florianópolis João Amálio Ribas observa que o aluno não precisa esperar surpresas das provas, porque os vestibulares têm mantido um padrão na forma com que a Literatura é cobrada. A UFSC, por exemplo, tem exame que privilegia os que leram as obras com atenção. As questões trazem trechos dos livros e proposições que versam sobre a interpretação da obra, o contexto literário em que está inserida, além de análise linguística e gramatical.
– O aluno vai se sentir desafiado e valorizado pela leitura que fez.
A recomendação para ir além é a mesma dada a um atleta: treinar. A professora de Literatura do COC de Florianópolis Regina Brasil aconselha a ler os livros com lápis na mão, sublinhando pontos interessantes, esclarecendo o vocabulário e fazendo notas.
É importante ler com dois olhares. Primeiro, compreendendo o enredo e a interpretação do livro, como questões sociais, históricas e políticas. Depois, relacionando a obra ao período a que pertence e às características das escolas literárias abordadas nas questões.
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O conhecimento sobre as correntes literárias e os movimentos estéticos são cobrados principalmente no Enem, que não exige a leitura de obras específicas.
Entrevista: Sérgio Machado, professor de Literatura e diretor da peça V de Vanguarda
Diário Catarinense – Assistir ao espetáculo é suficiente para se preparar para as provas?
Sérgio Machado – O intuito nunca foi substituir a leitura, ao contrário, incentivar o aluno através da peça a ler esses livros. Alguns alunos leem as obras, não todas, aí vão assistir e acham tão interessante a forma como a gente criou que vão ler o livro. Está servindo de incentivo e para auxiliar o professor em sala de aula. DC – Como se adaptam oito livros para uma peça?
Sérgio – Temos uma equipe de dramaturgia, eu e mais duas pessoas. Procuramos o tema geral dos livros para fazer uma espécie de fusão. Neste ano, a peça é V de Vanguarda, com base no V de Vingança, pois todos os livros trabalham a questão da política. Criamos personagens alegóricos como a Corrupção, a Violência, o Poder, a Manifestação. Eles aparecem entre as representações dos livros para unir uma obra à outra e fazer uma única história. DC – Mesmo com uma única história é possível identificar cada uma das obras?
Sérgio – Para cada livro a gente cria uma estética teatral diferente. Trabalhamos com teatro de sombras, de plástico, comédia de costumes. Várias histórias são apenas quatro atores que não saem de cena: vão colocando acessórios e assim surgem as histórias. A gente moderniza algumas coisas, mas as falas são equi literis ao que está no livro. Por exemplo, Agosto é um livro muito denso, que tem um lado histórico e outro ficcional. A gente colocou as duas coisas bem didáticas para entender e até tirar as dúvidas. Os períodos artísticos a gente não pôde fazer na sequência – romantismo realismo, naturalismo – porque senão fica muito cansativo para o aluno. Continua depois da publicidade DC – Que recursos são usados para manter a atenção?
Sérgio – Atualizamos as histórias. Por exemplo, Cronistas do Descobrimento é um livro que o pessoal não gosta muito de ler. São histórias da época dos navegadores. Trouxemos isso para uma ex-professora e sua netinha, que quer saber um pouco sobre o assunto. Tem livro que a gente deixou mais clássico e outros que a gente trabalhou mais o humor para poder aguentar essas quatro horas.