Na sala de aula de Celene da Costa, 65 anos, um turbilhão de crianças corre de um lado para outro, fala alto e exibe os brinquedos feitos com materiais descartáveis. Tudo feito em mais uma manhã produtiva no Centro de Evangelização e Educação Popular (Cedep) junto com a professora. Orgulhosos, eles desfilam segurando os robôs de caixas de leite, fantasmas de potes de iogurte e bolsinhas de papelão que fizeram.
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Perto do meio-dia, aqueles que já almoçaram começam a se encaminhar para a escola “de verdade”, enquanto os professores arrumavam o ambiente para receber a próxima turma de alunos.
– Muitos fazem a única refeição do dia aqui – conta Celene, mostrando a tabela que os professores organizaram para promover uma competição de quem deixa menos sobras no prato.

Criançada se exibe com brinquedos novos. Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS
O Ceped é um centro de ensino gratuito para crianças e adolescentes com idades de seis a 15 anos. Celene da Costa, a professora mais antiga de todo o corpo docente, está ligada à instituição há mais de 25 anos e já perdeu a conta de quantas crianças passaram pelos seus cuidados. Os seus alunos atuais, que não a deixam dar mais de alguns passos sozinha, têm cerca de dez anos – justamente uma das idades preferidas de Celene devido ao foco na alfabetização.
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– Parte de nossa missão é transformar a realidade violenta dos alunos. Muitos chegam aqui com uma linguagem de agressividade e têm raiva da polícia, principalmente os que viram os pais serem presos ou agredidos. É incrível ver as mudanças nos gestos simples, como um pedido de “com licença” ou um “obrigado” – conta Celene.
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A história da moradora do Monte Cristo é um resumo dos desafios que a população carente enfrenta para conquistar direitos básicos até hoje. Celene ainda não vislumbrava uma carreira na educação quando, em 1987, uma série de ocupações irregulares em Florianópolis reacendeu o debate sobre a infraestrutura. Foi nessa época que ela começou a cuidar de algumas crianças da comunidade, inclusive o próprio filho, e a cursar o magistério. Anos depois, tinha em mãos um diploma do curso de Pedagogia da Udesc, um dos mais conceituados do Estado.
– Uma das mudanças mais impactantes neste tempo todo foi a ampliação do atendimento aos mais velhos. Quando o aluno completava a 4a série e parava de estudar conosco, a comunidade tinha que ficar de olhos abertos. Perdemos muitos ex-estudantes para o narcotráfico dessa maneira. Hoje conseguimos acompanhar os jovens até eles completarem 15 anos, quando já estão bem mais conscientes de suas realidades – observa Celene.
Festa para as crianças
O Ceped é ligado ao Instituto Vilson Groh (IVG) e recebe diariamente cerca de 300 crianças e adolescentes nos horários em que eles não estão na escola. Inicialmente, as aulas ocorriam em quatro casas que atendiam populações específicas: Ilha-Continente, Novo Horizonte, Santa Terezinha e Nova Esperança.
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No Cedep, crianças recebem almoço antes ou depois de irem pra escola. Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS
Com a necessidade de ampliar o espaço, o centro foi unificado em 2005 em um prédio construído no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, onde permanece até hoje. As despesas são pagas por diversas fontes, inclusive a prefeitura da Capital, mas a principal delas é a Benefest, um evento anual do IVG conhecido como “A Festa do Bem”.
– Parte do dinheiro que for arrecadado com a Benefest vai ser usado para a construção de uma quadra nova para os estudantes – explica a coordenadora pedagógica Rosa Maria da Silveira.
8a Benefest
Quando: 29 de setembro, domingo
Horário: das 11h30min às 17h
Local: Lagoa Iate Clube (LIC), em Florianópolis
Atrações: cinco bandas, feijoada e open bar
Outras informações: (48) 3039-1828
Preço: R$ 70. A entrada pode ser adquirida na hora, mas há o risco de os ingressos se esgotarem.