Era por volta das 9h50min quando os estudantes da disciplina de Edição, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), perderam o foco. O clima de tensão já preenchia a aula desde o começo, 8h20min. Faltando dois minutos para às 10h, boa parte dos monitores dos computadores do laboratório se acenderam e, assim, viam-se telas brancas com um retângulo colorido no topo, que dizia: “Taylor Swift: The Eras Tour. Falta pouco para você comprar o seu ingresso”. 

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Roberto Roberto Amazonas Brasil Vieira era um dos poucos fãs, da quinta fase do departamento, que ainda não tinha conseguido a entrada para a apresentação, marcada para 19 de novembro no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro (RJ). Não foi por falta de vontade: tentou nas duas pré-vendas e nas datas oficiais de venda, mas o recado sempre era o mesmo, com um “X” vermelho: “ESGOTADOS”. 

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Nesta quinta-feira (22), porém, foi diferente. O início das compras era às 10h, no mesmo momento que a turma fazia um exercício de construção de um portal de notícias, o que não impediu Roberto Roberto. Mas o entusiasmo logo substituiu mais uma frustração. Sorteado aleatoriamente, ficou atrás de mais de 1 milhão de pessoas. Frustrado, brincou tragicamente no Twitter que “já Eras Tour”. 

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Thais Kethlen, que comprou, para garantir, o ingresso inteiro em 19 de junho, queria tentar a meia dessa vez e, então, vender o anterior que tinha adquirido para não ter prejuízo. Quase conseguiu. A aluna ficou em 10 mil°, mas, ao chegar na página de seleção, o setor que queria já havia esgotado. Virou para o colega e ofereceu:

— Quer comprar pelo meu computador? 

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Na foto, eu ajudo Roberto Roberto a preencher os dados da compra. Ele tremia muito e não conseguia digitar. A professora Tattiana, a Tatti, faz um “joinha” (Foto: Cael Sobral/Divulgação)

Ele se levantou, se sentou ao lado dela e preencheu todos os dados. E foi aí que mais uma decepção aconteceu. A compra de R$ 715 foi recusada. O limite do cartão de crédito era insuficiente. A professora Tattiana Teixeira, a Tatti, compadecida, olhou para ele e disse: 

— Amadinho, quer tentar pelo meu cartão? 

“Compra autorizada”. 

O aluno, chorando, deu um longo abraço na docente e prometeu: 

— Eu vou pagar a senhora, tá?

A aula voltou a acontecer e a cantora norte-americana deixou de atrapalhar. 

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Roberto Roberto é o som, é a cor

Irmão da Roberta Roberta, Roberto Roberto Amazonas Brasil Vieira, tem um nome que, segundo seu pai, lhe dá um abraço na eternidade. Roberto Márcio Vieira, além de se homenagear, fez uma referência à canção “Maria Maria” de Milton Nascimento ao repetir duas vezes o batismo. 

— Na expressão tipos e antítipos, o passado e o presente mostram o futuro. Eu, filosofando, que após ter dado um abraço na eternidade, fiz ele ser eu hoje, ontem e amanhã. Aí ficou Roberto Roberto, sou eu nele e ele em mim. Brasil ficou maravilhoso: Amazonas, que é da mãe, Brasil. Que coisa linda uma junção de um estado e de um país que são maravilhosos. Ele pegaria também Minas, mas ficaria muito grande — explica o pai. 

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Nessa teoria do crítico literário Northrop Frye, fica difícil distinguir Roberto (pai) e Roberto Roberto (filho). Mas há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode imaginar, como escreveu William Shakespeare na peça “Hamlet”. E, nessa confusão do espaço-tempo, o que diferencia o garoto é sua paixão por Taylor Swift, algo que o Roberto pai do passado, presente ou futuro talvez nunca desenvolva (mas isso é conteúdo para uma reportagem de outra dimensão). 

— Eu particularmente não gosto da Taylor Swift — já adianta a amiga Larissa Melo, que completa. — Mas eu sei o quanto ele [Roberto Roberto] gosta e estava doido para ir no show. Ele estava ficando cada vez mais arrasado toda vez que tentava comprar e dava errado. Hoje, foi emocionante. 

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O estudante é fã da artista desde que era criança. Conheceu ela assistindo “Hannah Montana: O Filme”, que a trilha sonora é composta por algumas canções da “loirinha”.

— Meu irmão mais velho [Davi Pontes] começou a morar na minha casa. Eu já ouvia Taylor Swift, mas ele ouvia muito, muito, muito. Comecei a ouvir mais por causa dele.

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O isolamento social, imposto pela pandemia de Covid em 2020, começou cerca de três meses depois que ele se formou no ensino médio, o que foi um período de transformação e consolidação de onde Roberto veio, onde está e onde irá. O ontem, o hoje e o amanhã. Foi nesse período também, em 24 de julho, que Taylor lançou o álbum “Folklore”. 

— Viver a pandemia e transitar da adolescência para a vida adulta foram fases atravessadas pelas músicas do “Folklore”. Foi ali que consegui me ouvir. Foi um divisor de águas. Sou fã dela mesmo e é isso aí!

*Sob supervisão de Éder Kurz.

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