Calçados coloridos, de diversos modelos e formatos, fazem fila no chão frio. Envoltos ao corpos, os quimonos macios estão firmemente amarrados com faixas brancas, cinza, amarelas, laranja, verdes, azuis, roxas, marrons ou pretas. Os pés desnudos se preparam para a formação da fila, sob o comando da professora Gisele Kruger, 32 anos. Sobre o tatame, a arte suave está prestes a começar.
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Entre as turmas de jiu-jítsu da Gracie Barra Joinville há duas apenas de mulheres. Com perfis variados, dos nove aos 48 anos, cada qual pratica a luta por razões próprias, mas todas concordam com um ponto: desde que iniciaram a atividade, notam inúmeros benefícios. No caso dos grupos femininos, elas acreditam que as vantagens sejam ainda maiores, pois se sentem mais livres, seguras e confortáveis do que em turmas mistas.
– Quando iniciei a prática do jiu-jítsu, a história era a mesma. As mulheres entravam e saíam, devido à dificuldade de treinar com os homens. Então meu sonho sempre foi criar um grupo 100% feminino para atender a esse público. Por meio do coordenador regional da Gracie Barra, consegui abrir estes espaços, valorizando a inserção da mulher joinvilense no mundo da luta – conta Gisele.
A aula inicia-se com aquecimento e alongamento, além de exercícios funcionais com as posições de defesa pessoal e de jiu-jítsu esportivo. As técnicas utilizadas durante os encontros podem ser feitas por qualquer pessoa, sem limite de peso ou idade. Isso porque não exige força, apenas técnica.
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O jiu-jítsu proporciona às alunas o conhecimento necessário para se defender contra situações comuns de agressões físicas e de abuso sexual, além de finalizações e golpes traumáticos.
– Para se defender em caso de agressão, ajudamos a aluna a desenvolver controle e equilíbrio emocional, o controle de reação, evitando aquela ação típica do susto, o que na maioria dos casos leva o agressor a ter uma reação mais violenta. Com o tempo, aprendem a respirar tranquilamente e manter um mínimo de calma para poder reagir – explica a professora.
O jiu-jítsu trabalha integralmente o corpo, proporciona perda de peso, define abdômen, pernas, glúteo e braços, condicionamento físico, aumento de força, flexibilidade, velocidade, equilíbrio e coordenação motora. Em uma aula, segundo Gisele, pode-se perder 750 calorias por meio da aceleração nos exercícios aeróbicos e anaeróbicos. Uma aluna mais avançada pode chegar a perder 1.500 calorias em uma hora de treino.
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Conforme a professora, as alunas praticantes de jiu-jítsu desenvolvem a disciplina dentro e fora do tatame, já que mantêm um estilo de vida saudável, buscando uma melhor qualidade vida. Com tempo, é perceptível a melhora na capacidade de concentração e disciplina. Outro fator importante é o alívio do estresse.
– Alguns preferem o exercício físico e outros, a terapia. Para nós, o jiu-jítsu é completo por ser um exercício e uma terapia, já que nós concentramos na técnica a ser aprendida e esvaziamos a nossa mente para praticarmos a arte suave.
Fora do tatame, Gisele – instrutora há quatro anos e faixa-preta desde 2012 – inicia a rotina cedo. Durante o dia, trabalha como pesquisadora institucional. Nas noites em que não ministra jiu-jítsu, é professora do curso de pedagogia. Ela também faz mestrado em educação. Além da arte suave, ela é faixa-laranja no judô e faixa-roxa no karatê. Mas o jiu-jítsu é mesmo sua grande paixão.
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– As turmas de mulheres são a extensão da minha família. Acompanho desde a faixa branca o progresso das alunas, suas batalhas em manter a motivação e a vontade de treinar, e quando recebem a outorga de uma nova graduação ou faixa, é uma vitória para mim.
Reginalda Maciel – 40 anos, professora universitária, faixa-azul

Foi procurando uma escola de caratê para o filho João Victor que Reginalda conheceu o grupo feminino de jiu-jítsu. Com aulas no mesmo horário que a turma do garoto, decidiu experimentar a arte suave cerca de um ano atrás. No início de 2014, convenceu também a companheira a praticar.
– Notei mais flexibilidade, disposição física e também mental, porque o exercício ajuda muito a suavizar o estresse. Senti o fortalecimento da musculatura: a luta diminuiu uma dor nas costas que eu tinha diariamente por causa de uma hérnia de disco que me incomodava havia mais de três anos.
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Camila Meier – 24 anos, pedagoga, faixa-branca

Aluna de pedagogia da professora Gisele, Camila estendeu a relação da sala de aula para o tatame. Quando escutava sua mentora falar em jiu-jítsu, percebia um semblante que exalava felicidade, e aquilo despertou sua curiosidade sobre a arte. Desde o início deste ano, ela também pratica a luta.
– Mesmo cansada ou estressada, no tatame você esquece os problemas. Como professora de educação infantil, às vezes vou ao treino exausta, mas depois que coloco o quimono, tudo fica para o lado de fora da academia. Sexo frágil? Com certeza não; somos muito guerreiras.
Jullie Coronel – 24 anos, estudante de biomedicina, faixa-roxa

Colega de classe de caratê da professora Gisele, Jullie conheceu o jiu-jítsu em 2011. Hoje, a luta representa superação, amizade e companheirismo para a jovem que veio do Rio de Janeiro para Joinville estudar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Apaixonada por dança, ela teve que abandonar o balé aos 17 anos após sofrer duas lesões nos pés.
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– O jiu-jítsu foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois foi minha válvula de escape e nele que canalizei toda a força de vontade, amor e frustação. Consegui adaptar as habilidades e muita flexibilidade adquiridas ao longo dos meus 13 anos de balé, e hoje vejo o meu aprendizado no balé como complemento, que me ajudou e ajuda muito. Eu simplesmente aprendi a amar e respeitar esse esporte. E se antes eu me considerava uma bailarina que treinava jiu-jítsu, hoje me considero uma lutadora de jiu-jítsu que treinava balé.
Cláudia Nunes – 30 anos, vendedora, faixa-azul

Vinte quilos mais leve, a pequenina Cláudia se revela gigante no tatame. E sua motivação foi mesmo o peso. Ela buscava uma atividade física empolgante que a auxiliasse a deixar o corpo mais saudável e a ensinasse defesa pessoal. Incentivado pelo irmão, encontrou tudo o que procurava e um pouco mais no jiu-jítsu.
– A luta é meu compromisso semanal. Não agendo nada no horário das aulas, pois é minha válvula de escape para a rotina diária de trabalhos e estudos. Atualmente, pratico também musculação, corro e ando de bicicleta. E sempre fazemos confraternizações, comemoração de aniversários e até mesmo nos reunimos para assistir às lutas do UFC. A relação da equipe é ótima dentro e fora do tatame.
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Lucia Regina Ferrari – 31 anos, securitária, faixa-marrom

Faixa-preta no caratê há um ano, Lucia está trilhando o mesmo caminho no jiu-jítsu. A aluna com graduação mais elevada da turma auxilia a professora Gisele como instrutora e não hesita na hora de apontar os benefícios da atividade.
– Sempre fui de comer muito, e posso garantir que a perda calórica é real. São mil calorias a menos por treino. Mentalmente, me sinto realizada, pois tenho uma rotina estressante no meu trabalho e, quando chego no jiu, esqueço os problemas e me concentro apenas nas aulas. Teve uma época da minha vida em que engordei 20 quilos, mas graças às artes marciais emagreci com saúde, tendo um ótimo rendimento físico e podendo comer de tudo sem culpa.