“O tempo em que vivo não é um tempo distante para dizer o tempo em que vivi, mas é tempo suficiente para sentir que a geração de pai para filho se tornou a geração da distância. Em meus anos de professora vivi a experiência do respeito incondicional ao desrespeito, também, incondicional. Levantar-se diante da presença de uma autoridade – sim, o professor e o diretor, eram autoridades – era algo tão normal, como normal era inclinar-se ou tirar o chapéu ao passar por um símbolo nacional, a exemplo da bandeira brasileira hasteada. Passo pela rua de madrugada e vejo a bandeira hasteada diante de uma escola sem sequer iluminação. Está trêmula literal e figuradamente.
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Quando a noção do respeito se perde, perdemos todos. Seguimos por caminhos que pressupõem sermos “o pequeno príncipe de um país distante”, fazemos o que achamos melhor, solitariamente. Certo e errado, direita e esquerda, deixam de ser antônimos em nome de um ecletismo vomitado por pseudos teóricos de práticas duvidosas. As creches passaram a ter papel mais importante do que o dos pais.
Quando as famílias eram de muitos filhos e não havia bolsa alguma nem as facilidades da tecnologia, lá estavam as mães a zelar pelos filhos e os pais a garantir o apoio básico para mantê-las. À noite, todos estavam lá. O dia era reservado para o trabalho e o estudo. Todos sabiam de tudo, tudo era partilhado, tudo era escasso, menos a presença. Respeito era condição sine qua non aos pais, professores, mais velhos, autoridades, padre, vizinhos, amigos.
Ainda vivo o tempo em que a palavra vale mais do que documento, porque assim meu pai ensinou, mas também vivo o tempo em que nem o documento vale porque há tantas leis que salvaguardam os inescrupulosos e executam os que acreditam na justiça. Vivo o paradoxo do tempo presente.“
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