Uma mulher transexual denunciou neste fim de semana um caso de transfobia que teria ocorrido durante o Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (Fitub), no Vale do Itajaí. Um boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado na Polícia Civil.
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A situação ocorreu na sexta-feira (8) após um dos espetáculos do festival, que é realizado no Teatro Carlos Gomes. Segundo a professora Emily Jandt, de 24 anos, depois de assistir à peça, ela foi com uma amiga até o banheiro. Enquanto a colega usava a cabine privada, a jovem ficou em frente ao espelho, momento em que uma mulher entrou e disse “tem um homem no banheiro”.
— [A mulher] olhava e procurava o apoio de outras mulheres enquanto dizia “tem um homem no banheiro” me constrangendo muito, me sentia muito acuada. Tentei falar com ela que não tinha homem algum naquele banheiro, tinha uma travesti e aquele banheiro também era meu, assim como de qualquer outra mulher cis que usava aquele espaço — explica.
Constrangida, Emily começou a sair do local. A amiga, percebendo o que acontecia, tentou defender a professora, repetindo a autora do comentário de que aquilo era crime e que ela poderia chamar a polícia.
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— Quando foi dito isso, as outras mulheres auxiliaram essa mulher a escapar sem sabermos nome e quem era. Eu sou uma professora e não posso nem ao menos usar o banheiro que é meu de direito — diz Emily.
Segunda vez em duas semanas
Emily explica, ainda, que esta não é a primeira vez que é vítima de comentários transfóbicos no teatro. Ela conta que há duas semanas também foi alvo de ofensas enquanto conferia uma exposição de arte no local.
— A transfobia ela está comigo todos os dias, sempre tenho que passar por situações assim. No teatro não foi a primeira vez. Há duas semanas, fui ver uma exposição de arte, tive uma discussão com um homem cis. Minha namorada já sofreu violência transfóbica dentro do banheiro. Esse espaço nunca foi seguro com a gente, não foi a primeira vez, provavelmente não vai ser a última vez, mas vamos continuar lutando para que isso não aconteça com nenhuma de nós — complementa.
A jovem denunciou o comentário no Disque 100, pela Central de Direitos Humanos. Um boletim de ocorrência também foi realizado neste domingo (10).
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> Confira a reportagem especial “Vozes do Orgulho”
Festival acompanha o caso
O Fitub e o Teatro Carlos Gomes informaram que no sábado (9) fizeram contato com as vítimas e prestaram acolhimento. Agora, acompanham os desdobramentos, além de se colocarem à disposição das autoridades responsáveis na apuração dos fatos.
A coordenação do Fitub disse, ainda, que vai reforçar junto com a direção do Teatro Carlos Gomes a atenção em relação a atitudes de violência, sejam elas verbais ou físicas. (veja a nota na íntegra abaixo)
— Para nós é um crime de transfobia. Elas sofreram uma violência formal. Nós estamos em contato com elas, inclusive ontem tivemos dois momentos em que demos o microfone para elas falarem e relatarem o que aconteceu — explica o coordenador do festival, Fábio Hostert.
Ele reforça, ainda, que o Fitub também busca na curadoria dos seus espetáculos prezar pela diversidade e criar um espaço de acolhimento.
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— Nós entedemos que essa temática deve ser discutida e vista. Essas pessoas tem todos os direitos, como qualquer pessoa. Nós temos muitas pessoas trans em Blumenau que nem frequentam o teatro. Então, pensando na programação, nós queremos tentar gerar espaço — enfatiza Fábio.
O teatro reforçou que “é um local de pluralidade e aberto a todos”. “A busca é por sempre oferecer um ambiente seguro ao público que prestigia os eventos”, diz a nota.
Veja a íntegra da nota do Fitub
“Informamos que o Coordenador do Fitub já realizou contato, na manhã de hoje, direto com as vítimas deste crime de transfobia ocorrido e relatado em comunicado no feed. A nossa ação efetiva neste momento é acolher a situação e acompanhar os procedimentos legais das vítimas junto das autoridades responsáveis, também se colocando à disposição destas autoridades no que for cabido a nós. Vamos também reforçar, em conjunto com o Teatro Carlos Gomes, a atenção em relação a atitudes de violência, sejam elas verbais, como neste caso, ou sejam físicas.
Para todas as pessoas da equipe de trabalho esta é sim uma situação constrangedora, pois até então era impensável que um fato de crime de transfobia pudesse ocorrer durante e nos espaços do Festival Internacional de Teatro de Universitário, que justamente busca ser um evento de acolhimento da diversidade, oportunizando maior senso crítico das pessoas em relação às diferenças, através dos debates, dos espetáculos e da vivência teatral, que a grande maioria do nosso público conhece.
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Esta nota aqui publicada é sim de extrema importância para que o nosso público tenha conhecimento de que lamentavelmente um fato de crime ocorreu durante o decorrer da nossa agenda. Nos solidarizamos com todo o público LGBTQIAP+, que precisa sim de espaço e de voz e assim fazemos e faremos!
Deste momento em diante, as comunicações sobre o fato passam a ser direta da equipe do Fitub com as pessoas envolvidas no caso, podendo ser emitido novo comunicado público se necessário”.
Veja a íntegra da nota do teatro
“O Teatro Carlos Gomes informa que não compactua com nenhum tipo de discriminação ou preconceito. O espaço é um local de pluralidade e aberto a todos. A busca é por sempre oferecer um ambiente seguro ao público que prestigia os eventos.
O Teatro Carlos Gomes informa que está ciente dos fatos ocorridos ontem durante a 32º Fitub – Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau e que lamenta profundamente o ocorrido.
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Os fatos já estão sendo apurados e a direção e equipe, tanto do Teatro Carlos Gomes como do Fitub, estão em contato com as pessoas afetadas pelo episódio ocorrido e à disposição para auxiliar no que for preciso.”
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