Uma cientista catarinense deixou de dar aulas na universidade para dedicar-se à produção de conteúdo para o TikTok. Isto porque, para Ana Elisa Gonçalves, publicar vídeos na plataforma estava rendendo mais dinheiro do que o salário que ganhava como professora universitária. Atualmente, o canal @alemdafarmacologia tem cerca de 350 mil seguidores, com vídeos que viralizam entre estudantes, profissionais da saúde e população no geral.

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Nascida e criada em Itajaí, Ana Elisa é formada em Farmácia e tem mestrado e doutorado em Ciências Farmacêuticas, além de já ter trabalhado com pesquisa científica. Ela conta que logo após defender a tese de doutorado, começou a lecionar em uma faculdade e, neste meio-tempo, foi incentivada por alunos a publicar as aulas na internet.

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No começo, diz que não conhecia direito o TikTok e tinha até um certo preconceito com a plataforma.

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— Eu achava que eram só dancinhas e memes, aquela coisa. Mas aí eu falei: não, beleza, vou testar”. E deu super certo, mas tão certo, que eu larguei a faculdade agora. Não estou mais dando aula na universidade e estou me dedicando 100% ao digital — destaca.

Ela pontua que há muitos “charlatões” na internet que, para vender um produto ou até mesmo viralizar, acabam passando informações falsas sobre a funcionalidade de medicamentos. Por isso, seu papel na rede social é informar sobre assuntos que estão em alta por meio de vídeos curtos e baseada na ciência.

A cientista está há cerca de um ano e meio na rede social e diz que sua fonte de renda principal, na atualidade, é um curso on-line que vende e funciona como uma espécie de extensão do conteúdo aplicado na universidade.

Mesmo que o TikTok continue sendo rentável financeiramente, Ana Elisa trata a plataforma como uma espécie de vitrine para o curso que oferece, onde se apresenta, mostra o trabalho e cria autoridade no assunto. Se antes tinha de 40 a 50 alunos em sala de aula, agora, tem mais de mil pela internet.

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— Lá eu ensino sobre farmacologia, que é uma disciplina que tem em todas as áreas da saúde e que explica como que os medicamentos funcionam. É algo extremamente essencial e necessário porque, por mais que as pessoas achem que se aprende tudo na faculdade, isso não é tão verdade. Na faculdade eu via o quão era deficitário o conhecimento das pessoas que estavam atuando na saúde. E eu pensei: “bom, eu acho que eu tenho algo para compartilhar aqui de todos esses anos que eu estudei” — relata.

Sem memes nem dancinhas

Ana Elisa conta que, para entrar e se fortalecer na internet, principalmente em uma plataforma voltada para o púbico jovem, precisou adaptar uma linguagem técnica para algo mais didático. A simplificação, no entanto, não está nos termos utilizados, já que continua falando de células, moléculas e neurotransmissores, mas na forma de aplicação do conteúdo: enquanto explica, utiliza uma canetinha para fazer desenhos, exemplificando o mecanismo citado naquele contexto.

O desenho, inclusive, é uma de suas marcas, o que ajuda a transformar um assunto denso em algo fácil de entender. A metodologia, segundo a professora, é um sucesso, já que contempla desde estudantes e especialistas a pessoas leigas no tema.

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— Nunca fiz um meme, uma dancinha, nem nada assim, eu não sou muito criativa pra essas coisas. Então é conteúdo técnico que se torna simples de entender justamente porque estou desenhando. Faço uma linha de raciocínio que a pessoa consegue acompanhar — explica.

— E eu recebo mensagens assim: “Nossa, eu aprendi num vídeo de dois minutos o que não aprendi na faculdade inteira. Às vezes eu até comento: “Quem diria, né, TikTok?”. A pessoa tendo informação pelo tiktok. Isso é bem legal — complementa.

Ela diz que os acessos foram crescendo organicamente e que atinge pessoas de todas as idades e todos os perfis. A cientista menciona que, quando começou, tinha receio de fazer vídeos muito longos e não ser bem aceita pelo público, mas reforça que a plataforma em si criou uma cultura educacional, que hoje vê com bons olhos.

Hub de mulheres na ciência no Tik Tok

Um dos incentivos do TikTok para disseminação de informação, inclusive, foi a criação de um hub de conteúdo exclusivo com criadoras cientistas que promove uma série de lives e eventos. Para além de informar, o intuito é incentivar meninas e mulheres a participarem de atividades de ciências e pesquisa.

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Ana Elisa descreve que o espaço reúne uma seleção de vozes femininas da comunidade científica que criam conteúdo de diversas temáticas: de curiosidades da ciência e dicas profissionais até as dores e prazeres de ser uma mulher cientista no Brasil. Ao ser convidada para fazer parte do grupo, sentiu-se valorizada.

— Eu não imaginava ter essa visibilidade e que uma plataforma como TikTok desse valor pra isso. Eu não imaginava que isso existia. E quando eu vi isso acontecer, pensei: “cara, essa plataforma aqui não é só uma rede social ou uma plataforma de vídeos. Tem um cuidado por trás”. Acho que eles têm um objetivo maior de realmente valorizar e potencializar as mulheres na ciência como criadoras de conteúdo. E isso é muito bom, porque eles também me ajudam conhecer outras mulheres e elas a me conhecerem — diz.

O que antes fazia “sozinha”, agora sente-se amparada pelo grupo. Para ela, além de encorajar outras mulheres que querem migrar para a ciência — já que o ambiente ainda é majoritariamente masculino —, o espaço serve também como uma espécie de rede de apoio.

Quando começou, relata, teve apoio financeiro e emocional da família, mas reconhece que nem todas as realidades são iguais. Com base nos comentários que recebe, acredita que sua história serve de inspiração para muitas meninas e que isso “não tem preço”.

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— Eu sempre falo: vocês não podem se limitar, porque na era que a gente está hoje de internet, o céu não tem limite pra gente. Então, quando eu mostro o que eu tenho feito e o que é possível fazer, eu quebro um muro de limitações que as pessoas têm de só ser professor universitário ou só fazer pesquisa, só ficar no laboratório e às vezes não ser valorizado. Eu abro um leque de possibilidades. E também vejo que compartilhar o meu conhecimento com a sociedade é um dever, uma entrega de tudo que recebi e dos privilégios que tive — salienta.

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