A coragem para mudar e encarar os desafios foi o que construiu os caminhos da professora joinvilense Diana Aparecida Feuser Ribeiro, 36 anos, para chegar à final do Prêmio Professores do Brasil 2017. Ela é a responsável por uma turma de berçário no CEI Castelo Branco, no bairro Aventureiro, onde aplicou o projeto Sali, koman ouye? Entrelaçando as culturas haitianas e brasileiras no processo de adaptação das crianças do Berçário 1, finalista da competição nacional.
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Na tarde de 18 de dezembro, em São Paulo, ela vai participar da cerimônia de premiação concorrendo com outros quatro projetos do País pelo troféu na categoria Educação Infantil Creche. O prêmio é organizado pelo Ministério da Educação para destacar experiências bem sucedidas, criativas e inovadoras desenvolvidas por professores da educação básica pública. Em Santa Catarina, outras três professoras disputam a final do prêmio em outras categorias: Elisangela Marina de Freitas e Silva, de Florianópolis; Caroline Pereira, de Alfredo Wagner; e Josiane Mendes Bezerra, de Bombinhas.
Educadora criou projeto para aproximar culturas
Diana se diz surpresa com toda a repercussão que o trabalho desenvolvido teve por causa dos prêmios estadual e regional conquistados nos últimos meses e que a credenciaram à participação da etapa nacional.
— Ainda não caiu a ficha porque estava dando um passo de cada vez. Estou bem ansiosa, mas já muito feliz pelo projeto ter chegado até aqui. Achei que ele ia ficar na sala de aula aqui do CEI, mas com a motivação de todos inscrevemos no prêmio e estamos na final — conta.
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A pedagora enfrentou várias mudanças e desafios, que a ajudaram a chegar à final do prêmio. A primeira foi há mais de 15 anos, quando começou a sua história junto à educação. Ela trabalhava numa empresa e decidiu estudar pedagogia para unir esse tema com o trabalho que já realizava. No entanto, tudo mudou quando precisou fazer um estágio dentro da sala de aula, no segundo ano da faculdade. A professora se apaixonou por aquele ambiente e decidiu que aquele ali seria o seu futuro. Pediu demissão do emprego no último ano do curso e encarou a mudança de vida após a formatura.
Em 2004, passou no concurso público e começou a trabalhar como professora na prefeitura. Desde então, passou por outras duas unidades infantis antes de iniciar no CEI Castelo Branco, em 2010. No final do ano passado ocorreu uma segunda mudança na vida de Diana. Ela machucou o joelho e precisou parar de lecionar para as crianças de 3 e 4 anos, turmas com as quais sempre trabalhou, porque não podia subir as escadas para chegar às salas de aula. Assim, assumiu a turma de berçário 1, de crianças entre quatro e 10 meses de vida.
— Foi quando eu vi que o período de adaptação das crianças é muito difícil, porque os pais chegavam no primeiro dia de aula, as deixavam com a gente e, em cinco minutos, tínhamos que descobrir como era a rotina desses bebês em casa. Eu sentia os pais muito inseguros porque tinham que trabalhar e deixavam os filhos por obrigação — lembra.
Diante disso, ela teve a ideia de montar um projeto que facilitasse a adaptação das crianças nesse contexto. Como havia surgido a matrícula de uma criança haitiana na sala de aula que também precisaria ser adaptada a uma nova cultura, decidiu criar o projeto que hoje concorre no prêmio nacional.
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O pai do menino haitiano traduziu para a professora algumas palavras que mais seriam usadas dentro da sala para que ela pudesse falar com a criança. Para as demais famílias, que eram em maioria originárias de outras regiões do país, a professora enviou questionários perguntando sobre as culturas destes outros Estados. Assim, foram trabalhados temas relacionados à Paraíba, ao Ceará, ao interior de São Paulo, ao Paraná, ao Rio de Janeiro e ao Haiti.
— É gratificante porque pensávamos que aqui nunca aconteceria nada. E agora serve de motivação, porque aqui e em outros lugares têm trabalhos excelentes. Espero que seja motivador para outros projetos — defende.
Atividades ajudaram na adaptação das crianças
A primeira ação de Diana para facilitar a adaptação foi encher a sala de aula com fotos das famílias, para que os bebês se sentissem em casa. Depois deu início às atividades com os pequenos para apresentá-los às culturas dos pais e mantê-los dentro dos costumes das famílias.
O Haiti deu a largada ao projeto, com fotos de lugares bonitos do país mostradas às crianças. Cangas coloridas enfeitaram a sala e foram colocadas à altura dos alunos para que pudessem tocar. Músicas do carnaval haitiano foram ouvidas e as professoras dançaram com os alunos no colo. Eles também manusearam argila durante as aulas como referência ao biscoito de barro, tradicional na cultural do país da América Central.
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Em seguida, foram apresentados aspectos da Paraíba e outros Estados. A professora fez diversas atividades, como a de uma jangada com bambus, para que as crianças pudessem brincar e manusear os materiais, e também criou brincadeiras com pau de fita e boi de mamão. O projeto começou no final do ano passado e durou até maio deste ano, quando se encerrou o período de adaptação das crianças.
— O resultado foi muito bom. Algumas crianças choraram um pouco mais, mas quando chegávamos com os materiais a gente percebia como o semblante delas mudava — conta.
Diana se diz realizada com o trabalho que está fazendo. Ela diz que se sente lisonjeada ensinando, porque poderia ser qualquer outra professora no lugar dela. No entanto, se diz escolhida para estar na sala de aula durante esse período importante para o bebê , quando tantas coisas ocorrem e a evolução é tão grande:
— É muito bom fazer parte disso. Você chega ao berçário, as crianças já vêm no colo, te dão um abraço e um beijo. E os pais tratam a gente não somente como professor, mas como alguém da família.
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Agora, a professora aguarda ansiosa pela cerimônia de premiação em São Paulo, mas também já pensa no futuro. Segundo ela, o sonho é se aperfeiçoar ainda mais na turma de berçário e continuar dentro da sala de aula, participando do desenvolvimento e do crescimento das crianças.