João Carlos Ferreira de Melo Jr.
Professor titular de botânica da Universidade da Região de Joinville
Registros paleontológicos mostram que as plantas arbóreas vivem sobre o planeta há pelo menos 385 milhões de anos, sendo a espécie Wattieza a mais antiga do mundo e formadora das primeiras florestas em uma escala temporal muito distante de nós. Um tempo remoto em que a espécie humana ou mesmo seu longínquo ancestral Australopithecus ainda estava longe de evoluir e caminhar sobre a Terra.
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Milhões de anos mais tarde, o desenvolvimento das sociedades humanas trouxe em seu arcabouço uma imbricada relação com as plantas, tornando-se as árvores importantes fontes de matéria-prima para seu o desenvolvimento. Se em tempos recuados a madeira servia como combustível para fogueiras, hoje alimenta fornos; se dela se faziam jangadas rudimentares, no período histórico se transformaram em grandes embarcações; se serviram como pequenas tendas, hoje ainda se destinam à construção de casas.
No período colonial brasileiro, o olandi, árvore nativa produtora de uma madeira muito resistente às intempéries, foi decretado pela coroa portuguesa como madeira de lei, o que impedia sua extração ou uso para qualquer outra finalidade que não fosse a de reparar as embarcações reais.
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Ao longo dos séculos, o uso do termo “madeira de lei” perdura entre as gerações de forma equivocada, uma espécie de herança imperial que não mais faz sentido. Sob a ótica da conservação da biodiversidade, muitas espécies de árvores precisam ser protegidas, precisam ter impedida a sua extração, ao passo que seus estoques na natureza caminham para o desaparecimento de maneira independente a um possível uso econômico.
Assim, no atual senso comum, se madeiras de lei são aquelas essências nobres utilizadas para a manufatura de bens de luxo e, por isso, são mais valoradas, qual o destino de outras espécies cuja madeira não apresenta tal empregabilidade?
Estamos em tempo de perceber que, assim como tantos outros recursos naturais, as árvores e suas madeiras são finitas. É imprescindível que a sociedade moderna crie novas condutas socioambientais e que estas culminem em ações efetivas de proteção à flora. Muitas já são as iniciativas que objetivam proteger e conhecer melhor a diversidade de árvores do Brasil. Neste âmbito, destacam-se as xilotecas (coleções de madeiras) que se destinam, entre outras coisas, ao registro da diversidade de espécies lenhosas em caráter local, regional, nacional ou mundial. Temos que ir além. Precisamos construir ações coletivas rumo a uma gestão integrada da natureza.
Se há tempo, criamos uma forte identidade com as árvores (muitas deram nomes a cidades) e delas temos vastas memórias. Precisamos que tantas outras gerações sejam herdeiras desse patrimônio natural.
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