Um aluno universitário, da cidade de Itajaí, não cumpriu uma tarefa sobre o filósofo Karl Marx, e no lugar escreveu ao professor um “manifesto” com seu repúdio ao pensador. Como prêmio pela atitude, o equivocado acadêmico foi catapultado numa rede social, posando arrogantemente como arauto da liberdade, obtendo os seus 15 kilobytes de fama. Faço aqui algumas observações em favor da filosofia e da ciência política, vilipendiadas neste triste episódio.

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O aluno demonstrou desconhecer o socialismo científico e o movimento operário. A partir do pensador Marx, o capitalismo começa a ser compreendido em suas mais antagônicas manifestações. Hoje em dia até o mais conservador dos liberais faz sua crítica a partir de paradigmas marxistas, inclusive para criticar Karl Marx. Os não “adoradores” do capitalismo estudam Adam Smith, e seria um absurdo desconsiderá-lo.

A obsolescência teórica não está em Marx, e sim nos manuais do Consenso de Washington. O pensamento marxista não pode ser culpado por desvios da política e nem pela miséria e pela opressão, que são inseparáveis do capitalismo. Sobre Lênin, o aluno ainda reproduziu um “decálogo” atribuído ao líder, que em verdade são besteiras anônimas copiadas da internet. É inegável que tecnologias de informação otimizam a ciência e a cultura, mas também é notória a facilidade com que oferecem caminhos errantes.

É melhor selecionar “ctrl+c, ctrl+v” do que folhear páginas de livros ou até mesmo lê-los em formato digital. Estudar serve também para nos afastar dos “achismos” do senso comum e nos aproximar do rigor científico. Defendo o debate de opiniões contrárias, acolho o exercício da reflexão crítica e considero a verdade absoluta sempre relativa, mas não admito a desonesta arrogância da preguiça intelectual.

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