Ranjitsinh Disale, professor da Escola Primária Zilla Parishad, Paritewadi, Solapur, Maharashtra, foi anunciado como o vencedor do Global Teacher Prize 2020, nesta quinta-feira (3). O prêmio, considerado o “Nobel da Educação”, é realizado em parceria com a Unesco e foi apresentado pelo comediante, ator, escritor e apresentador Stephen Fry em uma cerimônia virtual transmitida do Museu de História Natural de Londres.

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A professora de educação especial e Língua Portuguesa Doani Emanuela Bertan, da EMEF Julio de Mesquita Filho, Escola Pública Municipal de Campinas, São Paulo, ficou entre os 10 finalistas. Na lista, estão ainda o malaio Samuel Isaiah, o nigeriano Olasunkanmi Opeifa, o britânico Jamie Frost, o italiano Carlo Mazzone, a sul-africana Mokhudu Cynthia Machaba, a americana Leah Juelke e o sul-coreano Yun Jeong-hyun.

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Disale foi selecionado entre mais de 12 mil nomeações e inscrições de mais de 140 países ao redor do mundo. No palco, o indiano surpreendeu a todos e anunciou que vai dividir 50% do prêmio (US$ 500 mil, pouco mais de US$ 55.000 para cada) entre os demais finalistas.

Ao saber da notícia, a professora brasileira expressou sua surpresa e gratidão: 

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— Um gesto tão grande mostra ao mundo como Ranjit é uma pessoa exemplar e altruísta. Não poderia haver melhor exemplo para os professores do que Ranjit. No ano da Covid-19, que trouxe desafios inimagináveis aos professores de todo o mundo, ele é um símbolo brilhante do incrível trabalho que os professores realizam. É por isso que eu e os outros finalistas temos tanto orgulho de chamá-lo de nosso amigo. Obrigada, Ranjit.

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Ao ganhar o Global Teacher Prize 2020, Ranjitsinh Disale disse que a pandemia de Covid-19 expôs a educação e as comunidades que ela atende de diversas maneiras. Mas ressaltou que, neste momento difícil, os professores estão dando o seu melhor para garantir que todos os alunos tenham acesso ao direito a uma boa educação. 

— Os professores são os verdadeiros agentes de mudança que estão transformando a vida de seus alunos com uma mistura de giz e desafios. Eles sempre acreditam em dar e compartilhar. E, portanto, tenho o prazer de anunciar que compartilharei 50% do prêmio em dinheiro igualmente entre meus outros colegas finalistas para apoiar seu incrível trabalho. Acredito que, juntos, podemos mudar esse mundo, porque compartilhar é crescer.

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O professor Ranjitsinh Disale recebeu o prêmio, considerado o
O professor Ranjitsinh Disale recebeu o prêmio, considerado o “Nobel da Educação”, em uma cerimônia virtual transmitida do Museu de História Natural de Londres (Foto: Divulgação, Varkey Foundation)

A história de Ranjitsinh Disale

Quando Ranjitsinh chegou à Escola Primária Zilla Parishad, em 2009, a instituição era um prédio dilapidado, espremido entre um estábulo de gado e um depósito. A maioria das meninas vinha de comunidades tribais, onde a frequência escolar às vezes chegava a 2% e o casamento na adolescência era comum. 

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Para aqueles que conseguiram ir à escola, o currículo não estava em sua língua primária (Kannada), deixando muitos alunos incapacitados de aprender. Ranjitsinh estava determinado a mudar essa situação, mudando-se para a aldeia e fazendo grandes esforços para aprender a língua local. 

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Ranjitsinh, então, não apenas traduziu os livros didáticos da classe para a língua materna de seus alunos, mas também incorporou QR codes exclusivos para dar aos alunos acesso a poemas em áudio, aulas em vídeo, histórias e tarefas. Crucialmente, ao analisar suas reflexões, Ranjitsinh mudaria o conteúdo, as atividades e as atribuições dos livros didáticos disponibilizados via QR code para criar uma experiência de aprendizagem personalizada para cada aluno. 

Além disso, ele atualizou os livros didáticos com QR codes com leitor imersivo e ferramentas Flipgrid para ajudar meninas com necessidades especiais.

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O impacto das intervenções de Ranjitsinh foi extraordinário: já não há casamentos de adolescentes na aldeia e há 100% de frequência de meninas na escola. A instituição também foi premiada recentemente como a melhor do distrito, com 85% de seus alunos obtendo notas máxima em exames anuais. Uma garota da aldeia se formou na universidade, algo visto como um sonho impossível antes da chegada de Ranjitsinh.

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Ranjitsinh então criou nada menos do que uma revolução no uso de livros didáticos com QR codes em toda a Índia. Sua escola foi a primeira no estado de Maharashtra a apresentá-los e, depois de enviar uma proposta e um esquema piloto bem-sucedido, o governo local anunciou, em 2017, que eles introduziriam livros didáticos em QR codes em todo o estado para todas as séries de 1 a 12.

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Após o sucesso dessa empreitada, o Ministério Indiano de HRD (Desenvolvimento de Recursos Humanos) pediu ao Conselho Nacional de Pesquisa e Treinamento em Educação (NCERT) para estudar o impacto dos livros didáticos com QR codes e como isso poderia ser ampliado nacionalmente. Em 2018, o Ministro de HRD Prakash Javdekar anunciou que todos os livros didáticos NCERT teriam QR codes incorporados. 

Além da sala de aula, Ranjitsinh ajuda seus alunos a aplicar o que aprenderam para resolver os problemas do mundo real que estão enfrentando. Com sua escola em um distrito de Maharashtra propenso à seca, a questão da desertificação foi abordada com sucesso, aumentando a área verde de 25% para 33% nos últimos dez anos. Ao todo, 250 hectares de terra ao redor de sua aldeia foram salvos da desertificação, dando à sua escola o prêmio Wipro Nature for Society em 2018.

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Brasileiros entre os “melhores professores do mundo”

A edição 2020 do “Global Teachers Prize” selecionou três brasileiros em seu top 50 final. A professora de educação especial e Língua Portuguesa Doani Emanuela Bertan, da Escola Pública Municipal Professor Ricardo Junco Neto, em São Paulo, e da EMEF Júlio de Mesquita Filho, em Campinas; o professor de História e especialista em educação inclusiva Francisco Celso Freitas, do Centro de Ensino da Unidade de Hospitalização de Santa Maria; e Lília Melo, da Escola Brigadeiro Fontenelle, de Belém.

O prêmio, que está em sua sexta edição, mantém a tradição de ter brasileiros entre os escolhidos. Em 2019, Debora Garofalo, professora de tecnologias de uma escola municipal em São Paulo, e Jayse Ferreira, professor de educação artística em Itambém (PE), ficaram entre os dez finalistas. 

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Já Diego Mahfouz Faria Lima, diretor de uma escola de São José do Rio Preto (SP), esteve entre os dez finalistas na edição 2018. Rubens Ferronato, professor de Curitiba (PR), desenvolveu uma metodologia para ensinar matemática a pessoas cegas e ficou entre os 50 finalistas no mesmo ano. 

Em 2017, Wemerson da Silva Nogueira, professor de química e ciências em Boa Esperança (ES), ficou no top 10, enquanto Valter Pereira de Menezes, professor de uma escola municipal em Santo Antônio do Tracajá, em Parintins (AM), foi top 50. Por fim, Márcio Andrade Batista, professor de ciências em Barra do Garças (MT), ficou entre os 50 finalistas de 2016.

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