Dentro da barraca, Anastácio da Silva Júnior lê Não Há Silêncio que Não Termine, de Ingrid Betancourt. É dia de descanso, e a história da colombiana, contada em 553 páginas, serve de passatempo.

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O alpinista está a 3,3 mil metros de altura, cercado de neve, no Alasca, nos EUA. É o quarto dia de expedição. Restavam outros 14 para a bem-sucedida chegada do catarinense ao topo do Monte McKinley.

A expedição é a mais difícil enfrentada pelo engenheiro mecânico, professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC) e morador de Florianópolis. Há 12 anos, Anastácio apaixonou-se pela aventura de alcançar por terra grandes altitudes. E, no dia 30 de maio, partiu do Brasil para seu maior desafio até agora.

O monte com 6.194 metros é o mais alto da América do Norte. As condições climáticas instáveis e pouco previsíveis dificultam a caminhada e facilitam desistências. Anastácio considera a escalada uma prévia para qualquer alpinista que tenha a intenção de chegar ao Everest, o maior pico do mundo, com 8.844 metros de altitude.

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Confira as imagens de Anastácio e a aventura no Alasca

A última parada da viagem antes da expedição ao McKinley – que durou 33 dias – é a pequena Vila de Talkeetna, no Alasca. Na chegada dos alpinistas, um painel revela as possibilidades de chegar ao cume. Dos 1.197, apenas 42% haviam conseguido alcançar o topo no dia que Anastácio deixara Talkeetna de avião até o ponto zero antes da caminhada: o Glaciar Kahiltna, a 2,2 mil metros de altitude. Foram 50 minutos de voo.

O engenheiro mecânico parte para a aventura acompanhado de dois alpinistas com quem trocou e-mails e só conheceu pessoalmente durante a expedição: o cearense Rosier Alexandre e a paulista Ana Carolina Chieregati. Eles são os únicos brasileiros naquela temporada. Com bolhas de sangue nos pés, Ana Carolina desiste na primeira etapa da viagem. Anastácio e Rosier seguem sozinhos. Cada um leva cerca de 45 quilos de equipamento, incluindo botas e casacos. PPPP

Assista o vídeo com imagens da aventura no Alasca

Bom tempo não alivia a tensão

No trecho mais complicado, a atenção é primordial. Íngremes, as arestas a 5,2 mil metros de altitude permitem que o alpinista dê passos em um espaço estreito da largura de um dos pés. Nessa hora, vencer o cansaço para garantir a concentração é o principal desafio. Anastácio tem sorte e o dia é de sol, sem vento. Não há avalanches, o que não reduz a tensão. O tempo pode virar a qualquer momento. Dois dias antes dos brasileiros alcançarem o topo do McKinley, quatro japoneses desapareceram em uma fenda de 18 metros de profundidade escondida na neve.

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Anastácio e Rosier chegam ao cume às 17h54min de 19 de junho, após 15 dias de viagem. O catarinense registra o momento com a bandeira do Avaí, time do coração – uma imagem parecida fotografada em 1999 no Aconcágua, na Argentina, rendeu uma homenagem do clube ao alpinista.

Os dois alpinistas passam 30 minutos a 6.194 metros de altitude antes da descida. Anastácio só considera a expedição encerrada quando chega a Talkeetna. Agora, o painel marca que apenas 40% dos aventureiros chegaram ao destino.

Nas imagens da viagem, Anastácio registra a solidariedade dos aventureiros. No oitavo dia na montanha, ele e o amigo ficaram sem comida, em plena nevasca, mas foram socorridos por um grupo. A cerveja que comemorou o sucesso na jornada também foi compartilhada.

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– Há pessoas de todas as nacionalidades que se ajudam. Se está com frio, há quem ofereça abrigo; com fome, tem quem divide a comida. Fiz amizades verdadeiras para a vida toda.