O professor Odair Prado da Silva foi a primeira pessoa a morrer por causa do novo coronavírus a ser registrada em Itapoá. Ele faleceu na tarde de 11 de junho, mas o teste para Covid-19 ficou pronto apenas na noite de domingo (14) e entrou no sistema da Secretaria do Estado de Saúde nesta terça-feira (16).

Continua depois da publicidade

Odair tinha 61 anos. Ele morava em Itapoá desde que havia se aposentado, em 2014. Apesar de natural de Guaratuba (PR), foi na cidade do Litoral Norte de Santa Catarina que ele cresceu e aprendeu a amar a educação. Filho de um inspetor escolar, muito cedo ele soube que este também seria seu caminho.

— Todos os filhos do meu avô foram trabalhar cedo para pagar a faculdade. Meu pai trabalhou em posto de gasolina, pintou casas, tudo para poder estudar e se formar — relata a filha dele, Emanuelle Prado. 

Odair tornou-se professor de matemática e atuou em Joinville como servidor público durante 33 anos, depois de um breve período como professor da rede estadual. Deu aulas nas escolas Laura Andrade, no Jardim Iririú, e Padre Valente Simioni, no Iririú. Foi dos ex-alunos que vieram as coroas de flores em formato de boas lembranças e gratidão, já que a família não pode oferecer um velório.

— Recebemos uma chuva de mensagens e isso nos ajudou a passar por este período. Muitos alunos que seguiram carreira nas exatas, por exemplo, contaram como foram incentivados por ele. Era um professor muito rígido, do “jeito antigo” que era comum nos anos 1980 e 1990 — conta Emanuelle.

Continua depois da publicidade

A educação também foi o legado transmitido aos três filhos, que seguiram carreira como professores, não só pelo exemplo em sala de aula, mas na luta pelos direitos dos professores e na busca por melhores condições de ensino nas escolas de Joinville. Odair era engajado no movimento sindical, mesmo quando dedicava 70 horas semanais para as escolas onde lecionava. 

— Ele acreditava muito na educação — conta a filha.

Estado grave em poucos dias 

Odair fazia parte do grupo de risco por já ter passado dos 60 anos e por ser diabético. A doença fazia com que ele tivesse problemas de circulação de sangue nas pernas e, por isso, passava por cirurgias com frequência. Não era, no entanto, uma patologia que atrapalhava sua rotina de aposentado na cidade que amava nem que poderia tirá-lo do convívio familiar tão cedo.

A última cirurgia nas pernas ocorreu em 13 de maio, no Hospital Regional Hans Dieter Schmitd. Permaneceu dez dias internado, tendo o filho como acompanhante. Dois dias depois de retornar para casa, ambos começaram a apresentar sintomas gripais.

— Nós esperamos para procurar um médico, porque essa é a orientação geral. Podia ser apenas uma gripe mesmo. Mas, no dia 30, ele começou a ter febre à noite — recorda Emanuelle.

Continua depois da publicidade

Como a febre não passava, Odair foi convencido pelos filhos a ir à uma unidade de saúde. Imediatamente, foram orientados a irem para o P.A. Norte pelo médico que realizou a consulta. Lá, informaram que a suspeita era de coronavírus, mas que não havia testes disponíveis. A filha retornou com ele para casa com dois medicamentos para um tratamento de cinco dias mas, terminado este período, o professor aposentado continuava enfraquecido.

— Fomos para o Hospital São José e ele foi internado com quadro grave. Na noite seguinte, ele nos mandou mensagem que estava com medo porque estava na UTI do coronavírus. Durante a madrugada, nos ligaram para informar que ele teve cinco paradas cardiorrespiratótias e não resistiu — conta a filha.

O resultado do teste para coronavírus chegou três dias depois da morte de Odair. Mesmo assim, os familiares mantiveram o isolamento social desde o começo. Enquanto se recupera da perda do pai, Emanuelle defende estes cuidados para todos.

— Fiquei muito sentida por perder meu pai assim porque desde o início fui uma defensora do isolamento social. É uma pandemia e é muito sério. Meu pai tinha problemas de saúde, mas era muito novo para morrer. Ele ainda podia estar aqui — lamenta.

Continua depois da publicidade